sábado, 28 de junho de 2014

A DECISIVA BATALHA DE PIRAJÁ, EM SALVADOR, PELA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL

                                          
A data de 8 de novembro, não pode ser esquecida pelos baianos, porque lembra grande e decisivo lance na sequência das lutas pela conquista da independência da Bahia e, por extensão, do Brasil. Foi nesse dia, em 1822, que o exército brasileiro impediu as forças invasoras portuguesas de conquistarem o restante da Bahia, na sua ambição de permanecerem colonizadores do Brasil.  

Maria Quitéria
A organização do exército em Pirajá contou com forças oriundas de Cachoeira, comandadas pelo coronel Rodrigo Antonio Falcão Brandão; de S. Francisco, comandadas pelo alferes Francisco de Faria Dultra; uma legião de caçadores comandada pelo tenente ajudante Alexandre Gomes de Argolo Ferrão, do qual fazia parte o alferes Pedro Jácome Dória, que morreu na luta; “o corpo dos Henrique Dias”, comandado pelo major Manoel Gonçalves da Silva”. Teve ainda uma companhia de cavalaria denominada de Guerrilha Imperial, composta de voluntários que ficaram conhecidos como os encourados do Pedrão, porque tais soldados se vestiam com roupas de couro, e foram comandados pelo Frei José Maria Brayner, que depois veio a ser vigário de Itaparica. Um outro “corpo” foi organizado sob o comando do major José Antônio da Silva Castro. Registram-se também a existência de um batalhão de libertos, formado por ordem de Labatut, de escravos de cor pertencentes a diversos engenhos. A estes batalhões organizados na província juntaram-se outros, procedentes de outras partes do país. Do Rio de Janeiro, veio o general Labatut, enviado por D. Pedro para intimar Madeira de Melo a sair da capital e voltar para Lisboa. Este comandante dividiu o exército em duas brigadas: a da esquerda, comandada pelo coronel Felisberto Gomes Caldeira, ocupou Itapuã; e a da direita, comandada pelo major José de Barros Falcão de Lacerda, com o batalhão vindo de Pernambuco, ocupou desde a estrada de Itapuã até o Cabrito.
Brás do Amaral explica a importância de Pirajá por sua posição estratégica entre a península e o centro. O alto de Pirajá, por onde passava a estrada das Boiadas, tinha “de um lado terras onduladas, cobertas de matas e onde nas baixas, entre as colinas, não faltam brejos e alagadiços, e do outro a encosta que leva ao mar, isto é, às praias de Itacaranha, Periperi, etc.” Quem aí desembarcava tinha de subir para alcançar a estrada. “Chegando ao cimo e ficando assegurada toda ela, não só fica o exército que a possuir em situação dominante sobre a enseada de Itapajipe, como em estado de garantir a entrada de muitos víveres frescos e gados na cidade.” (AMARAL, 1923, p. 284)
Foi em 8 de novembro de 1822 que, afinal, deu-se a famosa batalha de Pirajá, marco nas lutas pela independência do Brasil, conquistada em terras baianas. No sítio do Cabrito, milhares de homens enfrentaram e venceram o exército português, que estava devidamente preparado para evitar o avanço do exército libertador sobre a cidade. Foi nessa batalha que ocorreu o episódio do corneteiro Luiz Lopes, a quem se atribui o impulso involuntário dado ao exército para continuar a luta, contrariando a ordem do comandante de tocar a retirada.

Nessa batalha, morreram o alferes Pedro Jácome Dória e o capitão de artilharia Ciprinano Justino de Siqueira, nomes que fazem parte da galeria de heróis da história do “Dois de Julho”. Quanto ao número exato de feridos e mortos, na batalha de Pirajá, nunca se pôde apurar ao certo, porque os dados variam conforme os interesses de cada parte conflitante. Do lado português, Madeira de Melo e a imprensa portuguesa diminuíam o número de suas baixas para menos de 100, entre mortos, feridos e desaparecidos, enquanto do lado brasileiro dava-se como certo um número superior a 300. Ladislau Titara lamenta o fato, em seu poema:
É para sentir, que de uma ação tão brilhante para a Bahia, e todo o Brasil, não exista, ao menos, uma ordem do dia do general do exército, onde se visse mais aproximadamente, quando não fosse ao certo, o número, e nomes dos que pereceram neste combate, onde pela nossa parte sucumbiram também alguns índios: mas o certo é que a perda do inimigo foi desmarcada, pois apesar de logo enterrarem muitos dos mortos, inda assim ficaram no campo em oito horas de fogo, só desde o largo de Pirajá pela esquerda, té ao Bate-folha 53 mortos, inclusos 2 sargentos, constando por notícias fidedignas que o total dos mortos excederam a 130, e os feridos montaram a 200 e tantos, inclusive 3 oficiais, sendo um destes o alferes Salazar do 4o de Infantaria, ferido no pé direito. Das Tropas de Linha de todo o exército baiano só morreram no campo um soldado de caçadores do Rio, 2 de Pernambuco, e 7 da Bahia, além dos dois bravos oficiais também baianos; e ficaram feridas 13 praças de 1ª Linha. Das milícias e paisanos, os feridos chegaram a 15, contusos poucos, e alguns mortos”. (Paraguassu, canto II, nota e, p. 95-6).
Só pela estrada do Bate-folha até a Cruz do largo da Igreja de Pirajá, contaram-se 53 mortos da tropa lusitana, e um sargento, que achou-se ferido, e enterrado té a cintura nos pântanos do Dendezeiro; além de muitas sepulturas, que pelo lado do Cabrito foram triplicado número, além dos mortos também achados, inclusive alguns inferiores.” (Idem, canto II, nota 1, p. 80).
No entanto, é a certeza da existência desses mortos e feridos que confere maior importância ao fato histórico e uma dimensão heroica que inspira os poetas, os quais, possuídos do amor da pátria, permitem-se explorar o passado honroso dos

antecedentes que fecundaram com o próprio sangue o chão da terra em que plantaram a Liberdade. Ao recordá-los, em 1879, o redator de um jornal de Nazaré assim se expressa: “As ossadas que alvejam nos invictos campos de Pirajá, parece que reencarnam-se e redivivem, trazendo os nossos heróis antepassados até nós para receberem em suas frontes os lauréis, as coroas cívicas, imurchecíveis de libertadores da pátria, fato esse histórico e o mais brilhante que teve o seu complemento nessa data memorável, e que é sem sombra de dúvida o apanágio de glória da heroica província da Bahia, a pátria de Moema, dileta primogênita de Cabral.” (Dous de Julho, 28 de junho 1879).
A vitória de Pirajá fez aumentar o entusiasmo dos baianos pela luta, crescendo assim o número dos que se juntaram às forças combatentes. A vitória ainda demoraria a concluir-se, em 2 de julho de 1823, mas a metade do caminho para recuperar a capital já estava conquistado.
Como se tornou de praxe, todas as datas significativas da campanha da independência da Bahia tiveram numerosas representações poéticas. A batalha de Pirajá foi uma das mais cantadas em verso, e, igualmente, tomada como pretexto para protestos e reflexões de ordem política e social, no decorrer dos anos que se seguiram à conquista da independência. Na mostra seguinte, podem-se constatar tanto a celebração dos fatos heroicos como o questionamento de suas consequências.  


BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Braz do. História da Independência na Bahia. Bahia: Imprensa Oficial, 1923.
TITARA. Ladislau dos Santos. Paraguassu: epopeia da Independência na Bahia. Bahia: Tip. do Diário, 1835-1837.

Fonte: Fundação Pedro Calmon

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