Novo relatório do Fundo de População das Nações
Unidas (UNFPA) revela maiores lacunas nos serviços de obstetrícia em 73 países
de alto risco.
Foto: Jhpiego/Kate Holt via UNFPA
Um relatório lançado nesta
terça-feira (3) pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em
conjunto com a Confederação Internacional de Parteiras (ICM), a Organização
Mundial da Saúde (OMS) e parceiros,
revela que os principais déficits na força de trabalho das parteiras e
parteiros profissionais – enfermeiros/as obstetras e obstetrizes – ocorrem em
73 países onde esses serviços são mais necessários. O relatório recomenda novas
estratégias para enfrentar esses déficits e salvar milhões de vidas de mulheres
e recém-nascidos.
Os 73
países da África, Ásia e América Latina – entre eles, o Brasil – representados
no relatório “O Estado da Obstetrícia no Mundo
2014: Um Caminho Universal – O Direito da Mulher à Saúde” respondem por 96% do total global de mortes
maternas, 91% dos natimortos e 93% das mortes entre recém-nascidos, mas têm
apenas 42% das parteiras/os profissionais, enfermeiras/os e médicas/os de todo
o mundo.
O relatório defende o investimento dos países em educação obstétrica e
treinamento para contribuir na redução das diferenças gritantes existentes.
Investimentos em educação e treinamento em obstetrícia alinhados com padrões
internacionais podem produzir – como mostra um estudo de Bangladesh – um
retorno de 1.600% do recurso aplicado.
“As parteiras e os parteiros profissionais contribuem enormemente para a
saúde de mães e recém-nascidos e o bem-estar de toda a comunidade. O acesso a
cuidados de saúde de qualidade é um direito humano básico. Maior investimento
em obstetrícia é chave para tornar esse direito uma realidade para mulheres em
todos os lugares”, disse o diretor executivo do UNFPA, Babatunde Osotimehin.
Parteiras e parteiros profissionais têm um papel
crucial no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) números 4
(reduzir a mortalidade infantil) e 5 (melhorar a saúde materna). Quando
educados segundo padrões internacionais e inseridos num sistema de saúde
plenamente funcional, eles e elas podem prover cerca de 90% dos cuidados
essenciais para mulheres e recém-nascidos e podem reduzir potencialmente em
dois terços as mortes maternas e de recém-nascidos.
Apesar do declínio contínuo das mortes maternas nos 73 países abordados
pelo relatório – que tiveram uma redução anual de 3% desde 1990 –, bem como das
mortes de recém-nascidos – que caíram cerca de 1,9% ao ano no mesmo período –
esses países precisam fazer mais para enfrentar a grave carência de cuidados
obstétricos.
Brasil: concentração em algumas regiões e falta de profissionais em outras
Cerca de 5,1 milhões de mulheres estavam grávidas no Brasil em 2012.
Entre aquelas que estavam grávidas, pouco mais de 3 milhões deram à luz, sendo
que 98% dos partos ocorreram em hospitais. Para realizar as consultas de
pré-natal e os atendimento no parto e pós-parto, as brasileiras contaram com os
serviços de 22,8 mil médicos/as ginecologistas e obstetras e 2.981 obstetrizes
e enfermeiras/os obstetras, além do apoio de 909,6 mil enfermeiras/os e 528,4
mil técnicas/os de enfermagem.
Os dados, revelados
neste relatório, indicam que o país tem profissionais em número suficiente para
atender à demanda, apesar de problemas de distribuição dessa força de trabalho,
com concentração em algumas regiões e falta de profissionais em outras.
O relatório destaca o fato de que o Brasil é um dos 10 países
pesquisados que oferecem acesso gratuito a 44 das 46 intervenções essenciais em
saúde sexual, reprodutiva, materna e neonatal por meio da rede de serviços que
compõe o SUS.
Por outro lado, a pesquisa não conseguiu identificar o número de
profissionais de obstetrícia graduados a cada ano, bem como o número de
enfermeiras obstetras e obstetrizes licenciadas, embora este seja um requisito
obrigatório para o exercício da profissão; isso indica a necessidade de
investimentos na coleta e disponibilização de dados.
O estudo também faz projeções para 2030, indicando que a população
poderá aumentar 12%, para 222,7 milhões de pessoas, e haverá aumento de
aproximadamente 50% no número de profissionais de saúde qualificados envolvidos
com saúde materna e neonatal, bem como uma redução do número de gravidezes para
aproximadamente 4,5 milhões ao ano.
Estima-se que as razões de morte materna e morte neonatal caiam para
menos de 25 por 100 mil nascidos vivos e menos de 5 por 100 mil nascidos vivos,
respectivamente. Atualmente, esses índices são de 61 e 9 por 100 mil nascidos
vivos, respectivamente.
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