Cláudio
Moreira Bento
Presidente da Academia de História Militar
Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Vale recordar em 2003, bicentenário do Duque de
Caxias, patrono do Exército e da nossa Academia de História Militar Terrestre
do Brasil (AHIMTB).
Na Guerra da Tríplice Aliança 18965-70 – Campanha
do Paraguai – o Exército Imperial Brasileiro defrontou-se com um grave problema
operacional, decorrente da ausência de cartas, esboços e informações sobre o Teatro
de Operações .
Lutando
numa planície, o problema de dominância de vistas para observações sobre o
campo adversário tornou-se crucial para possibilitar a localização de
obstáculos, de fortificações e acompanhar-se a localização e movimentação das
tropas inimigas.
Para compensar esta deficiência recorria-se aos
mangrulhos, postos de observações artificiais, com o formato de torres, para
elevar-se os observadores a alguns metros do solo.
À esquerda da gravura um mangrulho no
acampamento de Caxias de Tuyu –Cuê , próximo de Humaitá .(Fonte: História do Exército Brasileiro...(Rio
de Janeiro:EME,1972.v.2,p.644).
O Mangrulho servia para a observação aproximada, em
torno dele, e como medida preventiva contra um ataque de surpresa. E eles
povoaram o Teatro de Operações na Guerra do Paraguai.
Os reconhecimentos mais profundos eram feitos à
viva força pela Cavalaria, e consistiam em verdadeiros ataques, com grandes
perdas em vidas de parte da força de reconhecimento.
O ataque a posição fortificada Curupaiti foi um
salto no desconhecido, de altíssimo preço em vidas humanas para os aliados, em
razão de desconhecerem o que existia entre a linha de partida e o objetivo.
Para prosseguir para as conquistas das pesadamente
fortificadas posições de Curupaiti e de Humaitá. a 30 Km da confluência dos
rios Paraguai e Paraná e ocultas por vegetação, impunha-se um meio
revolucionário de observar o terreno inimigo para planejar um Plano de
Operações que desbordasse Curupaiti e ajudasse a conquistar Humaitá com o
auxílio de nossa Marinha.
O Marquês de Caxias, ao assumir o comando das
operações, após o desastre de Curupaiti, procurou sanar estes inconvenientes,
recorrendo a uma tecnologia de observação que fora usada na Guerra de Secessão
nos EUA, com o emprego de aeróstatos .
Depois de um insucesso com um balão construído no
Brasil e por intermédio do Professor Thadeu S. Lowe que havia sido Aeronauta
Chefe do General Grant na Guerra de Secessão.
Caxias conseguiu que fossem adquiridos nos EUA dois
balões com o equipamento de fabricar hidrogênio ,com o envio com eles de dois
balonistas, os irmãos James e Ezra Allen que haviam auxiliado Lowe na Guerra de
Secessão, o qual não poder vir para o Teatro de Guerra como Aeronauta do
Exército Brasileiro.
Os balões com os irmãos Allen chegaram em Tuiuti em
31 de maio de 1867 e, em 24 de junho de 1867, realizaram a 1a ascensão
das 20 realizadas, só pelo balão menor ,sendo que a última em 25 de setembro de
1869 ,no flanco direito aliado a 5 km de Tuiu- Cuê, próximo a fortaleza de
Humaitá.
Depois de 3 meses de uso que tornaram possível os
reconhecimentos para atacar Humaitá e desbordar Curupaiti, os balões foram
recolhidos ao acampamento de Tuiuti.
Alegoria sobre a 1a ascensão de um balão, em 25
set.1867 em Tuiu- Cuê, na obra História da Força Aérea Brasileira.
(1975,2ed,p.23) do Tenente Brigadeiro do Ar Nelson Freire Lavanére –Wanderley,
atual Patrono do CAN. Prefácio do Brigadeiro Eduardo Gomes, então Ministro da
Aeronáutica e hoje seu patrono, o qual referiu acerca do balão usado por Caxias
na Guerra do Paraguai-" ele foi o primeiro emprego militar da
Aeronáutica na América do Sul e a semente daquilo que muito mais tarde veio
transformar-se na Força Aérea Brasileira."
Houve 20 ascensões: A 2.ª, 8 Jul; a 3.ª, 4.ª e 5.ª,
em 12 Jul; a 6.ª, 13 Jul; a 7.ª, 20Jul; a 8.ª, 21 Jul; a 9.ª 22 Jul; a 10.ª, 15
Ago; a 11.ª, 16 Ago; e a 20ª e última em 25 Set.1867
A ascensão "record", com guarnição, foi a
7ª, na qual o aeróstato atingiu 140 metros de altura. Destacaram-se nestas
operações os seguintes oficiais do Corpo de Engenheiros: capitães Francisco
César da Silva Amaral, Cursino Amarante e Conrado Jacob Niemeyer. Silva do
Amaral ,maranhense de São Luiz e filho de soldado homônimo foi o primeiro
brasileiro a desempenhar em 12 julho 1867, atividades militares aeronáuticas. O
segundo foi Cursino do Amarante com duas missões , e o terceiro foi Conrado
Niemeyer com quatro missões .Foi o único a ser oficial general. O Capitão
Antônio Sena Madureira desempenhou uma missão de observador aéreo. Mais tarde
teve destacada atuação na fundação do Clube Militar em 1887, onde possui sala
com o seu nome.
Os irmãos Allen eram de Provence, em Rodh
Island-EUA. James Allen que foi o aeronauta chefe de Caxias, faleceu em
Provence, em 24 set 1897 e em sua lápide no
cemitério de Swan Point ,na qual figura a imagem de
um balão em alto relevo, consta uma referência aos serviços que prestou ao
Exército do Brasil, conforme o Brigadeiro Lavanére- Wanderley em sua preciosa
História da Força A
As 20 ascensões permitiram retificar-se cartas
anteriormente levantadas; confirmar-se que a melhor via de acesso era Tuiuti-
Tuyu- Cuê; descobrir-se linhas de trincheiras contínuas entre Tuiuti e Humaitá
e as intenções de uma tropa de Cavalaria inimiga.
As últimas observações foram prejudicadas por esta
contramedida adversária:
"Sempre que o balão aparecia, o inimigo fazia
muita fumaça defronte, suas trincheiras, para as ocultar. Com este intuito
preparavam de antemão fogueiras de pasto."
Dionízio Cerqueira, testemunha ocular de uma das
últimas ascensões, assim a descreveu em suas Reminiscências da Guerra
do Paraguai.
"O Marquês de Caxias, capitão experimentado e
conhecedor da parte difícil de comandar, rodeou-se de oficiais inteligentes e
instruídos. Nada desprezava do que pudesse ser útil ao Exército. Mandou vir um
balão para se conhecer e observar o inimigo. Que azáfama para enchê-lo!
Felizmente, não precisávamos poupar ácido
sulfúrico, como na República Francesa no fim do século 18, e não recorremos
como ela ao processo lento e difícil da decomposição da água, para a preparação
do hidrogênio.
Foi um dia de festa em nosso arraiais. Todos
queriam ver o balão subir. Subiu com efeito mantendo-se no ar preso por cabos. Mas
pouco se viu porque o inimigo enfumaçou o campo com fogueiras e tiros de
canhão. Nenhum serviço nos prestou. Felizmente não nos faltaram os
reconhecimento de nossa brava Cavalaria e dos esforçados oficiais de Estado -
Maior e de Engenheiros e o informes de desertores e espiões."
O que Dionízio Cerqueira testemunhou como Alferes
foi uma das últimas ascensões e não percebeu a grande validade do balão no
reconhecimento da via de acesso Tuiti- Tuiu-Cuê- Humaitá.
Este episódio dos aeróstatos, além de confirmar a
sensibilidade de Caxias para o progresso tecnológico militar, evidência seu
pioneirismo nos primeiros passos da Aeronáutica Militar no Brasil, 6 anos antes
do nascimento do outro grande brasileiro, Alberto Santos Dumont, inventor do
avião e patrono de nossa Aeronáutica Brasileira e que começou sua escalada
voando em aeróstatos.
Fonte: Informativo Guararapes
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