segunda-feira, 18 de agosto de 2014

CAXIAS UM PRECURSOR DA AERONÁUTICA MILITAR BRASILEIRA

 Cláudio Moreira Bento
Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)


Vale recordar em 2003, bicentenário do Duque de Caxias, patrono do Exército e da nossa Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB).
Na Guerra da Tríplice Aliança 18965-70 – Campanha do Paraguai – o Exército Imperial Brasileiro defrontou-se com um grave problema operacional, decorrente da ausência de cartas, esboços e informações sobre o Teatro de Operações .
Lutando numa planície, o problema de dominância de vistas para observações sobre o campo adversário tornou-se crucial para possibilitar a localização de obstáculos, de fortificações e acompanhar-se a localização e movimentação das tropas inimigas.
Para compensar esta deficiência recorria-se aos mangrulhos, postos de observações artificiais, com o formato de torres, para elevar-se os observadores a alguns metros do solo.


À esquerda da gravura um mangrulho no acampamento de Caxias de Tuyu –Cuê , próximo de Humaitá .(Fonte: História do Exército Brasileiro...(Rio de Janeiro:EME,1972.v.2,p.644).

O Mangrulho servia para a observação aproximada, em torno dele, e como medida preventiva contra um ataque de surpresa. E eles povoaram o Teatro de Operações na Guerra do Paraguai.
Os reconhecimentos mais profundos eram feitos à viva força pela Cavalaria, e consistiam em verdadeiros ataques, com grandes perdas em vidas de parte da força de reconhecimento.
O ataque a posição fortificada Curupaiti foi um salto no desconhecido, de altíssimo preço em vidas humanas para os aliados, em razão de desconhecerem o que existia entre a linha de partida e o objetivo.
Para prosseguir para as conquistas das pesadamente fortificadas posições de Curupaiti e de Humaitá. a 30 Km da confluência dos rios Paraguai e Paraná e ocultas por vegetação, impunha-se um meio revolucionário de observar o terreno inimigo para planejar um Plano de Operações que desbordasse Curupaiti e ajudasse a conquistar Humaitá com o auxílio de nossa Marinha.
O Marquês de Caxias, ao assumir o comando das operações, após o desastre de Curupaiti, procurou sanar estes inconvenientes, recorrendo a uma tecnologia de observação que fora usada na Guerra de Secessão nos EUA, com o emprego de aeróstatos .
Depois de um insucesso com um balão construído no Brasil e por intermédio do Professor Thadeu S. Lowe que havia sido Aeronauta Chefe do General Grant na Guerra de Secessão.
Caxias conseguiu que fossem adquiridos nos EUA dois balões com o equipamento de fabricar hidrogênio ,com o envio com eles de dois balonistas, os irmãos James e Ezra Allen que haviam auxiliado Lowe na Guerra de Secessão, o qual não poder vir para o Teatro de Guerra como Aeronauta do Exército Brasileiro.
Os balões com os irmãos Allen chegaram em Tuiuti em 31 de maio de 1867 e, em 24 de junho de 1867, realizaram a 1a ascensão das 20 realizadas, só pelo balão menor ,sendo que a última em 25 de setembro de 1869 ,no flanco direito aliado a 5 km de Tuiu- Cuê, próximo a fortaleza de Humaitá.
Depois de 3 meses de uso que tornaram possível os reconhecimentos para atacar Humaitá e desbordar Curupaiti, os balões foram recolhidos ao acampamento de Tuiuti.


Alegoria sobre a 1a ascensão de um balão, em 25 set.1867 em Tuiu- Cuê, na obra História da Força Aérea Brasileira. (1975,2ed,p.23) do Tenente Brigadeiro do Ar Nelson Freire Lavanére –Wanderley, atual Patrono do CAN. Prefácio do Brigadeiro Eduardo Gomes, então Ministro da Aeronáutica e hoje seu patrono, o qual referiu acerca do balão usado por Caxias na Guerra do Paraguai-" ele foi o primeiro emprego militar da Aeronáutica na América do Sul e a semente daquilo que muito mais tarde veio transformar-se na Força Aérea Brasileira."

Houve 20 ascensões: A 2.ª, 8 Jul; a 3.ª, 4.ª e 5.ª, em 12 Jul; a 6.ª, 13 Jul; a 7.ª, 20Jul; a 8.ª, 21 Jul; a 9.ª 22 Jul; a 10.ª, 15 Ago; a 11.ª, 16 Ago; e a 20ª e última em 25 Set.1867
A ascensão "record", com guarnição, foi a 7ª, na qual o aeróstato atingiu 140 metros de altura. Destacaram-se nestas operações os seguintes oficiais do Corpo de Engenheiros: capitães Francisco César da Silva Amaral, Cursino Amarante e Conrado Jacob Niemeyer. Silva do Amaral ,maranhense de São Luiz e filho de soldado homônimo foi o primeiro brasileiro a desempenhar em 12 julho 1867, atividades militares aeronáuticas. O segundo foi Cursino do Amarante com duas missões , e o terceiro foi Conrado Niemeyer com quatro missões .Foi o único a ser oficial general. O Capitão Antônio Sena Madureira desempenhou uma missão de observador aéreo. Mais tarde teve destacada atuação na fundação do Clube Militar em 1887, onde possui sala com o seu nome.
Os irmãos Allen eram de Provence, em Rodh Island-EUA. James Allen que foi o aeronauta chefe de Caxias, faleceu em Provence, em 24 set 1897 e em sua lápide no


cemitério de Swan Point ,na qual figura a imagem de um balão em alto relevo, consta uma referência aos serviços que prestou ao Exército do Brasil, conforme o Brigadeiro Lavanére- Wanderley em sua preciosa História da Força A
As 20 ascensões permitiram retificar-se cartas anteriormente levantadas; confirmar-se que a melhor via de acesso era Tuiuti- Tuyu- Cuê; descobrir-se linhas de trincheiras contínuas entre Tuiuti e Humaitá e as intenções de uma tropa de Cavalaria inimiga.
As últimas observações foram prejudicadas por esta contramedida adversária:
"Sempre que o balão aparecia, o inimigo fazia muita fumaça defronte, suas trincheiras, para as ocultar. Com este intuito preparavam de antemão fogueiras de pasto."
Dionízio Cerqueira, testemunha ocular de uma das últimas ascensões, assim a descreveu em suas Reminiscências da Guerra do Paraguai.
"O Marquês de Caxias, capitão experimentado e conhecedor da parte difícil de comandar, rodeou-se de oficiais inteligentes e instruídos. Nada desprezava do que pudesse ser útil ao Exército. Mandou vir um balão para se conhecer e observar o inimigo. Que azáfama para enchê-lo!
Felizmente, não precisávamos poupar ácido sulfúrico, como na República Francesa no fim do século 18, e não recorremos como ela ao processo lento e difícil da decomposição da água, para a preparação do hidrogênio.
Foi um dia de festa em nosso arraiais. Todos queriam ver o balão subir. Subiu com efeito mantendo-se no ar preso por cabos. Mas pouco se viu porque o inimigo enfumaçou o campo com fogueiras e tiros de canhão. Nenhum serviço nos prestou. Felizmente não nos faltaram os reconhecimento de nossa brava Cavalaria e dos esforçados oficiais de Estado - Maior e de Engenheiros e o informes de desertores e espiões."
O que Dionízio Cerqueira testemunhou como Alferes foi uma das últimas ascensões e não percebeu a grande validade do balão no reconhecimento da via de acesso Tuiti- Tuiu-Cuê- Humaitá.
Este episódio dos aeróstatos, além de confirmar a sensibilidade de Caxias para o progresso tecnológico militar, evidência seu pioneirismo nos primeiros passos da Aeronáutica Militar no Brasil, 6 anos antes do nascimento do outro grande brasileiro, Alberto Santos Dumont, inventor do avião e patrono de nossa Aeronáutica Brasileira e que começou sua escalada voando em aeróstatos.


Fonte: Informativo Guararapes

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