sábado, 2 de agosto de 2014

HISTÓRIA DA CULINÁRIA MINEIRA

 Tutu a mineira

Durante o século XVIII o Brasil viveu o ciclo do ouro com a descoberta das riquezas minerais em Minas Gerais. O ouro e o diamante atraíram milhares de pessoas de diferentes regiões do Brasil e Portugal, interessadas em ganhar dinheiro com o garimpo. A região da atual Minas Gerais na época era pouco explorada e os índios ofereciam resistência aos exploradores. Em pouco tempo as áreas de mineração se tornaram o mais importante centro econômico do Reino Português, o que fez com que as atividades produtivas de outras regiões brasileiras se integrassem em um comércio que trazia comida, roupas, ferramentas e artigos de luxo para Minas Gerais.

Vaca atolada
Com a rápida imigração de grande número de pessoas, as cidades ficaram superlotadas e consequentemente ocorreu falta de alimentos. Nas terras afastadas das cidades, ainda sem donos e procuradas pelos chegados à região, a situação era ainda mais difícil para se conseguir comida. Na ânsia de tornarem-se ricas rapidamente, as pessoas preferiam garimpar ao invés de gastar tempo plantando, cuidando e colhendo alimentos. As terras irrigadas, próximas aos rios não eram usadas para plantações, pois eram as que ofereciam ouro de forma mais fácil e rápida, sendo controladas com pessoas armadas pelos ricos. Em locais onde se iniciava o plantio e surgisse algo no solo que parecesse ouro ou diamante, a plantação era destruída pelos plantadores ou outras pessoas em busca de riquezas. Existem registros das autoridades portuguesas de imigrantes que morreram com a barriga vazia e a bolsa cheia de ouro.

Caldo de mandioca

O isolamento dos locais, dificuldades de alimentação e insegurança com violência e roubos levaram a desistência e retirada de muitos mineradores. Para incentivar e organizar a extração das riquezas minerais, a Coroa Portuguesa criou povoações, com destacamentos militares e instituições burocráticas, o que incentivou uma nova leva de exploradores. As primeiras vilas como Mariana, Ouro Preto, Sabará, Diamantina e São João del-Rei, entre outras, surgiram nos locais da mineração. Havia grande quantidade de escravos usada como mão-de-obra para a exploração mineradora em rios e minas. Juízes, militares, funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes e artistas formavam a sociedade de Minas Gerais.
A falta de espaço nas vilas e povoados nas montanhas ao redor das minas fez surgir pequenas hortas e pomares onde alimentos de fácil cultivo como mandioca, couve, taioba, feijão, milho, inhame, abóbora, banana, laranja, goiaba, jabuticaba e outras frutas forneciam o sustento diário. Animais de pequeno porte e baixo custo de manutenção como o porco e galinha também eram criados no limitado espaço das casas. Destes eram usadas as carnes e ovos para o preparo dos mais diversos pratos. Até hoje as carnes dos típicos pratos mineiros são baseadas em galinha, porco e seus derivados.
Pratos como  leitão a pururuca, linguiça frita, couve refogada, tutu de feijão, frango com quiabo, vaca atolada (caldo de mandioca com costela de boi), angu e compotas de frutas fazem da culinária mineira uma das mais fáceis de serem reconhecidas através do seu sabor e características peculiares.
O sal era escasso e caro, por isso usava-se pouco deste ingrediente e foram criados pratos feitos à base de temperos fáceis e baratos como raízes, salsa, cebolinha, urucum e outros brotos nativos. Assim, a cozinha mineira se fez sem requintes, com os ingredientes nascendo no quintal de casa, tendo a criatividade como ingrediente mais importante.

Pão de queijo

A constante e desgastante atividade de mineração é uma das explicações para o costume de fazer cinco refeições por dia: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e café da noite.
Diferentes tipos de bolos, roscas, broas, biscoitos, queijos, requeijões, doces, além de café, licores e cachaças, entre outros alimentos característicos das refeições que não eram as duas principais com pratos salgados receberam a designação popular de quitutes. O lugar onde se vendiam esses alimentos tornaram-se conhecidos como quitandas, que posteriormente acabou por designar também esse tipo de comida.
O termo quitanda tem origem africana (do dialeto quimbundo “Kitanda”), designando o tabuleiro em que se expunham os diversos alimentos em feiras livres ou dos vendedores ambulantes. A palavra quitute, também de origem africana (do dialeto banto “Kitutu”), designa um alimento refinado e valioso, que foge à alimentação consumida pela necessidade de sobrevivência, significando também indigestão. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário