O mais perverso inquisidor
Tomás
de Torquemada (Valladolid, 1420 — Ávila, 16 de setembro de 1498) ou o O Grande Inquisidor foi
o inquisidor-geral dos reinos de Castela e Aragão no
século XV e confessor da rainha Isabel
a Católica. Ele foi descrito pelo cronista espanhol Sebastián de Olmedo como
"O martelo dos hereges, a luz de
Espanha, o salvador do seu país, a honra do seu fim". Torquemada é
conhecido por sua campanha contra os judeus e muçulmanos convertidos da
Espanha. O número de autos-de-fé durante
o mandato de Torquemada como inquisidor é muito controverso, mas o número mais
aceito é normalmente 2 200.
Ainda
jovem, tornou-se frade dominicano no
Convento de São Paulo em sua cidade natal. Em 1452 foi eleito prior do Convento
de Santa Cruz, em Segóvia. Era sobrinho do cardeal Juan de Torquemada, igualmente dominicano.
Na
segunda metade do século XV,
a Península Ibérica tinha mais judeus convertidos do que qualquer outra região do
mundo. Ocupada durante séculos pelos muçulmanos, que concediam aos judeus e
cristãos liberdade de culto a troco de um imposto especial, a Península Ibérica
tornou-se um refúgio ideal e palco de uma intensa troca civilizatória entre
elementos das culturas cristã, muçulmana e judaica. Entre os frutos desse
intercâmbio, destaca-se a Astrologia, quase desaparecida da Europa durante alguns
séculos e que retorna ao continente exatamente pela via do contato com o mundo
islâmico, na região do Mediterrâneo.
Com
a progressiva unificação da Espanha (resultado da união dos reinos de Leão e
Castela e, mais tarde, destes com Aragão) os muçulmanos e os judeus foram aos
poucos "empurrados" para o sul, obrigados a migrar para o Marrocos ou a fazer uma conversão forçada ao cristianismo,
porém, tal conversão era sempre vista com desconfiança, já que na maioria dos
casos estas pessoas continuavam em segredo a praticar seus antigos cultos.
Com
o casamento de Fernando de Aragão com Isabel de Castela, os dois reinos uniram-se e a Espanha moderna começou a formar-se.
Torquemada era frade nessa época (1478) dominicano e
confessor de Isabel, função que exercia desde 1474. Em 1483 por nomeação do papa Sixto IV,
Torquemada torna-se inquisidor-geral espanhol.
Torquemada difundia que os judeus não eram
confiáveis e que o país "precisava" possuir apenas sangre
limpia, ou seja, sangue puramente
cristão. O objetivo da Inquisição era a erradicação da heresia, o que, para Torquemada, era sinônimo de
eliminação dos marranos. Para estimular as delações, a Inquisição chegou a
publicar um conjunto de orientações que ensinava os católicos a vigiar os seus
vizinhos e a reconhecer possíveis traços de judaísmo:
"Se observar que os seus vizinhos vestem
roupas limpas e coloridas no sábado, eles são judeus.
Se
eles limpam as suas casas às sextas-feiras e acendem velas mais cedo do que o
normal naquela noite, eles são judeus.
Se
eles comem pão ázimo e iniciam a sua refeição com aipo e alface durante a
Semana Santa, eles são judeus.
Se eles recitam as suas preces diante de um
muro, inclinando-se para frente e para trás, eles são judeus."
A
pena mais leve imposta aos marranos era o confisco dos seus bens. Os reis católicos,
Isabel e Fernando, precisavam de receitas, e a perseguição movida aos hereges
por Torquemada era uma fonte de renda que interessava ao Estado. Isabel e Fernando
auto-intitulavam-se" protetores da Igreja e defensores da fé". O mais
comum era serem obrigados a desfilar pelas ruas vestidos apenas com um
"sambenito" - traje que definia sua condição de hereges - e
flagelados à porta da igreja. A etapa seguinte era a morte na fogueira, durante
os chamados autos-de-fé,
após inomináveis torturas. Homossexuais estiveram entre muitas dessas vítimas.
Torquemada,
no afã de obter dos reis católicos a expulsão definitiva de todos os judeus,
promoveu em 1490 um julgamento-espetáculo, onde as vítimas foram oito
judeus acusados de praticar rituais satânicos de crucificação de crianças
cristãs. Pressionados pelo clima de crescente intolerância, em 31 de Março de
1492 Fernando e Isabel publicaram seu Edito de
Expulsão: "Decidimos ordenar a
todos os ditos judeus, homens e mulheres, que deixem nossos reinos e jamais
retornem a eles." Foi concedido aos judeus que permanecessem até julho na
Espanha. A partir daí, os que fossem encontrados seriam mortos. Muitos fugiram
para Portugal ou Norte da África, onde enfrentaram mais perseguições; alguns,
sem alternativa, permaneceram na Espanha como "judeus ocultos". A
ação intolerante de Torquemada trouxe-lhe resistências, as quais chegaram ao
Papa Alexandre VI, tendo este, por Breve de 23 de Junho de 1494, nomeado quatro
adjuntos com iguais poderes, visando limitar a ação de Torquemada. Em 1484 redigiu
uma Instrução, opúsculo que propunha normas e procedimentos para os
processos inquisitoriais, inspirando-se em trâmites já usuais na Idade Média.
Foi publicada uma atualização em 1490 e uma outra em 1498.
Após
completar a expulsão dos judeus, Torquemada retirou-se para o convento de São
Tomás, em Ávila do
qual tinha sido o fundador, onde passou seus últimos anos convencido de que
desejavam envenená-lo, o que o levava a manter um chifre de unicórnio,
considerado um antídoto eficaz, sempre perto de si. Torquemada faleceu de morte
natural em 1498.
Em
1832, o túmulo de Torquemada foi violado, os ossos foram roubados e
incinerados.
Como
muitos espanhóis, Torquemada parece ter
tido ancestralidade judaica: o historiador contemporâneo Hernando del
Pulgar, ressaltou que o antepassado de Torquemada, Alvar Fernández de
Torquemada tinha casado com uma primeira geração de judeus convertidos, porém
nada ficou provado.
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