quinta-feira, 30 de outubro de 2014

ALGUMAS PERSONALIDADES INGLESAS NA BAHIA

Crônica de Consuelo Pondé

Comecemos essas observações com a figura emblemática do Dr. Jonatas Abott. Nasceu em Londres, no dia 6 de agosto de 1796, e morreu em Caminho Novo, em 8 de março de 1868. Naturalizou-se brasileiro por decreto de 31 de outubro de1821. Filho de John e Sara Abbot. Veio para Salvador como cavalariço de um médico baiano. Ingressou na Faculdade de Medicina, como servente, nela estudou, tendo-se formado na terceira turma, em 1820, alcançando a regência da cadeira de Anatomia. Pertenceu a diferentes entidades científicas. Escreveu vários trabalhos sobre anatomia, em português, tendo publicado uma tradução do Tartufo, de Moliére, assim como outras composições literárias.
Uma das personalidades inglesas mais conhecidas dentre nós è Thomás Lindley, que veio a aportar na costa baiana, depois de ter vencido forte tempestade. Após ter avaliado a precariedade do seu navio a necessitar de reparos urgentes, sem dispor de condições financeiras para fazer esses consertos não prosseguiu viagem.

Era seu propósito seguir para o Rio de Janeiro, onde esperava realizar um negócio rentável com os espanhóis do Prata. Malogrado nas suas intenções, porquanto no meio do caminho, em Porto Seguro, sofreu outra tempestade, e ali deteve-se abrigado por causa de novo cataclismo. Foi muito bem recebido na cidade pelo juiz José Dantas Coelho, procedente de Portugal, de onde chegara dois anos antes e seu filho Gaspar, que funcionava como escrivão.
Segundo o historiador Affonso de E Taunay, no livro: “Na Bahia de D. João VI foi o jovem Gaspar quem lhe “propôs trocar pau-brasil pelas mercadorias que ele tinha a bordo”.
Depois de denúncias e contratempos de toda natureza foi Lindley e sua mulher encarcerados no infecto calabouço da prisão de Porto Seguro. Dez dias decorridos da detenção e os presos foram submetidos a novo interrogatório sobre o pau-brasil, tendo sua senhora adoecido. Em vista disso, o viajante inglês implorou melhoria de condições da prisão, sendo ambos alojados num quartinho mais arejado, embora seu teto estivesse cheio de morcegos. Ali passaram noites endormidas por causa da algazarra da prisão e da jogatina dos oficiais.
Impressionou muitíssimo ao inglês a enorme quantidade de pedintes nos meses em que esteve na Bahia de 1802 e 1803. Pedintes que, segundo ele, esmolavam pelas ruas em favor das irmandades, capelas, ordens religiosas, votos pessoais.
Dado curioso que Lindley anota diz respeito ao desejo dos baianos aspirarem a independência do país e o pendor republicano (1802).
Sobre os ingleses e a abertura dos Portos do Brasil Wanderley Pinho escreve sobre a ideia muito difundida de que a abertura dos portos foi “uma dádiva dos Ingleses”, juízo injusto, porquanto aos britânicos não interessava a Abertura dos Portos às nações amigas”. É verdade que, continua o Mestre, houvera uma convenção secreta entre Portugal e a Inglaterra, quando se cogitou de enviar o Príncipe da Beira ao Brasil (futuro D. Pedro I), de cujo acordo constava uma cláusula nesse sentido. Entretanto (outubro de 1807) esse acordo não prosperou, não tendo Portugal ratificado semelhante cláusula do aludido acordo.
Darwin Brandão & Mutta e Silva, no livro Cidade do Salvador, de 1958, ao escrever sobre Campo Grande informa que, no local, houve um acampamento dos holandeses. Sua feição atual é devida ao Reverendo Edouard Parker, da Igreja Anglicana, ao lado do Clube Inglês. Os britânicos tiveram prestígio para ali erguer o seu templo, àquela altura já adquiria feição de principal praça da cidade. 
Aquele local era uma zona de profundos desníveis topográficos. A área só foi terraplanada no século XIX graças ao poder público que contratou o empreiteiro Edouard Parker. A colônia inglesa quase inteira ali se concentrava. Ali vivia o líder da colônia inglesa Eduard Peloinwilson, no local em que se encontra hoje o Palácio dos Cardeais. No local onde hoje se encontra o Hotel da Bahia existia a casa do jornalista Augusto Guimarães, homem poderoso em Salvador do seu tempo. Em outra casa vivia o doutor Pacífico Pereira, professor da Faculdade de Medicina e líder político de nomeada. Sua casa que, nos anos 30 e 40 foi sede da Pinacoteca, se encontrava onde hoje é o Teatro Castro Alves.
Sobre este Cemitério dos Ingleses, está no Indicador e Guia Prático da Cidade do Salvador-Bahia de 1928. Inexistindo carneiros e mausoléus, muito menos capela, os sepultamentos dos súditos dessa nacionalidade eram feitos no chão.
John Ligerfod Paterson (1820-1822) nasceu na Escócia a 14 de setembro de 1820 e doutorou-se em medicina, em 1841. Veio para Salvador no ano seguinte, na Faculdade de Medicina da Bahia, situado no Terreiro de Jesus, fazendo exame de suficiência e verificação de título, com aprovação em 7 de novembro de 1842. Ao lado de Otto Wucherer (1820- 1882) e José Francisco da Silva Lima foram precursores da medicina, no âmbito das moléstias tropicais, sendo membro da Escola Tropicalista da Bahia. Em 1842 solicitou às autoridades policiais, o título de residência da Capital da província da Bahia. Esses são, entre outros, cidadãos ingleses que viveram experiências diversas na Bahia.  

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