O Dia da Morte; pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
Morte (do latim mors), óbito (do
latim obitu), falecimento (falecer+mento), passamento (passar+mento),
ou ainda desencarne (deixar a carne), são sinônimos
usados para se referir ao processo irreversível de cessamento das atividades
biológicas necessárias à caracterização emanutenção da vida em um sistema outrora classificado como vivo. Após o processo de
morte o sistema não mais vive; e encontra-se morto. Os processos que seguem-se
à morte (pós-mortem) geralmente são os que levam à decomposição do
sistema. Sob condições ambientais específicas, processos distintos podem
segui-la, a exemplo aqueles que levam à mumificação natural ou a fossilização de
organismos.
A
morte faz-se notória e ganha destaque especial ao ocorrer em seres humanos. Não
há nenhuma evidência científica de que a consciência continue após a morte, no
entanto existem várias crenças em diversas culturas e tempos históricos que
acreditam em vida após a morte.
Com
notórias consequências culturais e suscitando interesse recorrente na Filosofia, existem diversas concepções sobre o destino da
consciência após a morte, como as crenças na ressurreição (religiões abraâmicas), na reencarnação (religiões orientais, Doutrina Espírita, etc) ou mesmo o eternal oblivion ("esquecimento
eterno"), conceito esse o comum na neuropsicologia e
atrelado à ideia de fim permanente da consciência após a morte.
As
cerimônias de luto e
práticas funerárias são
variadas. Os restos mortais de uma pessoa, comumente chamado de cadáver ou corpo,
são geralmente enterrados ou cremados. A forma de disposição mortuária pode
contudo variar significativamente de cultura para cultura.
Entre
os fenômenos que
induzem a morte, os mais comuns são: envelhecimento biológico (senescência), predação, má-nutrição, doenças,suicídio, assassinato, acidentes e acontecimentos que causam traumatismo físico irrecuperável.
Biologicamente, a morte pode ocorrer para todo o organismo ou apenas para parte dele. É possível
para células individuais,
ou mesmo órgãos,
morrerem e ainda assim o organismo continuar a viver. Muitas células individuais vivem por apenas
pouco tempo e a maior parte das células de um organismo são continuamente
substituídas por novas células.
A
substituição de células, através da divisão celular,
é definida pelo tamanho dos telômeros e
ao fim de um certo número de divisões, cessa. Ao final deste ciclo de renovação
celular, não há mais replicação, e o organismo terá de funcionar com cada vez
menos células. Isso influenciará o desempenho dos órgãos num processo
degenerativo até o ponto em que não haverá mais condições de propagação de
sinais químicos para o funcionamento das funções vitais do organismo;
implicando a chamada morte natural, por velhice.
Também
é possível que um animal continue
vivo, mas sem sinal de atividade cerebral (morte cerebral);
nestas condições, tecidos e
órgãos vivem e podem ser usados para transplantes.
Porém, neste caso, os tecidos sobreviventes precisam ser removidos e
transplantados rapidamente ou morrerão também. Em raros casos, algumas células
podem sobreviver, como no caso de Henrietta Lacks,
da qual células cancerígenas foram retiradas do seu corpo por um cientista, continuando a multiplicar-se indefinidamente.
A irreversibilidade é normalmente citada como um atributo da morte. Cientificamente, é impossível
trazer de novo à vida um organismo morto, e se um organismo vive, é porque
ainda não morreu anteriormente. Contudo existem casos que no mínimo chamam
bastante a atenção e suscitam questionamentos quanto às definições de vida e morte. Um deles cerca um grupo de
animais invertebrados denominados Rotiferas, que possuem uma capacidade denominada criptobiose,
que consiste no "cessar" metabólico quando as condições ambientais
não estão favoráveis. Eles podem manter-se assim por meses ou mesmo anos até
que as condições se restabelecerem, e então "religarem" seus
processos biológicos, retomando a sua vida normalmente. Se o conceito de morte
for estendido a tais paralisações metabólicas, esses animais literalmente
morrem e depois renascem. Igualmente, ovos de camarões (Shrimp Hatchery) desidratados são
incluídos em quites de microscopia para laboratório didáticos, e assim podem
permanecer por mais de cinco anos. Quando imersos em salmoura adequada, hidratam-se, desenvolvem-se
plenamente e geram, em poucas semanas, camarões crescidos, implicando um
literal processo de ressurreição de tais ovos. O caso limite é o do vírus, que
até hoje permanece cientificamente exatamente sobre a fronteira que separa os
seres vivos dos não vivos, e por tal traz muito trabalho aos taxonomistas.
Muitas
pessoas não acreditam que a morte física é sempre e necessariamente
irreversível, enquanto outras acreditam em ressurreição do espírito ou do corpo e outras ainda, têm esperança que futuros
avanços científicos e tecnológicos possam trazê-las de volta à vida, utilizando
técnicas ainda embrionárias, tais como a criogenia ou outros meios de ressuscitação ainda por
descobrir.
Alguns
biólogos acreditam que a função da morte é primariamente permitir a evolução.
O triunfo da morte,
de Pieter Brueghel o Velho, (1562).
Historicamente,
tentativas de definir o momento exato da morte foram problemáticas. A
identificação do momento exato da morte é importante, entre outros casos,
no transplante de
órgãos, porque tais órgãos precisam de ser transplantados, cirurgicamente, o
mais rápido possível.
Morte
já foi anteriormente definida como parada cardíaca e respiratória mas, com o desenvolvimento da ressuscitação
cardiopulmonar e da desfibrilação, surgiu um dilema: ou a definição de morte estava errada, ou técnicas que
realmente ressuscitavam uma pessoa foram descobertas: em vários e vários casos,
respiração e pulso cardíaco são realmente restabelecidos após cessarem. Em
vista da nova tecnologia, atualmente a definição médica de morte é conhecida como morte
clínica, morte cerebral ou parada cardíaca
irreversível.
A
morte cerebral é definida pela cessão de atividade eléctrica no cérebro, mas
mesmo aqui há correntes divergentes. Há aqueles que mantêm que apenas a
atividade eléctrica do neo-córtex deve ser considerada a fim de se definir a
morte. Por padrão, é usada contudo uma definição mais conservadora de morte: a
interrupção da atividade elétrica no cérebro como um todo, incluso e sobretudo
no tronco encefálico - responsável entre outros pelo controle de atividades
vitais essenciais como batimentos cardíacos e respiração - e não apenas no
neo-córtex, diretamente associado à consciência. Essa definição - a de morte
cerebral - é a adotada, por exemplo, na "Definição Uniforme de Morte"
nos Estados Unidos.
Lápides em um cemitério.
Mesmo
frente a uma definição precisa de morte, a determinação da mesma ainda traz
suas peculiaridades, e pode ser difícil. A exemplo, EEGs podem detectar pequenos impulsos elétricos
onde nenhum existe, enquanto houve casos onde atividade cerebral em um dado
cérebro mostrou-se baixa demais para que EEGs os detectassem. Por causa disso,
vários hospitais possuem elaborados protocolos determinando morte envolvendo
EEGs em intervalos separados, e não raro mediante os pareceres autônomos de no
mínimo dois médicos.
A história médica contém muitas referências a pessoas que foram declaradas mortas
por médicos, e durante os procedimentos para embalsamento eram encontradas
vivas. Histórias de pessoas enterradas vivas levaram um inventor no começo
do século XX a
desenhar um sistema de alarme que poderia ser ativado dentro do caixão.
Por
causa das dificuldades na definição de morte, na maioria dos protocolos de
emergência, mais de uma confirmação de morte, tipicamente fornecida por médicos
diferentes, é necessária. Alguns protocolos de treinamento, por exemplo,
afirmam que uma pessoa não deve ser considerada morta a não ser que indicações
óbvias que a morte ocorreu existam, como decapitação ou
dano extremo ao corpo. Face a qualquer possibilidade de vida, e na ausência de
uma ordem de não-ressuscitação, equipes de emergência devem proceder ao transporte
o mais imediato possível até ao hospital, para que o paciente possa ser
examinado por um médico. Isso leva à situação comum de um paciente ser dado
como morto à chegada do hospital.
"Tudo é vaidade". Uma ilusão de óptica
criada por Charles Allan Gilbert, criticando o apego material da vida mundana.
A
questão de o que acontece, especialmente com os humanos, durante e após a
morte, ou o que acontece "uma vez morto", se pensarmos na morte como
um estado permanente, é uma interrogação frequente, literalmente uma questão
latente na psique humana. Tais questões vêm de longa data, e a crença
numa vida após a morte com uma posterior reencarnação ou
mesmo a passagem para outros mundos embora muito antigas, são ainda muito
difundidas socialmente (veja submundo). Para muitos, a crença e informações sobre a
vida após a morte resultam de uma mera busca por consolação ou mesmo de uma
covardia em relação à morte de um ser amado ou à prospecção da inevitabilidade
de sua própria morte. A crença em vida após a morte pode para esses trazer
algum consolo, contudo crenças como o medo do Inferno ou de outras consequências negativas podem
tornar a morte algo muito mais temido. A contemplação humana da morte é uma
motivação importante para o desenvolvimento de sistemas de crenças e religiões organizadas.
Por essa razão, palavra passamento quando dita por um espírita,
significa a morte do corpo. A passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Apesar
desse ser conceito comum a muitas crenças, ela normalmente segue padrões diferentes de
definição de acordo com cada filosofia. Várias religiões creem que após a morte
o ser vivo ficaria
junto do seu criador, para os cristãos, Deus.
Muitos antropólogos sentem
que os enterros fúnebres atribuídos ao Homem de
Neanderthal / Homo
neanderthalensis,
onde corpos ornamentados estão em covas cuidadosamente escavadas, decoradas com
flores e outros motivos simbólicos, é evidência de antiga crença na vida após a
morte.
Do
ponto de vista científico, não se confirma a idéia de uma vida após a morte.
Embora grande parte da comunidade científica sustente que isso não é um assunto
que caiba à ciência resolver, e que cientificamente não há evidências que corroborem
a existência de espíritos ou algo com função similar que sobreviva após a
morte, muitos pesquisadores tentaram e ainda tentam entrar nesse campo
estudando por exemplo as chamadas "experiências
de quase-morte". Para eles, o conceito
de "vida" se associa ao de "consciência",
contudo consciência não atrela-se à matéria conhecida12 11 .
Ao
fim, consideram-se em essência três hipóteses:
·
A
consciência existe unicamente como resultado de correlações materiais. Essa
hipótese é a que encontra corroboração científica atualmente, e se for
verdadeira, a vida cessa de existir no momento da morte.
·
A
consciência não tem origem física e sim transcendente à matéria, usando o corpo
físico apenas como instrumento para se expressar. Se esta hipótese for
verdadeira, certamente há uma existência de consciência após a morte e não
obstante também antes da vida física, o que leva diretamente às tentativas de validação
da reencarnação. É a adotada na Doutrina Espírita; sendo igualmente utilizada por várias outras doutrinas espiritualistas para
validar os acontecimentos por eles presenciados e assumidos como
transcendentais; bem como para explicarem-se os êxtases em cultos de neopaganismo.
·
A
consciência tem uma origem física e encontra-se atrelada ao cérebro, mas há uma
distinção entre os estados físicos da matéria (da massa encefálica) e os
pensamentos que deles derivam. Nessa linha de pensamento há alguns que vão
adiante e alegam que a consciência atrela-se a algum tipo de matéria imponderável que,
embora relacionada àmatéria ordinária, não se decompõe como a primeira quando da morte. A hipótese também é,
neste caso, compatível com a reencarnação e com a filosofia das doutrinas
espiritualistas (ver perispírito).
Iconografia da representação da Morte
A
morte como uma entidade sensível é um conceito que existe em muitas sociedades
desde o início da história. A morte também é representada por uma figuramitológica em
várias culturas. Na iconografia ocidental ela é usualmente representada como uma
figura esquelética vestida de manta negra com capuz e portando uma foice/gadanha. É representada nas cartas do Tarot e frequentemente ilustrada na literatura e
nas artes.
A
associação da imagem com o ceifador está relacionada ao trigo, que na Bíblia
simboliza a vida. Em inglês, é geralmente dado à morte o nome de "Grim
Reaper". Também é dado o nome de Anjo da Morte (em hebraico: מַלְאַךְ הַמָּוֶת Malach HaMavet),
decorrente da Bíblia.
A
morte também é uma figura mitológica que tem existido na mitologia e na cultura
popular desde o surgimento dos contadores de histórias. Na mitologia grega,Tânato seria
a divindade que personificava a morte, e Hades, o deus do mundo da morte.
O ceifador também
aparece nas cartas de tarô e em vários trabalhos televisivos e
cinematográficos. Uma das formas dessa personificação é um grande personagem da
série Discworld de Terry Pratchett,
com grande parte dos romances centrando-se nela como personagem principal.
Em
alguns casos, essa personificação da morte é realmente capaz de causar a morte
da vítima, gerando histórias de que ela pode ser subornada, enganada, ou
iludida, a fim de manter uma vida. Outras crenças consideram que o espectro da
morte é apenas um psicopompo e
serve para cortar os laços antigos entre a alma e o corpo e para orientar o
falecido ao outro mundo sem ter qualquer controle sobre o fato da morte da
vítima.
Santa Muerte: uma personificação da morte segundo a cultura popular mexicana.
Morte
em muitas línguas é personificada na forma masculina (como no inglês), enquanto
em outros ela é percebida como uma personagem feminina (por exemplo, em línguas
eslavas e latinas). A série supernatural apresentou
uma visão nova da morte, onde um dos cavaleiros
do apocalipse, juntamente com a morte em
sua personificação humana, discutem com o personagem principal sobre sua
origem. Durante o diálogo ela afirma ser mais velha do que Deus, e que também
acima dos céus e da terra, além de também existir em outros planetas, ela leva
a vida para o abismo há muito tempo.
Os
mexicanos personificam a morte na figura da Santa Muerte,
uma deusa resultante do sincretismo entre as mitologias católica e
mesoamericanas.
As Ordenações Filipinas - conjunto de leis que servia de base para o direito português na
época do Brasil Colônia, previa a "morte natural" em duas versões: "natural
cruel" e "natural atroz". Na "morte cruel", o corpo do
condenado era objeto de vingança e, por isso, devia ser torturado vivo. A
finalidade era prolongar o sofrimento da vítima.
No
caso da condenação por "morte natural atroz", a vítima teria ainda
seus bens confiscados e a família seria atingida até a geração dos netos. Essa
punição era considerada mais branda que a da "morte natural cruel" e
o condenado podia ser esquartejado depois de morto. Em ambos os casos era
ressaltado o "caráter pedagógico" da degradação do cadáver. Era a
"pedagogia do domínio" pelo medo, "aprendida" por todos que
presenciavam o "espetáculo".15
Exemplo
conhecido de sentenciado com a "morte natural cruel" é a de um
dos inconfidentes. A essa pena Tiradentes foi condenado em 1792.
No
final do século XVIII, o direito português previa a "morte natural para
sempre": proibia o sepultamento do cadáver, que teria as partes do corpo
expostas até a decomposição completa.
A morte de Abel,
interpretação dohomicídio descrito
na Bíblia por Gustave
Doré.
Como
Oscar Wilde escreveu tão elegantemente: "(...) Morte é o fim da vida, e
toda a gente teme isso, só a Morte é temida pela Vida, e as duas reflectem-se
em cada uma (...)"
"(...)
desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (...)" (Filipenses 2:12) A
visão da Bíblia sobre a Morte.
A
morte é considerada através de várias perspectivas na literatura de todo o
mundo. Encaramos a morte, lidamos com o falecimento de entes queridos e
desconhecidos, discutimos o seu significado religioso, filosófico, social, e
tudo o mais em documentos escritos que podem imbuir-se de mero valor artístico
até valor dogmático e mesmo legal.
Muitos
autores usaram-na como via para expressar o que há depois da vida, sob a
perspectiva de várias teorias. As três mais divulgadas e preponderantes são:
·
A
teoria da "Extinção Absoluta" permanente da vida ao ocorrer a morte
física, ou teoria Materialista (monista);
·
A
teoria do "Céu e Inferno" numa vida eterna para além da física e determinada
pela conduta na vida física, ou teoria Teológica
·
A
teoria da reencarnação através de renascimentos sucessivos em corpos físicos e
com diferentes experiências de vida para alcançar a expansão de consciência e
perfeição espiritual, ou teoria do Renascimento (dualista).
A
morte, no ramo das ciências, é estudada pela tanatologia.
Nesse sentido são estudados causas, circunstâncias, fenômenos e repercussões
jurídico-sociais, sendo amplamente utilizados na medicina legal.
No Brasil o
diagnóstico da morte é regido pela resolução 1.480/97 do Conselho Federal de
Medicina. A morte também é estudada em outros ramos da ciência, notadamente os
relacionados a tratar doenças e traumatismos evitando que elas ocorram. No
mesmo sentido uma das estatísticas mundialmente utilizadas para ações
governamentais de prevenção são as taxas de
mortalidade. Alguns estudos da ciência
abordam as experiências
de quase morte no sentido de entender
os fenômenos correlacionados na quase morte.
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