sábado, 20 de setembro de 2014

HERÓIS HISTÓRICOS DO BRASIL

 O panteão da pátria

 Panteão da pátria – Tancredo Neves, Brasília

 Quando a humanidade começou a forjar os seus heróis? No ocidente, a Grécia Antiga celebrava deuses e heróis. Dependendo do seu feito, um homem mortal poderia ser lembrado para sempre e se juntar ao panteão dos deuses, como destaca a historiadora Mary Del Priore.


40 heróis e heroínas inscritos no livro do senado

"Esse conceito de herói, essa noção de herói está referencializada à mitologia grega. É aí, lá longe, lá atrás, na Grécia Antiga, imaginando que houvessem pessoas completamente sem manchas e marcadas por uma grande coragem e gestos grandiloquentes que nasce essa perspectiva de se constituir um panteão de heróis que tivessem por objetivo atingir o Olimpo, que era uma espécie de céu dos heróis. "

Se na Antiguidade um panteão era dedicado aos deuses, na modernidade ele aparece como um monumento dedicado à memória dos heróis nacionais.


Em Brasília, o Panteão da Pátria é uma bonita construção em mármore com o formato de uma pomba. Lá dentro, tapetes escuros por todas as paredes criam um ambiente de muito impacto. 

No salão principal, a escuridão revela um imenso painel que conta a saga de Tiradentes. Ao lado, o Livro de Aço dos heróis da pátria. Nele, são inscritos os nomes dos brasileiros que conquistaram a estatura de herói. 

Lá estão Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Deodoro da Fonseca e Dom Pedro I. O patrono do Exército Duque de Caxias, os almirantes Tamandaré e Barroso, Plácido de Castro, Santos Dumont e José Bonifácio de Andrada também têm suas páginas no Livro de Aço. 

A maior parte desses homens realizou seus feitos no século XIX, momento de consolidação do território brasileiro. 


Naquela época, um sentimento de identidade nacional estava sendo construído e a imagem de bravura de alguns homens alimentou esse ideal de nação. Mas heróis cultuados representam também as pessoas que estão no poder. 

O historiador Renilson Rosa Ribeiro mostra, por exemplo, como a figura de Tiradentes mudou ao longo do tempo. 


"No Império, se você pegar os quadros do Pedro Américo, ele é representado esquartejado, a questão do castigo. Na República, ele vai ter momento de aparecer como uma figura muito próxima de Jesus Cristo, barbudo, cabelo comprido, com essa situação de sofredor, daquele que luta pela pátria. No período militar ele vai aparecer como a figura do alferes, uma figura de um militar. No período da abertura, nos anos 80, ele vai aparecer como um homem das classes populares, que lutava pelo interesse da liberdade, contra a escravidão."

Tiradentes não foi cultuado no período do Império pois ele representava um ideal de liberdade que questionava a monarquia. 

Nos dias de hoje, a história moderna segue pesquisando e descobre aspectos inusitados de sua figura. A historiadora Mary Del Priore destaca que estudos atuais têm mostrado uma faceta muito humana dos homens considerados heróis. 

"Hoje, graças a uma série de novas pesquisas, nós sabemos, por exemplo, Tiradentes, longe de ser um coitadinho, de barba comprida parecendo Papai Noel, que carregava sua botica de cirurgião dentário nas costas, era um homem que possuía escravos, possuía bens, possuía casas e terras. Sabemos também, o que é muito interessante, que uma parte expressiva dos conjurados da Inconfidência, eram homens que subornaram os juízes, na época do processo, para resguardar ou para salvar os seus


bens e o seu patrimônio. 

Mary Del Priore destaca que hoje em dia é muito difícil manter a imagem tradicional que temos dos heróis. Afinal de contas, um herói exige uma vida pública e privada sem manchas e nós não somos criaturas do Olimpo. Somos apenas seres humanos. 

O historiador Renilson Rosa Ribeiro aponta que uma abordagem moderna do ensino pede uma reflexão do porquê esses homens foram escolhidos como heróis. 

Ele lembra que a escolha de um nome para herói nunca é neutra, sendo preciso entender o jogo de forças que determina se uma personalidade será lembrada pela história ou não. 


Ao lado disso, o historiador destaca que o debate no espaço público não deve estar reservado somente para as grandes figuras. 

"Em vez da celebração cega e de culto de figuras, um exercício de interpretação de qual o papel delas na nossa cultura política, no nosso imaginário nacional, a gente perceber quais os personagens estão de fora, porque estão de fora. Eu acho que quando nós celebramos grandes figuras, a gente deixa meio que dito ao aluno que o espaço público, a esfera pública de debates são sempre das grandes pessoas. E isso acaba esvaziando o espaço da sala de aula, o espaço da praça pública, o espaço das ruas."

Sim, a abordagem de como vemos os heróis nacionais mudou, mas eles ainda representam ideais e valores. Quem destaca essa questão é Ernesto Ilísio de Oliveira, professor que trabalha no centro cultural que abriga o Panteão da Pátria, em Brasília. 


Ernesto recebe alunos das redes pública e privada que vêm conhecer a Praça dos Três Poderes. Para ele, conhecer as figuras de destaque do passado incentiva as crianças a vislumbrarem ideais pelos quais lutar. 

"Isso para a criança é significativo. Para ela, sentir esse ideal de se fazer algo que seja para o bem comum, para outras pessoas, é importante. A gente sempre procura fazer alguma coisa que nos beneficia. Você mostrar pra crianças a importância de se homenagear esses homens que fizeram algo importante e o que eles fizeram no passado, hoje está aí representado em diversos setores do conhecimento humano, isso é importante realmente. É o que eu falo para as crianças: o ideal é o que nos faz lutar no dia a dia. "

Para Ernesto de Oliveira, quando a criança olha e reconhece um feito de alguém do passado, ela pode inclusive reconhecer o esforço de quem está por perto, dos heróis anônimos de todos os dias. 


"A criança tem que ver isso não só no Tiradentes, no José Bonifácio, no Almirante Tamandaré, nesses heróis que estão inscritos no Livro de Aço. Ver também nas outras pessoas, aquelas pessoas comuns que estão com a gente que nos ajudam no dia-a-dia, os pais, valorizar o que os pais são pra eles. Isso tudo é uma forma de cidadania, de reconhecimento."

Bom, e qualquer cidadão brasileiro pode sugerir um nome para ser inscrito no Livro de Aço dos heróis da pátria. Para isso, é preciso procurar um parlamentar, deputado ou senador, que faça a proposta de um projeto de lei.

 
O projeto precisa ser aprovado na Câmara e no Senado, e depois sancionado pelo presidente da República. 

Outros heróis já passaram por esse processo mas ainda não tiveram o seu nome inscrito no Livro de Aço. São eles: Frei Caneca, Marechal Osório, Brigadeiro Sampaio e Barão de Serro Azul. 

No último mês de setembro, outro nome foi incluído nesse grupo, o do índio Sepé Tiaraju, que viveu no século XVIII e lutou pela população guarani no Rio Grande do Sul. 

Além disso, diversos projetos de lei tramitam no Congresso propondo outros nomes para o Panteão brasileiro.


Fonte: Câmara dos Deputados 

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