Colaboração de Antonio Abreu
"Se alguém lhe fechar a porta, não
gaste energia com o confronto, procure as janelas. Lembre-se da sabedoria da
água: a água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna."
Uma
das últimas cadeiras da igreja é ocupada pelo Papa. Ele está a celebrar uma
Missa muito peculiar: os convidados são os jardineiros e o pessoal de limpeza
do Vaticano. Num momento da celebração o Papa pede a todos que orem em
silêncio, cada um pelo que o seu coração deseja. Nesse
instante, ele levanta-se da sua cadeira papal que está na frente e vai
sentar-se numa das últimas cadeiras para fazer a sua própria oração. Dá a
impressão de que este chefe preferiu que todos se centrem em ver de frente a
verdadeira razão da sua existência, esse Cristo crucificado que está ali presente
e não em que o vejam a ele, o seu chefe, que não é mais que um homem que falhou
e continuará a falhar, e a quem hoje todos chamamos o Papa Francisco.
A famosa diferença entre chefe e líder é absoluta nesta foto. O chefe sempre se
emproa, pondo-se à frente para que todos o vejam e lhe obedeçam, enquanto que o
líder sabe quando se deve sentar atrás, não incomoda, acompanha, facilita o
caminho para que os outros consigam os seus propósitos; o líder é capaz de
desaparecer no momento oportuno, para que os seus companheiros cresçam e
se centrem no que é verdadeiramente importante. O líder não teme perder o
seu lugar, porque sabe que, muito para além do “seu lugar”, trata-se de ajudar
aqueles que se encontrem no seu caminho.
Na foto, o admirável Francisco está de costas. Ele sabe que muitos o
queriam ver de frente, mas neste instante tão íntimo, ele prefere ficar de
costas para os fotógrafos e dar a cara a esse Deus de todos, Amor para o
jardineiro e Amor para o Papa, esse Deus que não diferencia o abraço nem dá
mais por um ou por outro, ambos são pecadores e ambos precisam d’Ele.
Quantos chefes terão a capacidade de ir sentar-se naquela cadeira de trás?
Quando é que mães e pais terão que “celebrar” essa cerimônia chamada vida com
os nossos filhos, e num momento oportuno sermos capazes de nos sentarmos atrás,
para que eles fiquem de frente para a sua missão? Quantos poderemos voltar às
costas aos aplausos, à barafunda dos “clicks”, aos elogios, para dar a cara,
num momento íntimo, a essa oração profunda que torna o nosso coração despido de
orgulho, a um Deus que deseja com fervor escutar-nos?
O Papa ficou-me gravado, e eu espero que hoje esta imagem sua, sirva para me
situar no resto da minha vida.
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