O rumoroso e controverso caso sobre
a bomba atômica russa
estadunidenses executados em 1953 após serem condenados por espionagem. As acusações tinham relação à transmissão de
informações sobre a bomba atômica para
a União Soviética. A execução deles foi a primeira
de civis por espionagem na história dos Estados Unidos.
Desde
a execução, telegramas soviéticos descodificados parecem confirmar que Julius
agiu como mensageiro e recrutador para os soviéticos, mas as dúvidas em relação ao nível de envolvimento de Ethel no trama
persistem. A decisão de executar o casal foi e ainda é controversa. Os
outros espiões capturados pelo FBI não foram executados. O irmão de Ethel,
David Greenglass, que forneceu documentos a Julius, cumpriu 10 dos 15 anos de
sua pena. Harry Gold, o mensageiro de Klaus Fuchs,
que forneceu informações muito mais detalhadas aos soviéticos sobre a bomba
atômica, cumpriu 15 anos. Morton Sobell, julgado junto com os Rosenbergs,
cumpriu 17 anos e 9 meses. Em 2008 ele admitiu que era espião e confirmou
que Julius estava em "uma conspiração que entregava aos soviéticos
informações militares e industriais confidenciais"
Julius
Rosenberg nasceu em 12 de maio de 1918 em uma família de imigrantes judeus na
cidade Nova Iorque. Informações censitárias de 1920 indicam que sua família morou no endereço 205
East 113th Street quando Julius tinha cerca de 2 anos de idade, mas se mudaram
para o Lower East Side quando ele tinha 11 anos.
Seus
pais trabalhavam em lojas do Lower East Side, enquanto Julius frequentava a
escola Seward Park. Julius acabou virando líder da Liga Jovem Comunista onde em
1936 conheceu Ethel Greenglass, com quem se casaria três anos depois. Ele se
formou em engenharia elétrica pela City College de Nova Iorque em 1939 e, no ano seguinte,
passou a trabalhar para o Exércitocomo técnico de radar.
Ethel
Greenglass nasceu em 28 de setembro de 1915 também em uma família de judeus de Nova
Iorque. Ela era aspirante,atriz e cantora, mas acabou se tornando secretária em uma
companhia de navegação. Ela começou a se envolver em disputas trabalhistas e se
juntou à Liga Jovem Comunista, onde conheceu Julius. Os Rosenbergs tiveram dois
filhos, Robert e Michael, que foram adotados pelo professor e compositor Abel Meeropol e
sua mulher Anne após a execução de seus pais.
De
acordo com o ex-agente da NKVD Alexander Feklisov, Julius Rosenberg foi
originalmente recrutado pela KGB no Dia do Trabalho de
1942 pelo ex-espião da NKVD Semyon Semyonov. Julius foi apresentado a Semenov
por Bernard Schuster, um alto oficial do Partido
Comunista dos Estados Unidos da América e contato oficial de Earl Browder, secretário-geral do partido, no
NKVD. Após Semenov ser chamado de volta a Moscou em 1944, seus trabalhos foram continuados
por seu aprendiz, Feklisov.
De
acordo com Feklisov, Julius forneceu milhares de documentos confidenciais da
Companhia Emerson Electric, assim como um fusível de proximidade (ou fusível
VT), o mesmo utilizado para abater o avião de Francis Gary Powers em 1960. Sob a gerência de Feklisov, Julius teria recrutado
indivíduos simpáticos ao trabalho da KGB, dentre eles, Joel Barr, Alfred
Sarant, William Perl e Morton Sobell.
Ainda
de acordo com o relato de Feklisov, Julius era suprido por Pearl com milhares
de documentos do Comitê Consultivo Nacional para Aeronáutica, incluindo uma série completa dos desenhos do
P-80 Shooting Star. Feklisov afirma que descobriu, através de Julius, que o
irmão de Ethel, David Greenglass, estava trabalhando no ultra-secreto Projeto Manhattan noLaboratório
Nacional de Los Alamos e
utilizou Julius para recrutá-lo.
Durante
a Segunda
Guerra Mundial, os governos da União
Soviética e dos Estados Unidos fizeram parte das Forças
Aliadas contra a Alemanha Nazista.
Mesmo assim, o governo estadunidense era altamente suspeito das intenções
de Josef Stalin e, dessa forma, os estadunidenses não compartilharam informações
estratégicas com os soviéticos, especialmente em relação ao Projeto Manhattan.
Porém, os soviéticos estavam conscientes do projeto devido à espionagem que
exerciam no governo e fizeram várias tentativas de infiltração em suas
operações na Universidade
de Berkeley. Alguns participantes do
projeto, alguns deles de alto escalão, ofereceram voluntariamente informações
secretas aos agentes soviéticos, muitos porque tinham afinidades com o comunismo (ou ao papel da União Soviética na guerra)
e achavam que os EUA não deveriam exercer monopólio sob
as armas atômicas.
Após
a guerra, o governo dos EUA continuou a proteger seus segredos nucleares, mas a
União Soviética já era capaz de produzir suas próprias armas atômicas em 1949.
O Ocidente ficou chocado com a rapidez com que os soviéticos foram capazes de
fazer seu primeiro teste nuclear, intitulado de "Joe 1". Em janeiro
de 1950 foi descoberto que um refugiado alemão, físico teórico trabalhando para
os britânicos no
Projeto Manhattan, Klaus Fuchs, havia passado importantes documentos aos
soviéticos durante a guerra. Através da confissão de Fuchs, agentes dos
serviços de inteligência dos EUA e da Grã-Bretanha foram capazes de desvendar
seu informante, de codinome Raymond, era Harry Gold, que foi preso em 23 de maio de
1950. Harry Gold confessou ter obtido dados de um ex-maquinista em Los Alamos.
Não sabia o nome dele, mas sua esposa se chamava Ruth. Assim os investigadores
chegaram ao Sargento David Greenglass, que confessou ter passado informações
secretas à União Soviética. Apesar de ter inicialmente negado qualquer
envolvimento da irmã Ethel no caso, ele afirmou que o marido dela, Julius, a
convenceu a recrutar o irmão durante uma visita a Gold em Albuquerque, Novo México em 1944 e que ele também havia passado informações
confidenciais aos soviéticos.
O
outro conspirador acusado, Morton Sobell, estava de férias na Cidade do México quando os Rosenbergs foram presos. Em seu livro On Doing
Time (1974), ele narra como tentou fugir para a Europa sem um passaporte, mas foi sequestrado por membros da polícia
secreta mexicana e levado até a fronteira
com os EUA, onde foi preso.
Oficialmente, o governo estadunidense afirmou que ele havia sido
"deportado", mas em 1956 o governo mexicano afirmou que ele nunca havia
sido deportado. Ele foi julgado junto com os Rosenbergs sob a acusação de
conspiração para cometer espionagem.
Foto
de Julius após sua prisão.
Foto policial de Ethel.
O
julgamento dos Rosenbergs começou em 6 de março de 1951. O juiz foi Irving Kaufman, que impôs a pena de morte ao
casal, afirmando que o que eles haviam cometido era "pior que
assassinato". O advogado dos Rosenbergs foi Emanuel Hirsch Bloch. A
principal testemunha da acusação foi David Greenglass, que afirmou que a irmã
havia digitado notas contendo segredos nucleares dos EUA no apartamento do
casal em setembro de 1945. Ele também afirmou que um rascunho que havia feito
da secção transversal de uma bomba atômica de implosão (como a "Fat
Man" jogada em Nagasaki)
também havia sido entregue a Julius na mesma ocasião.
Desde
o início o julgamento atraiu grande atenção da mídia, assim como o julgamento
de Alger Hiss.
Além da defesa dos Rosenbergs durante o julgamento, não houve nenhuma expressão
pública de dúvida em relação à culpa deles na mídia (incluindo nos veículos de
esquerda e comunistas). A primeira ruptura com a unanimidade da mídia no caso
só iria ocorrer em agosto de 1951, quando foi publicada uma série de
reportagens
sobre o julgamento no jornal de esquerda The National Guardian.
Somente após a publicação dos artigos é que um comitê de defesa foi formado.
Entretanto,
entre o julgamento e a execução houve uma série de protestos e acusações
de anti-semitismo. Por exemplo, o vencedor do Prêmio NobelJean-Paul Sartre chamou
o caso de "um linchamento legalizado que mancha de sangue toda uma
nação". Outros, incluindo não-comunistas comoAlbert Einstein e
o químico e cientista atômico vencedor do Nobel Harold Urey,
além de artistas comunistas como Nelson Algren, Dashiell Hammett,Jean Cocteau, Diego Rivera e Frida Kahlo,
protestaram contra a posição do governo dos EUA no caso, que alguns viram como
a versão estadunidense do caso Dreyfus.
Em maio de 1951, Pablo Picasso escreveu
para o jornal francês L'Humanité: "as horas contam, os minutos
contam. Não deixem este crime contra a humanidade ocorrer". O Papa Pio XII condenou
a execução. O cineasta Fritz Lang e
o dramaturgo Bertolt Brechttambém fizeram declarações contra a morte do casal. O Papa Pio XII
apelou ao presidente Dwight D. Eisenhower para poupar o casal, mas Eisenhower recusou-se a 11 de fevereiro de 1953, e todos os outros recursos também foram
vencidos.
Apesar
das anotações alegadamente digitadas por Ethel conterem pouca informação
relevante ao projeto atômico soviético, isto foi prova suficiente para o júri
condenar o casal na acusação de conspiração para cometer espionagem. Foi
sugerido que Ethel foi indiciada junto ao marido para que a promotoria pudesse
usá-la para fazer pressão para que Julius revelasse os nomes de outros
envolvidos no caso. Se este foi o caso, obviamente não funcionou. No banco das
testemunhas, Julius utilizou o direito da Quinta Emenda da Constituição
dos EUA de não incriminar a si
mesmo toda vez que era indagado sobre seu envolvimento no Partido Comunista ou
sobre seus membros. Ethel fez o mesmo. Nenhum dos dois conseguiu atrair a
simpatia do júri.
Os
Rosenbergs foram condenados pelo júri em 29 de março de
1951 e, em 5 de abril, sentenciados à morte pelo juiz Irving Kaufman. A
condenação do casal serviu como combustível para as investigações de
"atividades anti-americanas" do senador Joseph McCarthy.
Enquanto a devoção dos dois à causa comunista era bem documentada, os
Rosenbergs negaram participação nas acusações de espionagem mesmo minutos antes
de serem levados à cadeira elétrica.
Os Rosenbergs foram os únicos civis
estadunidenses executados durante a Guerra
Fria por espionagem. Em
sua argumentação impondo a pena de morte ao casal, o juiz Kaufman
responsabilizou os dois não só pela espionagem, mas também pelas mortes
da Guerra da Coreia.
O
caso dos Rosenbergs estava no centro de uma controvérsia sobre o comunismo nos
Estados Unidos. Seus apoiadores defendiam que a condenação era um exemplo
escandaloso das perseguições típicas da histeria do momento (Macartismo), conectando o caso com o das caças às bruxas
na Idade Medieval e em Salém(uma
comparação que serviu de inspiração para a aclamada peça As Bruxas de Salem de Arthur Miller).
Após
a publicação da série de reportagens no National Guardian e a
formação do Comitê Nacional pela Justiça no Caso Rosenberg, alguns
estadunidenses passaram a acreditar que ambos os Rosenbergs eram inocentes ou
que receberam uma pena dura, dando início a uma campanha popular para tentar
evitar a execução do casal. O Papa Pio XII apelou diretamente ao
presidente Dwight D. Eisenhower para poupar a vida dos dois, mas Eisenhower recusou-se em 11 de fevereiro de 1953 e todos os outros recursos foram negados.
Em 12 de setembro de2008,
o co-réu Morton Sobell admitiu que ele e Julius eram culpados da acusação de
espionagem para a União Soviética. Ele afirmou, entretanto, que apesar de saber
sobre as atividades do marido, Ethel não participou ativamente.
Alexander Feklisof
De
acordo com Alexandre Feklisov, o ex-agente soviético que era o contato de
Julius, ele não passou à União Soviética nenhum material sobre a bomba atômica
com informação que fosse útil. "Ele não entendia nada sobre a bomba
atômica e não pôde nos ajudar", afirmou.
David
Greenglass
O
irmão de Ethel, testemunha-chave da acusação, refutou seu testemunho sobre as
anotações que ela teria digitado. Em uma entrevista em 2001, ele declarou: "Francamente, não sei quem
as digitou e hoje não consigo me lembrar das digitações acontecendo. Não tenho
memória alguma daquilo". Ele disse que deu falso testemunho para
proteger a esposa Ruth e que foi encorajado pela promotoria a fazê-lo: "Eu
não sacrificaria minha esposa e meus filhos pela minha irmã".21 Ele
se recusou a demonstrar remorso pela decisão de sacrificar a irmã, dizendo que
ele só o fez porque não sabia que a pena de morte seria invocada.21
Morton
Sobell
Em
2008, após vários anos de negação, Morton Sobell finalmente admitiu ter sido
espião soviético. De acordo com ele, Julius estava em uma "conspiração para
fornecer aos soviéticos informações militares e industriais confidenciais …
[sobre] a bomba atômica". Entretanto, ele declarou que os diagramas
as informações passadas a Julius por Greenglass tiveram "pouco valor"
para a União Soviética. Ele também declarou que Ethel era completamente
inocente; ela sabia das atividades do marido, mas não participava delas.
Memórias
de Nikita Khrushchev
Nikita Khrushchev, líder da União Soviética de 1958 a 1964, escreveu sobre o casal em sua
autobiografia, publicada postumamente em 1990. De acordo com as memórias de
Kruschchev, ele soube através de Stálin e Viatcheslav Molotov que Julius e Ethel Rosenberg "forneceram ajuda muito
significante para acelerar a produção de nossa bomba atômica". Entretanto,
o diretor da organização onde a União Soviética desenvolveu sua primeira bomba
atômica negou qualquer envolvimento dos Rosenbergs na produção da mesma. Em
1989, Boris V. Brokhovich disse ao The New York Times que o desenvolvimento da bomba deu-se através do processo de
tentativa e erro. "Vocês fizeram os Rosenbergs se sentarem na cadeira
elétrica por nada", declarou. "Não obtivemos nada dos
Rosenbergs".
Os
Rosenbergs serviam de tema para vários filmes, programas de televisão e obras
literárias:
Ethel
Rosenberg é uma personagem coadjuvante de destaque na aclamada peça Angels
in America: A Gay Fantasia on National Themes (1992) de Tony Kushner,
na qual seu fantasma assombra um moribundo Roy Cohn (advogado conservador que fez parte do
time de acusação do casal e que mais tarde descobriu-se que era homossexual).
Na adaptação da HBO da peça, ela é interpretada por Meryl Streep.
No filme de 1992 Citizen Cohn, que possui trama semelhante, ela é
interpretada por Karen Ludwig.
Faiz Ahmed
Faiz, celebrado poeta comunista
do Sul da Ásia,
celebrou os sacrifícios de Julius e Ethel Rosenberg em seus poemas, que são
hoje clássicos da posia em língua Urdu.
O
livro The Book of Daniel de E. L.
Doctorow conta a históra do caso
dos Rosenbergs sob a perspectiva do fictício filho adolescente do casal. A obra
serviu de inspiração para o filme Daniel (1983), dirigido por Sidney Lumet e
estrelado por Timothy Hutton.
Outro
romance que trata do caso é The Public Burning de Robert
Coover. Ao contrário de Doctorow, Coover utiliza os nomes verdadeiros dos
protagonistas do caso, além de uma versão fictícia de Richard Nixon como
narrador em metade do livro. Isso causou uma demora na publicação do romance,
uma vez que as editoras temiam ser alvo de processos por uso indevido de
imagem. Outras obras que tratam do caso são Ethel, romance
semi-autobiográfico de Tema Nason, e Harry Gold de Millicent
Dillon.
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