Por
Nelson Rocha
“Há um pacto de vinte séculos entre a grandeza da
França e a liberdade do mundo”. A declaração do General De Gaulle
(1890-1970), autor também da célebre frase “o Brasil não é
um país sério”, exposta na base da estátua do grande líder francês posta
próxima da Place de La Concorde, já quase no final da mais bela avenida do
planeta, a Champs-Élysées (Campos Elísios) – palco de desfiles
patrióticos, comemorações esportivas e manifestações políticas –, pode ser bem
sentida por quem tem a oportunidade de transitar entre cafés, cinemas, lojas
luxuosas e árvores de castanhas da Índia do local, cenário de aluguéis de até
1,1 milhão de euros ( 3,3 milhão de reais) por ano, por 92,9 metros
quadrados de espaço – só fica atrás da Bond Street de Londres –, a segunda
avenida mais cara em imóveis em toda a Europa. Para ela convergem representantes
de todas as nacionalidades, a maioria de férias, com olhares curiosos e
expressões de felicidade que bem expressam o desejo eterno de paz universal
para a raça humana.
O culto e
recepcionista povo francês demonstra ser protagonista e principal mentor desta
sinergia pacífica, com uma dose invejável de orgulho. Atento, acompanha a
prática das suas conquistas sociais, resultado de séculos de lutas históricas,
e o que acontece além-fronteiras através, principalmente, dos jornais diários –
alguns disponíveis gratuitamente nos cafés e estações de metrô –, e
telejornais.
Na primeira semana, de uma temporada de quase
quatro, na capital francesa, pude notar, por exemplo, como repercutiu mal para
o governo brasileiro a reportagem de página inteira do tradicional diário
Liberátion, sobre o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras. E como as
pessoas demonstram satisfação ao tomar conhecimento de uma pesquisa que revela
estar o francês vivendo mais do que os japoneses e gastando mais também, apesar
de indicadores financeiros mostrarem uma crise econômica que persiste e se
agrava. Esta, entretanto, passa ainda bem longe da que já experimenta o
Brasil.
Mas, o que preocupa mesmo à maioria dos franceses
não é o anunciado retorno do direitista ex-chefe de estado Nicolas Sarkozy à
briga pela Presidência nas próximas eleições programadas para 2017, nem tão
pouco a discussão a respeito da lei que poderá impor a diminuição da taxa de
álcool no sangue dos jovens ao
volante ou o escândalo do deputado Thomas Thévenoud, ex-membro do Partido
Socialista que insiste em não sair da cadeira na Assembleia Nacional, mesmo
depois de provocar cólera e indignação nos franceses por não pagar seus
impostos.
A iniciada
“Guerra Santa” por parte dos jihadistas islâmicos, para os quais o Código Penal
(Charia) é o Corão, livro sagrado do islamismo, chama mais a atenção dos 66
milhões de habitantes da França, engajada na frente de uma batalha liderada
pelos Estados Unidos, que poderá durar alguns anos e custar caro aos cofres
públicos, mesmo com a venda das armas francesas, principalmente submarinos e
satélites militares, em alta, porque atrai, via internet, jovens para uma
frente de batalha sangrenta, deixando centenas de famílias de cabelo em pé
receosas com o destino destes.
A
propósito, o Brasil é o quinto país do mundo na lista de principais clientes de
equipamentos de defesa produzidos na terra do estrategista De Gaulle.
Enquanto aqui se inventa o turismo de amanhã,
conforme mostra o encontro que reúne dezenas de jovens empresas do setor maior
da economia parisiense, o mercado literário despeja milhares de novas
publicações, entre as quais cerca de 500 romances, o sol do verão se prepara
para dar passagem ao outono e Paris, governada por socialistas, comunistas e
ecologistas que disponibilizam 20 mil bicicletas e 2.500 carros elétricos para
seus moradores por valores irrisórios, se expõe imensa culturalmente, inspiradora politicamente
falando e, como sempre, determinada a manter sua postura secular como berço de
uma das principais potências mundiais. De resto só nos induz a observar o
quanto é bom redescobrir os seus monumentos ou simplesmente caminhar pelas suas
ruas centenárias onde entre uma esquina e outra há muita história a descobrir e
sempre um aconchegante bar, restaurante ou café que convida ao prazeroso ato de
relaxar.
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