A ideia de “progresso” no pensamento
social veio com a Revolução Industrial ocorrida no século XVIII. Do século
XVIII ao século XX, passou-se a acreditar que os únicos meios confiáveis para o
melhoramento da condição humana provêm das novas máquinas, substâncias químicas
e das mais diversas técnicas. Inclusive
os problemas sociais e do meio ambiente criados pelos avanços tecnológicos raras vezes têm afetado esta fé. Há uma crença generalizada de que existe um laço positivo entre desenvolvimento técnico e o bem-estar humano e de que a próxima onda de inovações proporcionará um progresso ainda maior. Mas, será que se pode afirmar que a humanidade progrediu com o avanço da ciência? Os fatos da realidade comprovam que o conhecimento científico não trouxe o progresso desejado para a humanidade porque a ciência e a tecnologia, apesar de estarem conformando as nossas vidas para melhor, estão, em muitas situações, fazendo-as mais perigosas.
os problemas sociais e do meio ambiente criados pelos avanços tecnológicos raras vezes têm afetado esta fé. Há uma crença generalizada de que existe um laço positivo entre desenvolvimento técnico e o bem-estar humano e de que a próxima onda de inovações proporcionará um progresso ainda maior. Mas, será que se pode afirmar que a humanidade progrediu com o avanço da ciência? Os fatos da realidade comprovam que o conhecimento científico não trouxe o progresso desejado para a humanidade porque a ciência e a tecnologia, apesar de estarem conformando as nossas vidas para melhor, estão, em muitas situações, fazendo-as mais perigosas.
Para exemplificar, nos primeiros
quarenta anos do século XX ocorreu na Física mais uma revolução, trazendo como
consequência uma compreensão da estrutura dos átomos e dos meios pelos quais a
energia poderia ser deles liberada, mas, em contrapartida, essas ideias foram
posteriormente aplicadas na construção de armas nucleares de destruição em
massa. Nos últimos vinte e cinco anos do século XX ocorreu outra revolução,
agora no campo da Biologia com o aprofundamento cada maior na busca da
estrutura genética dos organismos vivos, já tendo desenvolvido os meios de
manipular no laboratório o material genético ou outros componentes básicos da
vida. A conclusão geral é a de que, no final, isso poderá levar a uma sinistra
tecnologia biológica, que seria empregada para finalidades malignas como
ocorreu com a Física Nuclear ao desenvolver as armas nucleares.
Mas, afinal, o que é o progresso da
humanidade? Progresso significa movimento para frente tendo como sinônimo
avanço e progressão. O progresso pode ser definido como um processo cumulativo
no qual o estágio mais recente é sempre considerado preferível e melhor, ou
seja, qualitativamente superior, ao que o precedeu. Neste sentido, a mudança
ocorre em uma determinada direção e essa progressão é interpretada como uma
melhoria em relação à situação anterior. Assim, a mudança é orientada para o
melhor, é necessária, isto é, não se pode parar o progresso, e é irreversível,
isto é, nenhum retorno ao passado é possível. A melhoria seria inevitável. O
amanhã sempre será melhor que o hoje.
Em sua obra The End of progress – How
modern economics has failed us (O Fim do progresso- Como a economia moderna tem
falhado), publicada pela John Wiley & Sons em 2011, Graeme Maxton afirma
que a humanidade está se movendo para trás. A humanidade está destruindo mais
do que construindo. Em cada ano, a economia mundial cresce aproximadamente US$
1,5 trilhão. Mas, em cada ano, a humanidade devasta o planeta a um custo de US$
4,5 trilhões. A humanidade está se movendo no sentido inverso gerando perdas
maiores do que a riqueza que cria. Maxton afirma que a humanidade experimentou
rápido crescimento econômico, mas criou também um mundo instável. Segundo
Maxton, em muitos países, pela primeira vez em séculos, nos defrontamos com a
queda na expectativa de vida e com a perspectiva do declínio da produção de
alimentos e da oferta de água, bem como a exaustão dos recursos naturais como o
petróleo.
Tudo o que está acontecendo no mundo
conspira contra tudo que pregava o Iluminismo a partir do século XVIII, quando
um grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno da defesa de ideias que
pautavam a renovação de práticas e instituições vigentes em toda Europa,
levantando questões filosóficas que pensavam sobre a condição e a felicidade do
homem. O movimento iluminista atacou sistematicamente tudo o que era
considerado contrário à busca da felicidade, da justiça e da igualdade. O que
se verifica hoje em todo o planeta é a antítese do que preconizava o
Iluminismo. Cabe observar que o pensamento iluminista elegeu a “razão” como o
grande instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais
justas e funcionais. Tudo o que acontece na atualidade no mundo em que vivemos
nega o pensamento de Emmanuel Kant, um dos filósofos do Iluminismo, que considerava
a História caminhando na direção do melhor (KANT, Immanuel. Ideia de uma
história universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense,
1986). Não apenas pensadores como Immanuel Wallerstein, Jacques Attali. Eric
Hobsbawn e François Chesnais, entre outros, prognosticaram ou prognosticam um
futuro catastrófico para a humanidade no século XXI. A eles se juntam mais dois
pensadores: John Casti, matemático e Ph.D., especialista em teorias dos
sistemas e da complexidade e, Edgar Morin, antropólogo, sociólogo e filósofo
francês, pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche
Scientifique de Paris). Sobre o futuro da humanidade, John Casti o aborda em
seu livro O Colapso de Tudo - Os Eventos Extremos que Podem Destruir a
Civilização a Qualquer Momento (Rio: Editora Intrínseca Ltda., 2012) e Edgar
Morin em seu livro Vers l’abîme ? (Rumo ao abismo?) (Cahiers de L’Herne, 2007).
Em seu livro O Colapso de Tudo - Os
Eventos Extremos que Podem Destruir a Civilização a Qualquer Momento, John
Casti afirma que nossa sociedade está se tornando tão interligada e complexa
que o colapso é quase inevitável. Casti traçou os cenários de uma interrupção
generalizada e duradoura da internet, do esgotamento o sistema global de
abastecimento de alimentos, de um pulso eletromagnético continental que destrói
todos os aparelhos eletrônicos, do colapso da globalização, da destruição da
Terra pela criação de partículas exóticas, da desestabilização do panorama
nuclear, do fim do suprimento global de petróleo, de uma pandemia global, da
falta de energia elétrica e de água potável, de robôs inteligentes que
sobrepujam a humanidade e da deflação global e do colapso dos mercados
financeiros mundiais.
Por sua vez, em seu livro Vers
l’abîme? Edgar Morin considera a inevitabilidade do desastre que ameaça a
humanidade em que, segundo ele, o improvável se torna possível.
O título do livro sob a forma de
interrogação trata da certeza do abismo. “A humanidade evitará esse desastre ou
recomeçará a partir do desastre? A crise mundial que se abre e se amplifica
conduz ao desastre ou à superação?” Edgar Morin prova que a crise mundial se
agravou e o pensamento político dominante é incapaz de formular uma política de
civilização e de humanidade. O mundo está no início do caos, e a única
perspectiva é uma metamorfose, com o surgimento de forças de transformação e
regeneração.
Morin afirma que a Modernidade criou
três mitos: o de controlar o universo, o do progresso e da conquista da
felicidade. O enorme desenvolvimento da ciência, da tecnologia, da economia, do
capitalismo, tem aumentado de forma inédita a invenção, mas também a capacidade
de destruição. A razão herdada do Iluminismo impôs a ideia de um universo
totalmente inteligível. O progresso científico e técnico permitiu como sempre a
emancipação humana, mas a morte coletiva também se tornou possível como nunca
antes. Os progressos tecnológico, científico, médico, social, se manifestam na forma
de destruição da biosfera, destruição cultural, criação de novas desigualdades
e de novas servidões. Morin defende a tese de que a sociedade mundial não é civilizada,
ao contrário, é bárbara. Morin afirma que nós estamos diante do afundamento do
Iluminismo e de suas promessas.
Morin defende a tese de que seja
aberta a necessidade de uma verdadeira transformação na organização social global com a
constituição de uma sociedade de novo tipo, uma sociedade- mundo. A catástrofe
econômica, social e ambiental global será inevitável se a humanidade não
construir esta sociedade-mundo que incorpore todos os povos do mundo inteiro
através de um governo mundial democrático e que seja capaz de planejar e
controlar os sistemas caóticos que ameaçam a sobrevivência da humanidade. Só
assim será possível evitar a depressão da economia mundial, a exaustão dos
recursos naturais do planeta, o crescimento desordenado das cidades e a mudança
climática catastrófica global, além do descontrole dos sistemas de internet e
de energia e da emergência de pandemias globais.
*Fernando Alcoforado, 74, engenheiro
e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a
FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um
Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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