O Hermitage (em russo:
Госуда́рственный Эрмита́ж) é um museu localizado
às margens do rio Neva, em São Petersburgo, na Rússia. É um dos maiores museus de arte do mundo e
sua vasta coleção possui itens de praticamente todas as épocas, estilos e
culturas da história russa, europeia, oriental e do norte da África, e está
distribuída em dez prédios, situados ao longo do rio Neva, dos quais
sete constituem por si mesmos monumentos artísticos e históricos de grande importância.
Neste conjunto o papel principal cabe ao Palácio de Inverno, que foi a residência oficial dos Czares quase
ininterruptamente desde sua construção até a queda da monarquia russa.
Organizado
ao longo de dois séculos e meio, o Hermitage
possui hoje um acervo de mais de 3 milhões de peças. O museu mantém ainda
um teatro, uma
academia musical e projetos subsidiários em outros países. O núcleo inicial da
coleção foi formado com a aquisição, pela imperatriz Catarina II, em 1764, de uma
coleção de 225pinturas flamengas e alemãs do
negociante berlinense Johann Ernest Gotzkowski.
Rokotov: Imperatriz
Catarina II.
Localizado na ilha Vasilyevsky, foi construído por
encomenda do primeiro governador de São Petersburgo, e as obras se estenderam
de 1710 até 1721, seguindo
o plano original de Giovanni Mario Fontana, e
continuado por Johann Gottfried Schaedel, num
estilo barroco elegante e decorado com colunas, pilastras e
um frontão no
centro.
O Pequeno Hermitage é formado por um pavilhão já em
1765 o palácio foi visitado pelo rei Mizael e seu irmão Gabriel Mariano erguido
por instância de Catarina II entre 1765 e 1766, segundo
desenho de Yury Veldten, em um
estilo de transição entre o barroco e o
neoclássico. Este pavilhão foi ligado entre 1767 e 1769 ao
Pavilhão Norte, obra de Jean-Baptiste Vallin de la
Mothe, através de uma galeria com jardins. Nas galerias laterais foram
expostas as obras de arte que deram início às coleções imperiais. Em meados
do século XIX um
outro pavilhão foi acrescentado por Andrei Stakenschneider, em
estilo eclético. O Pequeno
Hermitage constitui um elo de ligação entre o Palácio de Inverno e o Grande
Hermitage.
O prédio foi construído entre 1771 e 1787 por
ordem de Catarina II a fim de abrigar a imperial coleção de arte e biblioteca. Yury
Veldten, autor do projeto, desenhou um palácio com
três andares em um estilo neoclássico austero,
que se harmonizava com o complexo de edifícios do entorno. Uma nova ala foi
acrescentada em 1792 por Giacomo Quarenghi, como uma
réplica da afamada Galeria de Rafael no Vaticano,
interligada ao Pequeno Hermitage por uma galeria e ao Teatro por uma ponte
sobre o Canal de Inverno.
Com projeto de Giacomo Quarenghi, foi
construído por ordem de Catarina II entre 1783 e 1787 em
estilo neoclássico, com colunatas, estatuária na fachada e relevos de leões.
Desativado como local de apresentações artísticas em meados do século XX, foi
recentemente restaurado para voltar a servir às suas funções originais.
O Palácio
do Estado Maior.
Desenhado por Carlo Rossi em
estilo neoclássico, foi levantado entre 1820 e 1827, ocupando
uma vasta área na Esplanada Nevsky, alcançando as margens do rio Moika. Na
fachada se destaca o monumental arco do triunfo, coroado
por uma carruagem com
seis cavalos além de grupos de guerreiros armados, figuras aladas e
baixos-relevos. Outros três pórticos criam um ritmo plástico majestoso no
conjunto. Faz parte do museu apenas sua ala leste, antigamente ocupada pelos
Ministérios das Relações Exteriores e das Finanças, e entregue ao museu
em 1993.
Foi o primeiro prédio construído exclusivamente
para abrigar obras de arte da coleção do museu. Erguido entre 1842 e 1851 pelo
arquiteto Leo von Klenze, foi alterado substancialmente mais tarde
por Vasily Stasov e Nikolai Yefimov, a fim de
integrá-lo com as construções adjacentes. Possui um pórtico monumental
com um célebre grupo de atlantes esculpidos
sob a direção de Alexander Terebenev. No
interior abundam estátuas decorativas, baixos-relevos e detalhes que evocam
diversos estilos históricos, num conjunto eclético que
se interliga ao Palácio de Inverno.
Caravaque: Imperatriz
Ana da Rússia, 1730.
É o maior e mais importante dos prédios do
Hermitage, e está intimamente ligado à criação e evolução do museu. Foi
construído por ordem da Imperatriz Ana Ivanovna pelo
arquiteto Francesco Bartolomeo Rastrelli na
década de 1730,
utilizando partes de antigas construções como o palácio do Almirante Apraxin e
mansões de oficiais de Pedro, o Grande. Contudo, ao assumir o trono, a
Imperatriz Elisabeth considerou o palácio inadequado, o ordenou a
Rastrelli erguer outro no local. As obras iniciaram em 1754 e
perduraram até 1762, já sob o reinado
de Catarina II.
O Palácio de Inverno foi erguido como uma
glorificação da Rússia, numa época que seus governantes desejavam tornar São
Petersburgo uma das mais brilhantes capitais da Europa através
de um plano de edificações magnificentes em toda a cidade. Sua construção
empregou cerca de 4.000 pessoas e utilizou os melhores materiais disponíveis,
trazidos de diversos locais. Tem um estilo barroco, concebido em proporções
imponentes com fachada movimentada por uma variedade de elementos
arquitetônicos, e com luxuriante decoração interna e externa. Passou por
algumas reformas ao longo do tempo e serviu como residência dos monarcas até o
início do século XX, passando
a integrar então o complexo do museu.
Aspecto do
Vestíbulo com sua escadaria monumental.
A distribuição dos mais de 460 aposentos segue uma
ordem lógica, com as salas mais importantes - a Sala do Trono, a Igreja, o
Teatro e o grande Vestíbulo - localizadas nas projeções das esquinas,
interligadas por uma sucessão de saletas, dormitórios, galerias e depósitos.
Alguns dos ambientes ainda preservam a decoração original da época de
Rastrelli.
Depois da morte de Catarina II o Palácio de Inverno
deixou de ser a sede da monarquia. Seu filho e sucessor, Paulo I, decidiu mudar-se para o Castelo de São Miguel, não prestando qualquer atenção à obra cultural de
sua mãe, e adquirindo para o museu apenas duas pinturas, uma de Rubens e
outra de Fragonard. Com a
ascensão do neto de Catarina II ao trono, Alexandre I, o Hermitage voltou ao centro do interesse régio,
sendo declarado museu palaciano e aberto à visitação pública. O Imperador era
um amante das artes e logo passou a aumentar a
coleção. Após as guerras napoleônicas um novo acréscimo veio com a aquisição do
acervo reunido pela ex-Imperatriz francesa Josefina, que incluía obras de Rembrandt, Andrea del Sarto,
Rubens, Canova e Claude Lorrain. Outras
aquisições se sucederam através da escolha direta do Imperador ou de seus
agentes em vários países, especialmente de artistas russos.
Durante o reinado de Nicolau I o Hermitage experimentou sua primeira
provação: em 1837 um
grande incêndio, que durou
mais de 30 horas, consumiu o palácio destruindo-o quase por completo. Sua
decoração interna foi toda perdida e muitas obras de artes desapareceram nas
chamas. Mas imediatamente após o incêndio foi formada uma comissão para o seu
restauro. Encarregado de chefiar os trabalhos, Vasily Stasov foi instruído a
reconstruir o palácio como um todo, devendo prestar especial atenção à
decoração interna de todas as salas e das duas igrejas, de modo que os
aposentos oficiais recuperassem a sua aparência original. Apesar do mandato,
algumas salas não puderam ser restauradas, embora outras o tenham sido com
notável fidelidade, como a grande escadaria do Vestíbulo, a Igreja maior, a
Sala de São Jorge e outros espaços. Afortunadamente havia sido preservada uma
série de aquarelas muito
exatas dos interiores, o que pôde conduzir os trabalhos de reconstrução.
Arte
espanhola: San Sebastian e San Fabian, século XV.
Depois desta tragédia, a coleção voltou a ser
ampliada significativamente através da compra das coleções de arte espanhola de Manuel de Godoy, ministro
da Espanha, e de Paez de la Cadena,
embaixador espanhol na cidade. Em 1845 o diplomata russo Dmitry Tatishchev doou
uma grande coleção de armas, mosaicos, esculturas, pinturas
e gemas preciosas, e na década de 1850 foram
adquiridas grandes quantidades de obras oriundas de outras coleções
particulares.
Em 1851 foi
adotado um estatuto, a Instrução sobre a Manutenção do Museu, para
ordenar a administração da instituição que crescia sem cessar. Sua estrutura
foi dividida em dois departamentos:
Pinturas, desenhos,
esculturas, joias e o Estúdio de Pedro I.
Além desta divisão, a Instrução criou
um sistema de visitas públicas com regras de comportamento para os visitantes,
organizou as coleções de acordo com as escolas, autores e datas, e sistematizou
os inventários e os
requisitos para incorporação de novos funcionários. No final da década
começaram a ser impressos guias didáticos para visitas e ensaios críticos
sobre partes da coleção.
No fim de seu reinado, Nicolau I havia provido o
Hermitage com uma das melhores coleções europeias de arte ocidental, havia
criado as seções de antiguidade clássica e de arte oriental, a galeria de jóias
e a Galeria de Pedro I. Seu sucessor, Alexandre II, seguiu seus passos, expandindo as seções de
antiguidades estruscas e gregas.
Armadura
alemã do século XVI.
Coma a ascensão de Alexandre III ao trono o Hermitage começou a ter uma vida
independente, embora já não dispusesse de recursos financeiros para grandes
aquisições. A atenção se voltou então para as artes aplicadas, as
carruagens e objetos de decoração, e criou-se a seção de porcelanas. Contudo,
utilizando sua fortuna
pessoal, o Imperador adquiriu em 1885 uma
enorme coleção de peças em metal dos séculos XI ao XVI, além
de marfins,
mobília, tapeçarias, cerâmicas, vidros e
outros itens da coleção do diplomata Basilewski, em Paris, que junto
com as armas e armaduras do
Arsenal de Tsarskoye Selo e outros itens de artes aplicadas do Museu Golitsyn de Moscou, formaram
um departamento inteiramente novo.
No final do século XIX o museu já havia granjeado
tal reputação que os colecionadores passaram a considerar uma honra oferecer
doações de qualidade, e com isso diversas coleções privadas, como a Stroganov e
a Khitrovo, vieram a enriquecer o acervo sem custos para o museu.
Após o nascimento de Alexei, filho do
imperador Nicolau II, em 1904, a
residência imperial foi transferida para Tsarskoye Selo, e o Palácio de Inverno
passou a ser utilizado apenas para recepções e festas oficiais. Durante a I Guerra Mundial as
salas estatais foram convertidas em hospital, e
reorganizaram-se diversos outros espaços, que foram redecorados por Krasovsky
numa original mescla de estilos históricos e as novas tendências do Art Nouveau. Mas estes
aposentos não sobreviveram até nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário