sábado, 20 de setembro de 2014

DE CERTEZAS, DÚVIDAS E EPITÁFIOS

 Crônica de Jayme Barbosa

Toda vitória é parcial,
toda conquista, provisória e
toda certeza, suspeita.

Como toda verdade tem pelo menos dois lados, é bom às vezes a gente confrontar as versões disponíveis para fomentar as dúvidas e afastar a chatice das certezas. Com o saber, cresce a dúvida.
Alguns, por sorte, não sofrem dessas angústias nem percebem a vastidão de ignorância que nos cerca, levam a vida exibindo sapiência e morrem cheios de verdades. Que Deus os tenha. Não sejamos tão radicais quanto Yeats: “Os melhores carecem de qualquer convicção, enquanto os piores estão repletos de apaixonada intensidade”, ou Montaigne: “A obstinação e a convicção exagerada são a prova mais evidente da estupidez”, afinal, melhores ou piores, todos têm direito às suas certezas.
Outro dia, neste exercício de apreciar ditos e contrapontos, botei os olhos na surrada máxima de Stuart Mill, que traduz a essência do utilitarismo e frequenta todos os botecos e borracharias do mundo: “Faça aos outros o que gostaria que lhe fizessem. Eles poderão não ter o mesmo gosto”. Decisão difícil como se vê.

Poe essas e outras é que se deve estar atento ao conselho de Kathy Holder: “Não leve a vida tão a sério. Ela não é permanente”, que Millôr Fernandes simplifica: “A morte é hereditária”.  E que seja sem reencarnação, mesmo que conte tempo para o INSS.
E agora que o mapeamento do genoma humano vai permitir aos viventes saberem de quê e quando irão morrer – excluindo-se os casos de balas perdidas ou endereçadas -, o povo deu para pensar nos ditos dos seus epitáfios, que [e a única vaidade que resta depois da morte. Isto é, para os que ficam.
É verdade que, diante de tanto texto tumular bem bolado, não vale gastar tempo e juízo a elaborar orações para a própria lápide. Eu, que sou por natureza mão-aberta, oferto aqui os dizeres do sarcófago de Isaac Newton, já devidamente traduzido do latim para a nossa inculta e bela: “Que os mortais se congratulem por haver existido tão insigne ornamento no seio da raça humana. Para os mais modestos, recomendo o que o poeta José Paulo Paes para si compôs: “para quem sempre pediu tão pouco/ o nada é positivamente um exagero”.  

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