Fernando Alcoforado*
A
partir do governo Fernando Collor, em 1990, foi introduzido o modelo neoliberal
no
Brasil
com base no Consenso de Washington para facilitar o ingresso de capitais
externos considerados indispensáveis devido à insuficiência da poupança interna
para financiar os investimentos dando início ao
desmonte do aparato
institucional montado no País de 1930 a 1988. É levando em conta esse contexto
é que se deve interpretar a política de abertura do mercado brasileiro ao
capital estrangeiro adotada pelos governos Fernando Collor, Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso de 1990 a 2002 e mantida pelos governos Lula e Dilma
Rousseff de 2002 até o presente momento. Esta afirmativa é corroborada pelos indicadores
relativos ao investimento estrangeiro direto no Brasil, à participação do
capital estrangeiro na indústria brasileira, à remessa de lucros para o
exterior e à dívida pública interna e externa que têm apresentado números
crescentes em detrimento dos interesses da
nação
brasileira.
Segundo
dados do Banco Central, durante o governo FHC, de 1995 a 1999, o
investimento
estrangeiro direto no Brasil triplicou evoluindo de U$ 10 bilhões para US$
32
bilhões. Com a crise econômica que se instalou no Brasil no segundo governo de
FHC
(1999 a 2002), os capitais externos caíram de U$ 32 bilhões para U$ 15 bilhões.
Durante
o governo Lula de 2002 a 2010, o investimento estrangeiro direto cresceu 4,6
vezes
evoluindo de US$ 15 bilhões para US$ 70 bilhões. Esta situação mostra que o
Brasil
se tornou crescentemente dependente de capitais externos de 1995 a 2010. De
acordo
com a CVM, a evolução de 2002 (US$ 12 bilhões) a 2006 (US$ 83 bilhões) do
total
de capitais estrangeiros em ações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo)
demonstra
a crescente expansão do capital estrangeiro na economia brasileira.
A
participação do capital estrangeiro no total da indústria brasileira era de 36%
em 1991 e alcançou 53,5% em 1999 e, na indústria de ponta, o capital
estrangeiro evoluiu de 60,3% em 1991 para 86,9% em 1999 ficando evidenciada a
dominação do capital
estrangeiro
sobre a indústria brasileira, sobretudo nas indústrias tecnologicamente
avançadas.
Um dos indicadores do grau de dependência do Brasil frente ao sistema
financeiro
internacional é o crescimento das remessas de lucros para o exterior
comprovando
o quanto é grande o domínio dos monopólios internacionais sobre a
economia
nacional. Segundo dados do Banco Central, de 2003 a 2011, a remessa de
lucros
das empresas estrangeiras em operação no Brasil para o exterior cresceu 6,16
vezes
evoluindo de US$ 6 bilhões em 2003 para US$ 37 bilhões em 2011.
A
desnacionalização da economia brasileira é ainda evidenciada quando se observa
que das 50 maiores empresas brasileiras, 26 são estrangeiras, segundo o Censo
do Capital Estrangeiro no Brasil. Mais da metade das empresas brasileiras de
setores de ponta (automobilístico, aeronáutica, eletroeletrônico, informática,
farmacêutico,
telecomunicações,
agronegócio e minérios) estão nas mãos do capital estrangeiro. O
capital
estrangeiro está presente em 17.605 empresas brasileiras que respondem por
63%
do Produto Interno Bruto (PIB), e tem o controle de 36% do setor bancário e
possui
25% das ações do Bradesco e 20% das ações do Banco do Brasil.
Até
mesmo a Petrobras, devido à lei 9478 de 1997, que quebrou o monopólio estatal
do petróleo, tem hoje 52% de seu capital sob o controle privado, e 35% desse
capital é
estrangeiro.
Recentemente, para aumentar a participação do capital estrangeiro no país, o
governo federal enviou para a aprovação do Congresso Nacional no dia 20 de
abril passado uma medida provisória (MP) que permite o aumento dos atuais 20%
para até 49% de capital estrangeiro nas empresas aéreas brasileiras, além de
decidir privatizar os aeroportos e os portos até o final do ano.
Um
dos fatores determinantes da dependência econômica e financeira do Brasil em
relação
ao exterior resulta do crescimento exponencial das dívidas interna e externa
que já superam no governo Dilma Rousseff mais de 2,5 trilhões de reais. Esta
situação está contribuindo para haver a destinação sempre crescente de recursos
do orçamento para o pagamento dos juros e amortizações da dívida pública
interna e externa. A destinação dos recursos do orçamento da União estabelecido
para 2013 para o pagamento de juros e amortizações da
dívida correspondeu a 43,98% do orçamento, sendo amplamente superior aos
valores destinados à cobertura dos gastos com a previdência social que correspondeu
a 22,47% do orçamento e com transferências a Estados e Municípios que correspondeu
a 10,21% do orçamento.
O
comprometimento de quase metade do orçamento da União com o pagamento do
serviço
da dívida pública é a principal causa da falta de recursos do governo
brasileiro
em
todos os seus níveis para investir em educação, saúde, infraestrutura, etc. e a
justificativa
de todos os governos do País desde 1990 até o momento para privatizar a
economia
e sucumbir aos ditames do capital nacional e internacional sob o pretexto de
não
haver recursos para investimento. Se for mantida
a tendência de destinar mais
recursos
para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, haverá cada vez
menos
recursos disponíveis pelo governo (federal, estaduais e municipais) para
investir
na
infraestrutura econômica e social do País.
Para
o governo brasileiro dispor de recursos para investimento em infraestrutura
econômica
e social, terá de renegociar com os bancos nacionais e estrangeiros (credores de
55% da dívida pública), fundos de investimento (credores de 21% da dívida
pública), fundos de pensão (credores de 16% da dívida pública) e empresas não
financeiras (credores de 8% da dívida pública) a redução dos gastos com o
pagamento do serviço da dívida alongando o prazo de pagamento dos juros e
amortizações da dívida pública.
Devido
à insuficiência de recursos financeiros, o governo federal, Estados e
Municípios
enfrentarão
grave crise financeira nos próximos anos em que muitos deles serão levados à
falência. Esta lamentável situação criada pelo governo federal de 1994 até o
presente momento só será modificada quando houver no comando da nação
governantes que adotem uma política econômica que seja a antítese da política
neoliberal e antinacional posta em prática pelo atual governo.
*Fernando Alcoforado, 74, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo,
1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese
de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador,
2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The
Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010).
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