sexta-feira, 27 de junho de 2014

O INCÊNDIO DA FEIRA DE ÁGUA DE MENINOS EM 1964


Originada em Água de Meninos em 1959. A feira era a responsável pelo abastecimento da cidade do Salvador através das mercadorias vindas do recôncavo nos veleiros. Esse fator tornava a feira em um grande centro de abastecimento da cidade.
Sendo de grande utilidade para a população de baixa renda, a feira apresentava-se extremamente atrativa devido aos baixos valores das mercadorias. Dinâmica e diversificada na população e nos produtos, o comércio de Água de Meninos, como todas as outras incluídas na tradição popular, se enquadrava num espaço de compra, venda e trocas culturais.
A feira de água de Meninos teve seu primeiro incêndio de grandes proporções no dia 08 de setembro de 1964, às 15 horas e 4 minutos de sábado e só parou de arder 11 horas de domingo, de acordo os relatos do Jornal Estado da Bahia em suas várias edições e temas sobre a destruição da feira. Nesse incêndio foram destruídas 500 barracas, 66 depósitos, 847 bancas além de seis vitimas. O mesmo jornal noticiou em suas páginas que apenas 10 barracas estavam seguradas e, os valores, eram ínfimos. O incêndio acabou com 90% das barracas, depois de 48 horas, várias versões do incêndio se somaram a outras já existentes.
De acordo com os depoimentos pesquisados nos jornais da época, antes do ocorrido, os feirantes sentiram um forte odor de gasolina saindo de uma boca de lobo existente na feira, logo depois, veio à explosão. Sabemos que ao lado do mercado, estava à empresa Esso Brasileira de Petróleo, uma multinacional que após algumas investigações, descobriu-se que a mesma jogava resíduos de combustível no esgoto que seguia para a maré. Nesse dia, a feira estava abarrotada de mercadorias para atender a cidade no sábado, no domingo e na segunda, maiores dias de movimento. Como podemos ver a feira possuía combustível necessário para fazê-la desaparecer por completo. Contudo, algumas barracas no fundo da feira permaneceram intactas graças a um rio que ali ficava. Criando dessa forma, uma barreira natural contra o incêndio.

Quanto às investigações, ficaram a cargo da 13º Delegacia (Bonfim), segundo o jornal Metrópole do dia 02 de outubro de 2009, são poucos os registros oficiais do incêndio, os laudos da Polícia Técnica não integram o acervo do órgão. No entanto, o processo se arrastou por 17 anos, tendo a Esso como única responsabilizada.
No dia fatídico, o superintendente da Esso, por meio de um relatório, comunicou a direção da empresa que todos os esforços foram tomados para extinguir o fogo e resguardar o patrimônio da empresa, nesse caso, os tanques existentes ao lado da feira. De acordo o relatório, foram gastos na contenção do fogo, 10 extintores de pó químico P. 70 de alta capacidade, 42 portáteis de pó químico CO2 além dos funcionários em serviço e os 38 que chegavam de uma competição esportiva. Nesse meio tempo, comunicaram os Bombeiros solicitando uma remessa de patrol e tratores para desobstruírem o local. Para a extinção do fogo, os feirantes contaram com os Bombeiros, a Petrobrás e a Marinha.
Todavia, o risco da permanência do mercado popular no local ainda era grande, pois a cidade precisava ser abastecida. Na madrugada de domingo, o governador se reuniu com o prefeito, o Ministro Luiz Viana, o presidente dos sindicatos dos feirantes e o representante da federação e comércio para resolver o problema. Decidiram limpar o local e acomodar as mercadorias nesse espaço. A parte não atingida voltaria a funcionar imediatamente, também foram acordados benefícios tributários para os feirantes em prejuízos.
Daí em diante aumentaram as especulações para a transferência da feira para a Enseada de São Joaquim. Onde um projeto para a criação de barracas padronizadas já se encontrava nas mãos do Engenheiro Oscar Pontes. No apoio para a transferência, estava o Porto de Salvador que estava passando por obras de modernização. Diante das incertezas, os trabalhadores tentaram formar uma nova área de venda na AV. Frederico Oscar Pontes, foram contidos com o poder enérgico da polícia segundo o jornal Estado da Bahia. Sendo assim, não podemos esquecer que nesse período os militares estavam no poder após terem dado um golpe, e que a ordem, era prioridade.

Como solução do problema, criou-se um projeto das feiras móveis. Teoricamente, os problemas de higiene estariam resolvidos. E o objeto que tanto envergonhava a burguesia emergente estava quase no fim. Contudo, uma parte da feira ainda permanecia viva. Problema que foi resolvido cinco dias depois com um novo incêndio que destruiu as 120 barracas restantes. Esse ficou caracterizado como criminoso. Cinco suspeitos foram presos.

Segundo algumas matérias jornalísticas, o criminoso era um barraqueiro que esquecera três velas acesas em sua barraca. Outras reportagens dão conta de uma entrevista dada pelo presidente do sindicato ao jornal e às autoridades, que um homem fora visto derramando um líquido em uma das barracas, o segurança do local, perseguiu o homem, mas não teve êxito na captura. Também relatam que o fogo começou pelos depósitos de madeiras, um vigilante viu o incendiário tocando fogo nos depósitos de madeiras. Sendo assim, os relatos descritos pelo jornal, só fazem confirmar que o incêndio foi criminoso.

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