Ele é poeta,
trovador, ficcionista, historiógrafo. Nasceu em Rodelas, Estado da Bahia, a 30
de junho de 192º, filho de Manoel Justiniano da Fonseca e Anfrosina Maria de
Almeida. Rodelas, povoação tricentenária
situada à margem direta do Rio São Francisco na região das corredeiras, foi
descoberta como aldeia indígena em 1646 e inundada com a barragem de Itaparica
em 1988. Há hoje uma nova cidade.
Servidor
público. Exerceu, por concurso público, os cargos de Auxiliar de Coletoria Federal,
Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo,
correspondente, na atual nomenclatura, a de Auditor Fiscal da Receita Federal,
tendo passado pelas comissões de inspetor de Coletorias Federais, Fiscal do
Selo nas operações bancárias, etc. nomeado, num fim de carreira, para o cargo
vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da
Bahia, nessa condição se aposentou.
Exerceu ainda os mandatos de Vereador e Prefeito Municipal de sua terra
natal.
Escritor
prolixo, conta as seguintes obras publicadas: Safiras e outros poemas (poesia
lírica); Brados do Sertão (poesia épico-social); Aquele homem (romance);
Cacimba Seca(romance); Curraleiros, Índios e Missionários (história); e de um
rol imenso de outros tantos. Foi editor da revista Poebras Salvador.
Pertence ao
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, à União Brasileira de Trovadores, à
Ordem Brasileira de Poetas Poetisas sonetistas do Brasil, à Academia
Rio-grandense de Letras, à Academia Petropolitana de Poesia Raul Leoni, e
outras tantas instituições culturais. É verberte na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho,
1990/2001, e do Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, 2ª
edição, (1991).
São da sua
lavra as seguintes trovas pescadas do seu livro Cantigas de Fuga ao Tédio.
(A trova é uma composição poética que foi adotada como definitiva, e,
segundo Luiz Otávio, é “obra poética de quatro versos de sete
sílabas cada um, rimando pelo menos o segundo com o quarto verso e tendo
sentido completo”). Alguns autores dizem ser ela uma das mais difíceis
expressões poéticas, isso pela condição de, obrigatoriamente, ter, de exprimir,
em exíguos versos, uma ideia – princípio, meio e fim – trabalho árduo e
asfixiante, nicho de muito poucos.
(Contudo,
apesar de tais óbices, João Justiniano se fez um excepcional artífice do
gênero, quiçá, um dos maiores.).
Tema saudade
Seja onde
for, como for,
acaso ou
fatalidade,
as
cicatrizes de amor
rebentam
sempre em saudade.
Saudade!
Saudade é tedio,
ai,
angústia, hipocondria
que tem cura
no remédio
que a gente
chama poesia.
Saudade é
dentro da gente,
a alma do
amor fenecido,
encarnado,
renitente
no tumulto
do sentido.
Tema mocidade
Sei de um
casal de velhinhos
que vêm desde
a mocidade
abraçados,
bem juntinhos,
sem fazer
conta da idade.
A mocidade é
um estado
de espírito
simplesmente,
há muito
moço cansado
e muito
velho potente.
De segunda
até domingo
trabalho,
não sinto a idade,
sofro, amo,
não distingo
velhice de
mocidade.
Tema erro
Errei,
perdão, porque o erro
nasceu com a
espécie humana.
Não fique
querendo o enterro
de quem te
quer, não te engana.
Meu erro foi
me entregar
a uma mulher
que suspira
e em razão
disso, ficar
a cantar-lhe
ao som da lira.
Tema templo
Um templo
raro se enseja
na invasão,
ao favelado,
que é a um
só tempo uma igreja
e um novo
crucificado.
Tema rendeira
Valendo um
magro centavo,
ainda não
foi superada
a economia
de escravo
de renda e
bico, almofadada.
Sem ter
descanso, a rendeira,
num trabalho
de formiga,
à almofada a
vida inteira
canta um
velha cantiga.
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