Assevero que nos seus
livros, especialmente nesse, Mário me pareceu um beija-flor. Como a pequenina e
delicada ave que baila diante das flores para sugar-lhes o néctar, fonte de sua
energia, Mário volteia sobre os assuntos que o cercam para retirar-lhes
ensinamentos e transmiti-los aos leitores.
Crônica de Luiz Carlos
Facó
Publicada no Jornal A
Tarde.
Há poucos
dias entre surpreso e emocionado, recebi de Mário Cabral, o seu livro de
crítica, recém-publicado, Jornal da Noite, com singela dedicatória. Logo
lembrei-me da sentença de Sêneca: “Dar um livro não é apenas uma gentileza. É
um elogio.” No caso desse presente, não houve um elogio mas um nímio gesto de
amabilidade daquele que considero um dos escritores contemporâneos mais
expressivos da nossa literatura.
Conhecedor
de sua profunda e densa produção literária, Caminho da Solidão, romance,
Roteiro de Aracaju, história, Confissão, ensaio, avidamente debrucei-me sobre a
obra que me chegara às mãos, perguntando-me, - o que aquele escritor ainda
teria a dizer? Terminada a leitura, feita com sofreguidão, conclui,
envergonhando-me daquele pensamento, que Mário tinha tudo a dizer, e, ainda tem
muito mais. Convenci-me, tardiamente, de que na sua obra não existe ponto
final.
A cada capítulo
lido, pelos meus olhos vorazes e inquietos, a emoção tomava conta de mim. Os
assuntos eram os mais variados. Da escultura, quando fala de Mário Cravo
Júnior, à arte pictórica, quando se refere a Jordão de Oliveira. Da prosa,
quando enfoca Lauro Barreto Fontes, Jorge Amado, Mário Vargas Llosa, André
Gide, Érico Veríssimo, Romain Rolland, Junot Silveira, José Calazans, Oscar
Wilde, dentre muitos outros. Das viagens a Roma, Paris, Madri e Lisboa. Da
poesia, quando contempla as diversas fases da sua evolução, caminhando pelo
Classicismo, Romantismo, Parnasianismo, Simbolismo e Modernismo. Temas tratados
com a maior elegância e correção.
Em frases
curtas, sonoras e bem construídas, o autor consegue encerrar todo o seu
pensamento. Algumas vezes, destila desilusão e amargor. Outras, esperanças,
lirismo, sem, contudo, dispensar a ironia e o humor, por instantes contido, mas
doutras tantas decididamente debochado, como nos contos incluídos no livro
Aracaju Bye Bye. Todos com temas regionais, que extrapolam a província, pela
universalidade que possuem. Não faz concessões.
Dispensando
demonstra erudição, atitude adequada de escritores cultos como ele, seu texto
flui fácil com palavras empregadas de maneira precisa, num estilo extremamente
limpo e conciso.
Assevero que
nos seus livros, especialmente nesse, Mário me pareceu um beija-flor. Como a
pequenina e delicada ave que baila diante das flores para sugar-lhes o néctar,
fonte de sua energia, Mário volteia sobre os assuntos que o cercam para
retirar-lhes ensinamentos e transmiti-los aos leitores. Num balé de coreografia
marcada, mas que propicia ao solista improvisações magistrais.
É uma lição
válida para todos – essa sua explosão intelectual aos noventa anos de vida. De
minha parte, timidamente peregrinando na arte de escrever, com as reticências e
inibições próprias de quem se esforça para suprir o talento escasso, lendo o
Jornal da Noite, fui brindado por uma sensação inusitada de prazer e uma e uma
magnífica explanação de como se pode e deve escrever um livro. Vale dizer, a
aula foi dada por um gênio, portador do título de respeitado e amado cidadão
baiano. E em sendo baiano é cidadão do mundo.
Apesar de
imortalizado pela Academia Sergipana de Letras, sem necessidade de buscar
outros lauréis, pelo acervo de suas magistrais obras anteriores, Mário produziu
um livro que se insere na nossa bibliografia como um dos mais importante já
produzidos pelo pensamento nacional. Vale conferir. Delicia o leitor.
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