Por CONSUELO PONDÉ
Conheci João Ubaldo nos dias da
mocidade, quando não era muito comum contar com amigos de outro gênero, daí
sempre vê-lo à distância.
Por isso, lembro-me, apenas, do tempo em que era aluno do Colégio Central, por volta de 1955, e caminhava pela Avenida Joana Angélica envergando o “blusão” caqui, com emblema do curso clássico. Também me recordo de sua atividade como repórter do Jornal da Bahia e, mais tarde, sua militância na Tribuna da Bahia.
Por isso, lembro-me, apenas, do tempo em que era aluno do Colégio Central, por volta de 1955, e caminhava pela Avenida Joana Angélica envergando o “blusão” caqui, com emblema do curso clássico. Também me recordo de sua atividade como repórter do Jornal da Bahia e, mais tarde, sua militância na Tribuna da Bahia.
Era
um homem de jornal e afeito às tarefas relacionadas com esse exercício. Também
o encontrava, sempre acompanhado dos colegas, na porta de entrada da Faculdade
de Direito da Ufba e em outros acontecimentos universitários.
Gregário
por natureza, não o via sozinho, mas sempre arrodeado de amigos, que se
deliciavam com sua prosa viva e seu humor contagiante.
Surgiu
muito cedo na literatura ao participar da antologia “Panorama do conto baiano”,
organizado por Nelson de Araújo e Vasconcelos Maia.
Mas,
dele me recordo com mais nitidez a partir do momento em que, regressando ao
Brasil, em 1965, passou a dar aulas de Ciência Política na Faculdade de Filosofia,
onde eu também lecionava. Nos intervalos das aulas, quando os professores
costumavam reunir-se para beber água ou tomar um cafezinho, sempre batíamos
agradáveis papos.
O
fato de ter ascendido tão rapidamente na vida e ter, precocemente, adquirido notoriedade,
nunca mudou seu comportamento em relação às pessoas com quem se relacionava ou
o procurava para qualquer contato.
É
fácil comprovar sua comunicabilidade sem restrição, observando-se como se
comportava em relação aos moradores, comerciantes, enfim, aos populares de
Itaparica.
Ardoroso
defensor da língua portuguesa, manifestava muita preocupação com o crescente
uso do inglês, que vem subtraindo, com desvantagem, a expressividade do
vernáculo.
Reencontrei-o,
algumas vezes, pela internet, em Itaparica e, na ALB, por ocasião da posse de
Joaci Góes e, por último, quando assumiu a cadeira na Academia de Letras da
Bahia, na noite de 22 de novembro de 2012, quando foi recebido pelo Acadêmico
Joaci Góes, seu fraternal amigo. Continuava o mesmo. Risonho, afável,
comunicativo, brincalhão, tal como fora nos dias de anonimato, longe das luzes
do prestígio que, mais tarde, adquiriu.
Seus
livros estão aí para esculpir o seu temperamento e a força do seu estilo
inimitável. Suas crônicas também deixarão um espaço insubstituível nos jornais
que, semanalmente, as divulgavam.
Pessoalmente,
sentirei muita falta das suas crônicas do domingo, desopiladoras dos fígados
mais rebelde, cheias de graça e de sutil ironia.
Há
poucos dias assisti a reprise da sua apresentação no Roda Viva, da TV Cultura,
quando discorreu sobre o que lhe indagavam, a tudo respondendo com a maior
desenvoltura. Chamou-me atenção o fato de declarar que fez tudo para ser
comunista, como era de hábito entre os jovens da época. Não conseguiu. Apesar disso,
foi tido como simpatizante do movimento, o que lhe causou dificuldades durante
alguma tempo.
Seu
“espaço de memória” era Itaparica, lugar onde nasceu e cantou em toda sua obra
de ficcionista.
Dentre
todos os seus livros tenho preferência por “Viva o povo brasileiro (1984)”, no
qual reúne o fantástico com a realidade, com uma carga de brasilidade que
comove e fascina. Com a publicação dessa obra, a literatura de João Ubaldo
mudou de direção, conforme assinalam alguns estudiosos. Para mim, que nada sei,
mas sei sentir, a grande obra reafirma a identidade nacional, revelando o
Brasil nas suas entranhas.
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