segunda-feira, 15 de setembro de 2014

JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA


Ele é poeta, trovador, ficcionista, historiógrafo. Nasceu em Rodelas, Estado da Bahia, a 30 de junho de 192º, filho de Manoel Justiniano da Fonseca e Anfrosina Maria de Almeida.  Rodelas, povoação tricentenária situada à margem direta do Rio São Francisco na região das corredeiras, foi descoberta como aldeia indígena em 1646 e inundada com a barragem de Itaparica em 1988. Há hoje uma nova cidade.
Servidor público. Exerceu, por concurso público, os cargos de Auxiliar de Coletoria Federal, Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, correspondente, na atual nomenclatura, a de Auditor Fiscal da Receita Federal, tendo passado pelas comissões de inspetor de Coletorias Federais, Fiscal do Selo nas operações bancárias, etc. nomeado, num fim de carreira, para o cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, nessa condição se aposentou.  Exerceu ainda os mandatos de Vereador e Prefeito Municipal de sua terra natal.

Escritor prolixo, conta as seguintes obras publicadas: Safiras e outros poemas (poesia lírica); Brados do Sertão (poesia épico-social); Aquele homem (romance); Cacimba Seca(romance); Curraleiros, Índios e Missionários (história); e de um rol imenso de outros tantos. Foi editor da revista Poebras Salvador.  
Pertence ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, à União Brasileira de Trovadores, à Ordem Brasileira de Poetas Poetisas sonetistas do Brasil, à Academia Rio-grandense de Letras, à Academia Petropolitana de Poesia Raul Leoni, e outras tantas instituições culturais. É verberte na Enciclopédia de  Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho, 1990/2001, e do Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, 2ª edição, (1991).
São da sua lavra as seguintes trovas pescadas do seu livro Cantigas de Fuga ao Tédio.
(A trova é uma composição poética que foi adotada como definitiva, e, segundo Luiz Otávio, é “obra poética de quatro versos de sete sílabas cada um, rimando pelo menos o segundo com o quarto verso e tendo sentido completo”). Alguns autores dizem ser ela uma das mais difíceis expressões poéticas, isso pela condição de, obrigatoriamente, ter, de exprimir, em exíguos versos, uma ideia – princípio, meio e fim – trabalho árduo e asfixiante, nicho de muito poucos.
(Contudo, apesar de tais óbices, João Justiniano se fez um excepcional artífice do gênero, quiçá, um dos maiores.).
 
Tema saudade

Seja onde for, como for,
acaso ou fatalidade,
as cicatrizes de amor
rebentam sempre em saudade.

Saudade! Saudade é tedio,
ai, angústia, hipocondria
que tem cura no remédio
que a gente chama poesia.

Saudade é dentro da gente,
a alma do amor fenecido,
encarnado, renitente
no tumulto do sentido.

Tema mocidade

Sei de um casal de velhinhos
que vêm desde a mocidade
abraçados, bem juntinhos,
sem fazer conta da idade.

A mocidade é um estado
de espírito simplesmente,
há muito moço cansado
e muito velho potente.

De segunda até domingo
trabalho, não sinto a idade,
sofro, amo, não distingo
velhice de mocidade.

Tema erro
Errei, perdão, porque o erro
nasceu com a espécie humana.
Não fique querendo o enterro
de quem te quer, não te engana.

Meu erro foi me entregar
a uma mulher que suspira
e em razão disso, ficar
a cantar-lhe ao som da lira.

Tema templo

Um templo raro se enseja
na invasão, ao favelado,
que é a um só tempo uma igreja
e um novo crucificado.

Tema rendeira

Valendo um magro centavo,
ainda não foi superada
a economia de escravo
de renda e bico, almofadada.

Sem ter descanso, a rendeira,
num trabalho de formiga,
à almofada a vida inteira
canta um velha cantiga.

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