Durante o século XVIII o Brasil viveu o ciclo do
ouro com a descoberta das riquezas minerais em Minas Gerais. O ouro e o
diamante atraíram milhares de pessoas de diferentes regiões do Brasil e
Portugal, interessadas em ganhar dinheiro com o garimpo. A região da atual
Minas Gerais na época era pouco explorada e os índios ofereciam resistência aos
exploradores. Em pouco tempo as áreas de mineração se tornaram o mais
importante centro econômico do Reino Português, o que fez com que as atividades
produtivas de outras regiões brasileiras se integrassem em um comércio que
trazia comida, roupas, ferramentas e artigos de luxo para Minas Gerais.
Vaca atolada
Com a rápida imigração
de grande número de pessoas, as cidades ficaram superlotadas e consequentemente
ocorreu falta de alimentos. Nas terras afastadas das cidades, ainda sem donos e
procuradas pelos chegados à região, a situação era ainda mais difícil para se
conseguir comida. Na ânsia de tornarem-se ricas rapidamente, as pessoas
preferiam garimpar ao invés de gastar tempo plantando, cuidando e colhendo
alimentos. As terras irrigadas, próximas aos rios não eram usadas para
plantações, pois eram as que ofereciam ouro de forma mais fácil e rápida, sendo
controladas com pessoas armadas pelos ricos. Em locais onde se iniciava o
plantio e surgisse algo no solo que parecesse ouro ou diamante, a plantação era
destruída pelos plantadores ou outras pessoas em busca de riquezas. Existem
registros das autoridades portuguesas de imigrantes que morreram com a barriga
vazia e a bolsa cheia de ouro.
Caldo de mandioca
O isolamento dos locais, dificuldades de alimentação e insegurança com violência e roubos levaram a desistência e retirada de muitos mineradores. Para incentivar e organizar a extração das riquezas minerais, a Coroa Portuguesa criou povoações, com destacamentos militares e instituições burocráticas, o que incentivou uma nova leva de exploradores. As primeiras vilas como Mariana, Ouro Preto, Sabará, Diamantina e São João del-Rei, entre outras, surgiram nos locais da mineração. Havia grande quantidade de escravos usada como mão-de-obra para a exploração mineradora em rios e minas. Juízes, militares, funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes e artistas formavam a sociedade de Minas Gerais.
A falta de espaço nas
vilas e povoados nas montanhas ao redor das minas fez surgir pequenas hortas e
pomares onde alimentos de fácil cultivo como mandioca, couve, taioba, feijão,
milho, inhame, abóbora, banana, laranja, goiaba, jabuticaba e outras frutas forneciam
o sustento diário. Animais de pequeno porte e baixo custo de manutenção como o
porco e galinha também eram criados no limitado espaço das casas. Destes eram
usadas as carnes e ovos para o preparo dos mais diversos pratos. Até hoje as
carnes dos típicos pratos mineiros são baseadas em galinha, porco e seus
derivados.
Pratos como
leitão a pururuca, linguiça frita, couve refogada, tutu de feijão, frango
com quiabo, vaca atolada (caldo de mandioca com costela de boi), angu e
compotas de frutas fazem da culinária mineira uma das mais fáceis de serem
reconhecidas através do seu sabor e características peculiares.
O sal era escasso e
caro, por isso usava-se pouco deste ingrediente e foram criados pratos feitos à
base de temperos fáceis e baratos como raízes, salsa, cebolinha, urucum e
outros brotos nativos. Assim, a cozinha mineira se fez sem requintes, com os
ingredientes nascendo no quintal de casa, tendo a criatividade como ingrediente
mais importante.
Pão de queijo
A constante e desgastante atividade de mineração é uma das explicações para o costume de fazer cinco refeições por dia: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e café da noite.
Diferentes tipos de
bolos, roscas, broas, biscoitos, queijos, requeijões, doces, além de café,
licores e cachaças, entre outros alimentos característicos das refeições que
não eram as duas principais com pratos salgados receberam a designação popular
de quitutes. O lugar onde se vendiam esses alimentos tornaram-se conhecidos
como quitandas, que posteriormente acabou por designar também esse tipo de
comida.
O termo quitanda tem
origem africana (do dialeto quimbundo “Kitanda”), designando o tabuleiro em que
se expunham os diversos alimentos em feiras livres ou dos vendedores
ambulantes. A palavra quitute, também de origem africana (do dialeto banto
“Kitutu”), designa um alimento refinado e valioso, que foge à alimentação
consumida pela necessidade de sobrevivência, significando também indigestão.
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