Lances
farcescos da História
Demétrio
II, dito o Falso (em russo: Лжедмитрий; transl.: Lzhedmitriy) (1582 — 1606), é conhecido como o primeiro soberano do Tempo de
Dificuldades. Foi tsar da Rússia
entre 1605 e 1606 sob o nome
de Demétrio Ivanovitch
(em russo: Димитрий Иоаннович; transl.: Dimitriy Ioannovich). Tal nome pertencia ao último filho e herdeiro de Ivã, o Terrível, misteriosamente morto em Uglitch em 1591.
A
biografia de Demétrio é razoavelmente conhecida atualmente. Sabe-se que era um
impostor chamado Gregório Otrepiev. Ainda existem muitas questões mal respondidas sobre o enigma do Falso-Demétrio,
que não foram completamente elucidadas.
Nascido
em 1582,
Gregório Otrepiev trabalhou para a família Romanov. Em 1600, assim que Boris
Godunov aprisionou os Romanov,
Gregório vestiu as roupas de um monge e se exilou num monastério, longe de
Moscou.
Pouco
depois, Gregório reapareceu no Kremlin: sob recomendação de seu avô, Elizari
Zamiatnia, ele foi aceito no convento do Milagre. Trabalhando primeiramente
como servente do monge Zamiatnia, depois como arquimandrita e diácono, ele logo
se integrou à corte do Patriarca. Depois de certo tempo, saiu de Moscou para o
monastério de Grottes, em Kiev. Ali, os zaporogueso ajudaram a entrar em contato com os cossacos
do Don.
Gregório
partiu então para a Polônia, onde ficou sob proteção do jesuíta Cláudio
Rangoni, núncio do papa na corte
de Sigismundo III. Ele entrou então em contato com o príncipe Adam Wisniewiecki e o
convenceu de ser filho de Ivã, o Terrível. Wisniewiecki o levou a Georges
Mniszek, no palácio de Sambor, que ofereceu a Demétrio a mão de sua
filha, Marina
Mniszek.
Georges
Mniszeck organizou então um encontro entre Gregório Otrepiev, Cláudio Rangoni e
Sigismundo III de Polônia. Gregório conseguiu o apoio do rei polonês, com a
condição de converter a Rússia ao catolicismo.
Em 1604 Gregório, rebatizado como Demétrio (nome
do último filho de Ivã IV, morto misteriosamente em Uglitch), marchou até
Moscou. Ele atraiu os grupos descontentes do governo do tsar Boris
Godunov, incluindo cossacos do sul da Rússia.
Depois
de alguns reveses militares, entrou vitorioso em Moscou em 30 de junho de 1605 após a súbita morte de Boris Godonov,
enquanto que sua viúva Maliuta e seu filho Teodoro II foram
assassinados. Proclamou-se tsar sob o nome de Demétrio II e
seguiu as políticas iniciadas por Ivã o Terrível, mas, de forma a não
contrariar seus partidários, não exigiu privilégios particulares para a Igreja
católica.
Em
18 de julho de 1605, Gregório foi reconhecido por sua "mãe", a
tsarina Maria
Nagaia, última esposa de Ivã IV.
Pouco depois, em 30 de julho, foi coroado pelo patriarca Inácio na catedral da
Assunção, em Moscou.
Primeiramente,
o novo tsar procurou consolidar seu poder visitando o sepulcro do Tsar Ivã e o
convento de sua viúva Maria Nagaia, que o reconheceu como filho. A partir de
então, começou a implementar suas políticas.
Demétrio
introduziu uma série de políticas e reformas econômicas. Procurou aliviar o
fardo das atividades do campesinato;
esboçou uma grande aliança entre o papa, a República de Veneza, a República
das Duas Nações e o Império da Rússia contra os Turcos;
demonstrou muita tolerância com questões de religião, o que o tornou suspeito
de ser um cripto-ariano;
e, frustrando as expectativas da Polônia e do papa, ele manteve uma atitude
independente, apoiando por exemplo a rebelião
de Zebrzydowski contra Sigismundo.
Demétrio
também foi leniente com seus inimigos, perdoando Basílio Chuiski, que começava a tramar contra ele. Suas opiniões amaneiradas sobre sua
autoridade e sua predileção pelos Ocidentais alarmou
os boiardos mais conservadores, que o haviam apoiado somente para se livrarem
de Boris
Godunov.
Fortemente
impregnado por práticas católicas, ele ofendia a nobreza ortodoxa russa, que
começou a levantar a suspeita de ser um impostor. Seu estilo de vida era muito
diferente das tradições russas. Acreditava-se que estava disseminando os
costumes poloneses pela Rússia, o que ficou mais evidente para a população com
a presença de tropas polonesas guarnecidas perto de Moscou.
Suas
ações reformadoras provocaram descontentamentos entre os boiardos e o clero. Estes se aliaram ao partido de Basílio Chuiski, que se assemelhava ideologicamente à dinastia dos Rurikidas,
e começaram a conspirar contra o jovem tsar.
Neste
mesmo período, o rei Sigismundo III de Polônia estava descontente com as atitudes de Demétrio, que não cumpriu as
promessas de lhe ceder alguns territórios russos e de converter a Rússia ao
catolicismo.
Em
24 de abril de 1606, Marina
Mniszek entrou em Moscou em meio a um cortejo que aos olhos dos
moscovitas parecia uma provocação, principalmente com o fato da futura esposa
não ter se convertido para a ortodoxia. Para os russos, aparentava uma invasão
do Império Russo por estrangeiros, na medida em que soldados poloneses cometiam
alguns abusos. O casamento de Demétrio e Marina ocorreu em 8 de
maio de 1606.
Após duas semanas de casamento, em 17 de maio de 1606, às seis horas da manhã, Demétrio foi atacado
por conspiradores e tentou fugir por uma janela, mas quebrou a perna na queda.
Um atirador o acertou imediatamente, levando-o à morte. Seu corpo foi decepado,
cremado e atirado de um canhão em direção à Polônia. O reinado de Demétrio durou apenas dez meses. Basílio Chuiski assumiu
o trono como Tsar pouco tempo depois.
Da figura do farsante se ocupou, em livro,
Prosper Merimée, escritor francês de mérito incontestável, saudado pela crítica
literária mundial como um dos seus maiores artífices.
Fonte:
Wikipédia
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