Ao contrário do quanto informado durante a sua inauguração, o Museu da
Língua Portuguesa não é o primeiro museu linguístico dedicado
a uma única língua em todo o mundo, existindo pelo menos outro: o Museu da
Língua Africâner, fundado
em 1975 na África do Sul.
Museu da Língua
Portuguesa ou Estação Luz da Nossa Língua é
um museu interativo
sobre a língua portuguesa localizado na cidade de São Paulo, Brasil no
histórico edifício Estação da Luz, no Bairro da Luz, concebido pela Secretaria da Cultura paulista em
conjunto com a Fundação Roberto Marinho, tendo um
orçamento de cerca de 37 milhões de reais (14,5 milhões de euros).
O objetivo do museu
é criar um espaço vivo sobre a língua portuguesa, considerada como base da cultura do Brasil, onde seja
possível causar surpresa nos visitantes com os aspectos inusitados e, muitas
vezes, desconhecidos de sua língua materna. Segundo os organizadores do museu, "deseja-se
que, no museu, esse público tenha acesso a novos conhecimentos e reflexões, de
maneira intensa e prazerosa". O museu tem como alvo principal a média
da população brasileira,
composta de pessoas provenientes das mais variadas regiões e faixas sociais do
país, mas que ainda não tiveram a oportunidade de obter uma idéia mais precisa
e clara sobre as origens, a história e a evolução contínua da língua.
O projeto foi iniciado em 2002, quando se começou a restaurar o prédio da Estação da Luz, sendo
concluído em 2006. Teve como aliada no projeto a Lei de
Incentivo à Cultura, que demonstra a contemporaneidade em
que vivemos. São Paulo ainda possui um fator simbólico para o local do museu,
sendo a maior cidade de falantes do português no mundo, com cerca de dez milhões de habitantes.
Foram ainda parceiros o Ministério da
Cultura, IBM
Brasil, Correios, Rede
Globo, Petrobrás, Vivo, Eletropaulo, Grupo
Votorantim e Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Contou também com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Prefeitura de São Paulo, da CPTM, dos elevadores Otis, dos sistemas de climatização Carrier e da Fundação Luso-Brasileira.
A idéia foi de Ralph
Appelbaum, autor também do Museu do Holocausto, em Washington, e da Sala de Fósseis do Museu de
História Natural, em Nova
Iorque. O projeto arquitetônico do museu é de Paulo e Pedro Mendes da
Rocha, pai e filho, ambos brasileiros. A direção do museu fica por conta da socióloga Isa Grinspum Ferraz, que
coordenou uma equipe de trinta especialistas do idioma para o museu. A direção
artística é de Marcello Dantas.
Apesar da palavra museu trazer a idéia de algo rústico e
antigo, o museu possui um acervo inovador e predominantemente virtual, combinando arte, tecnologia e interatividade, lembrando que o museu está localizado em um
prédio histórico. Composto das mais diversificadas exposições nas quais são
utilizados objetos, vídeos, sons e imagens projetadas em grandes telas sobre a
língua portuguesa, considerada do ponto de vista de patrimônio cultural dos
povos lusófonos.
O museu ocupa três andares da Estação
da Luz, com 4.333 m². Criação do arquiteto brasileiro Rafic Farah, logo na
entrada vê-se a chamada "Árvore
da Língua", uma escultura com três andares de altura em que nas folhas surgem contornos de
objetos e as raízes são formadas por palavras que deram origem ao português. A
árvore pode ser visualisada quando o visitante usa o elevador de acesso aos
outros andares com paredes transparentes.
Auditório
Foto
da Grande Galeria, com seu telão de 106 metros.
O auditório possui um telão de nove
metros de largura, onde é apresentado um curta-metragem, criado por Antônio
Risério e com direção de Tadeu Jungle, sobre o surgimento, história,
diversidade, e a importância das línguas para a humanidade. O telão se revela uma grande porta basculante para a "Praça
da Língua".
Espaço que lembra uma estação de trem
e um grande túnel, possui um telão de 106 metros de comprimento, onde são
projetados onze filmes simultaneamente, dirigidos por Marcello Dantas, Victor
Lopes, Carlos Nader e Eduardo Menezes. Cada projeção ocupa nove metros da
parede, com seis minutos de duração, tratando de temas como cotidiano, dança, festas, carnavais, futebol, música, relações humanas, culinária, valores, saberes e um dedicado à cultura portuguesa.
Participaram da concepção de som e
imagens desse amplo espaço Eloá Chouzal, Jorge Grinspum, Solange Santos, Mônica
Médici, Marialice Generoso, Ana Lucia Pinho, Andréa Wanderley, Eduardo
Magalhães e Sérgio Marini, sob a orientação e coordenação de Helena Tassara. Os
textos-base foram escritos por Antônio Risério, Manuela Carneiro da Cunha e
Marilza Oliveira. Os roteiristas foram Isa G. Ferraz, Marcos Pompéia e Marcelo
Macca.
Considerado um dos espaços mais
lúdicos da exposição permanente, onde os visitantes se divertem movimentando
imagens que contém fragmentos de palavras, que incluem sufixos, prefixos e radicais, formando um jogo curioso que tem
como objetivo formar palavras completas. Quando o objetivo é alcançado, a mesa
de projeção se transforma uma tela futurista que mostra animações e filmes
sobre a origem e o significado da palavra formada. Criado por Marcelo
Tas com o suporte do etimologista Mário Viaro, da
diretora de arte Liana Brazil e do diretor de tecnologia Russ Rive.
Mapa dos Falares
Totens
interativos presentes no espaço Lanternas
das Influências
Uma grande tela interativa que mostra
os falares do Brasil, onde é possível navegar pelo mapa e acessar áudios com
amostras da forma de falar dos brasileiros dos estados da Federação. No site do
museu é possível acessar esses áudios.
Espaço com oito totens multimídia, em
formato triangular e são dedicados às línguas que formaram e influenciaram o português brasileiro,
composto de dois totens dedicados às línguas africanas, dois às línguas indígenas, um para espanhol, um para inglês e francês, um para línguas dos imigrantes e o último para o português no mundo, sendo que cada totem possui
três monitores interativos, um para cada face. O objetivo dos totens é
transmitir a riqueza cultural da nossa língua, bem como mostrar a contribuição
desses povos que ajudaram a gerar a língua e identidade brasileiras.
O roteirista Marcello Macca, sob a
coordenação de Isa G. Ferraz, desenvolveu os conteúdos das telas multimídia com
base nos textos de Ataliba Teixeira de Castilho, Aryon Dall'Igna Rodrigues, Yeda Pessoa de Castro, Alberto da Costa e Silva, Ivo
Castro, Carlos Alberto Ricardo, Marilza Oliveira, Ana Suely Cabral, Ieda Alves,
Mirta Groppi, Oswaldo Truzzi e Mario Eduardo Viaro.
Visitantes
observando o piso luminoso da Praça da Língua.
Lembrando um anfiteatro, com
arquibancadas, é um planetário de palavras no qual efeitos visuais são
projetados no teto e um piso que se torna luminoso. Na tela são apresentados os
grandes clássicos da prosa e da poesia em sons e imagens, tendo como temas amor,
exílio, pessoas, favela e música, acompanhados de imagens criadas por Eduardo
Menezes, Guilherme Specht e André Wissenbach, com direção artística de Marcello
Dantas e produção musical e sonora de Cacá
Machado.
A seleção, que reúne poesias de Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Fernando
Pessoa e Luís de Camões, textos de Guimarães
Rosa, Euclides
da Cunha e Machado
de Assis e canções de Noel Rosa e Vinícius de Moraes, foi
elaborada pelos professores de literatura e músicos José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski.
A apresentação completa possui três
versões de vinte minutos cada, que ocorrem alternadamente. Os narradores
selecionados são Arnaldo
Antunes, Bete
Coelho, Chico
Buarque, Juca de
Oliveira, Maria
Bethânia, Paulo
José, Zélia
Duncan, dentre outros selecionados pela beleza da
voz.
Painel
mostrando Linha do Tempo da Língua Portuguesa
Num grande painel, resultado da
pesquisa do professor Ataliba de Castilho, são mostradas as origens remotas e indo-europeias
da nossa língua, apresentando a evolução histórica do português desde o etrusco, o latim clássico e vulgar, as línguas românicas antigas e as três línguas
que compõe o cerne da língua portuguesa contemporânea: o português lusitano, as línguas indígenas e as africanas, revelando que a história da língua
portuguesa remonta a quatro mil anos antes de Cristo. O painel cobre um período de seis mil anos da história humana.
Uma seleção de 120 grandes obras da
literatura brasileira, escolhidas por Alfredo Bosi, complementam a exposição
histórica da língua.
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