Livro
Romance de Aluísio
Azevedo (domínio público)
Esta obra foi baseada
num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em
1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de
Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade sobre
o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a
realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada.
Autor fiel à tendência
naturalista difundida pelo realismo, Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra,
problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças
sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam
jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo,
o naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos
desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.
Personagens
Os personagens, sob
nomes fictícios, escondem pessoas reais:
Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João Capistrano da Silva) estudante, acusado de
sedução. Foi absolvido.
Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia.
Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz,
assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão:
João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia
Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido).
Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da
moça.
Resenha
Amâncio (Da Silva Bastos
e Vasconcelos), rapaz rico e provinciano, abandona o Maranhão e segue de navio
para o Rio de Janeiro (a Corte) a fim de se encaminhar nos estudos e na vida. É
um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de
ilusões e vazio de propósitos de estudar... A mãe fica chorosa e o pai,
indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O rapaz tinha
que se tornar um homem.
Amâncio começa morando
em casa do sr. Campos, amigo do Pai, e, forçado, se matricula na Escola de
Medicina. Ia começar agora uma vida livre para compensar o tempo em que viveu
escravizado às imposições do pai e do professor, o implacável Pires.
Por convite de João
Coqueiro, coproprietário de uma casa de pensão, junto com a sua velhusca mulher
Mme. Brizard muda-se para lá. É tratado com as maiores preferências: os donos
da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu
casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de baixo interesses,
sobretudo de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria para fazer explodir a
super-sensualidade do maranhense.
"Ele, coitado,
havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na ramificação de seu
caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e enfolhado, porque de
todos só esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."
A casa de pensão era um
amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da hipócrita
moralidade pregada pelo seu dono: havia miséria física e moral, clara e oculta.
Com a chegada de Amâncio, a pensão passou a arapuca para prender nos seus laços
o jovem, inesperto e rico estudante: pegar o seu dinheiro e casá-lo com a irmã
do Coqueiro. Para alcançar o fim, todos os meios eram absolutamente lícitos.
Amélia, principalmente quando da doença do rapaz, se desdobrou nos mais íntimos
cuidados. Até que se tornou, disfarçadamente, sua amante. Sempre mantendo as
aparências do maior respeito exigido dentro da pensão pelo João Coqueiro...
O pai de Amâncio morre
no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo que terminarem os
seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para vê-la e ver os
negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de pensão e a Amélia:
este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do casamento. Amâncio
prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial e justiça
acompanhado de policiais o prende para apresentação à delegacia e prestação de
depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça. João Coqueiro prepara tudo:
o caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr. Teles de Moura. Aparecem
duas testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado processo: uma confusão de
mentiras, de fingimentos, de mau caratismo contra o jovem rico e desfrutável
para os interesses pecuniários de Mme. Brizard e marido. Há uma ressonância
geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amâncio. O
senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz
chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D.
Hortênsia. E se coloca contra quem não soube respeitar nem a sua casa...
Três meses depois de
iniciado o processo, Amâncio é absolvido. O rapaz é levado em triunfo para um
almoço, no Hotel Paris.
"Amâncio passava de
braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher famosa." Todo
mundo olhava com curiosidade e admiração o estudante absolvido. E lhe atiravam
flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à Liberdade. Os músicos alemães tocaram
a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.
Em outro plano,
Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva. Em casa o
destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas
reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele.
Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...
Pegou, na gaveta, o
revólver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o cano no
ouvido. Não teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injúrias pela sua
covardia e mau caráter... No dia seguinte, de manhã, saiu sinistro. Foi ao
Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante com a rapariga
Jeanete. Esta abriu a porta. Amâncio dormia, depois da festa e da bebedeira, de
barriga para cima. Coqueiro atirou a queima-roupa. Amâncio passa a mão no
peito, abre os olhos, não vê mais ninguém. Ainda diz uma palavra:
"mamãe" ... e morre.
Coqueiro foi agarrado
por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o
necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um
funeral grandioso com a presença de políticos, notícias e necrológicos nos
jornais, a cidade toda abalada. A tragédia tomou conta de todos.
A opinião pública começa
a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro tinha lavado a honra da
irmã...
Quando D. Ângela, envelhecida
e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da confusão, procurando o
filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho "na mesa do
necrotério, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda: "Amâncio de
Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro, no Hotel Paris...
Fonte: Passei WEB
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