Seca
e chuva
A seca
persegue o nordestino de forma impiedosa, há séculos. O Polígono das Secas
representa uma das regiões mais pobres do Brasil e o Nordeste tem 62% de seu território localizado nessa área.
O homem nordestino já vive acostumado a olhar constantemente para o céu na
esperança de que surja alguma nuvem mais escura trazendo chuva. E nada. Pois
bem, de repente, ela chegou de forma intensa, enchendo os açudes, alagando os
campos, arrastando animais, “lambendo” de forma voraz o arvoredo, invadindo as
ruas e entrando pelas casas das cidades ribeirinhas. Lembrei-me, então, dos
versos do famoso poeta alagoano Jorge de Lima, que, quando menino assistia o
Rio Mundaú, bem cheio, em sua inesquecível União dos Palmares: “Quando o rio
entra na rua, as salas serão banheiros e a professora fechará a escola. E o rio
cresceu, engordou, triplicou de tamanho, e lá se foi a almofada velha e rodou
com o canoeiro”. Foi isso o que aconteceu em várias cidades do Nordeste, hoje e
sempre.
E essa gente boa e simples do nosso Nordeste, já tão sofrida pela ausência das chuvas, agora sofre pelo excesso de água. É impressionante o sofrimento mudo dessas pessoas de nossa região.
Assistimos pela televisão as cenas dolorosas causadas pelo excesso das chuvas e ficamos tristes quando vemos aquele aglomerado de desassistidos olhando o que sobrou de seus pertences, vendo a correnteza levar o que ainda restava, olhando os campos alagados onde ontem havia seca inclemente. Toda essa gente ficou triste de ver os campos vazios, as enxadas encostadas e o silêncio e a lágrima como companheiros.
O Nordeste participa com 5,7% do nosso parque industrial e apenas 15 milhões de seus habitantes trabalham remunerados. A população nordestina é boa e ingênua. Eles têm direito a pressionar: passam fome, frio, não têm casa para morar. Querem sorrir, ter esperança, viver. São frutos do abandono dos políticos há séculos e das atitudes intempestivas do planeta. Massas de pobres constrangidos são obrigados a partir, deixando para trás a terrinha querida à procura de um lugar onde possam viver com dignidade. A sorte é que eles têm muita fé em Deus e não desesperam nunca. Chegam à conclusão de que não há nada o que possam fazer (sem a ajuda do governo que se omite) e que os fatos acontecerão teimosamente, mesmo sem o consentimento deles. As ruas de nossas cidades estão cheias de pedintes, tangidos pela seca e a agora pelas chuvas. Lembrei-me agora do grande poeta Judas Isgorogota quando diz: “Vocês não queiram mal aos que vêm de longe/Rasgados, famintos de dar compaixão/Com os olhos na terra, os rostos queimados/pisando saudades calcadas no chão”.
Que Deus os proteja, dando-lhes de alguma forma a alegria de viver. Porque o governo não o fará.
Origem:
Gazeta de Alagoas
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