O cineasta da selva
amazônica
Silvino Santos (Cernache do Bonjardim, 1886 — Manaus, 14 de maio de 1970) foi
um fotógrafo e cinegrafista luso-brasileiro que
se estabeleceu em Manaus, tendo sido o autor, juntamente com Agesilau Araújo
(filho do Comendador J.G. Araújo), do
clássico documentário em
branco-e-preto sobre a Amazônia,
intitulado No Paiz das Amazonas (Brasil, 1921). O
diretor cinematográfico Aurélio Michiles, em 1997, lançou o
filme O cineasta da selva, sobre a vida e a obra cinematográfica de
Silvino Santos.
Filho de António
Simões Santos Silva, um professor de música e de Vírginia Silva, Silvino
Santos, ainda muito jovem, partiu para tentar a vida na lendária Amazônia.
Chegando a Belém do Pará foi
trabalhar no comércio.
Santos aprendeu a
fotografar nesta época já demonstrando enorme talento, foi descoberto por Júlio
Cezar Araña, um dos mais poderosos seringalistas da Amazónia no Peru. Araña era
responsável pela Peruvian Amazon Co. e queria sensibilizar os acionistas
ingleses, que estavam indignados pelas acusações de Hardenburg, um missionário
americano. Este afirmava que no rio Putumayo, Araña escravizava e assassinava
nativos. Este foi defender-se no Tribunal dos Comuns em Londres e percebeu que
havia uma novidade sensacional que poderia servir como veículo de propaganda: o
cinema.
Araña financiou uma
viagem de Silvino Santos a Paris. As instalações da casa Pathé e os
laboratórios dos irmãos Lumière foram assim frequentados pelo rapaz que
procurava películas resistentes ao calor dos trópicos. Retornando ao rio Putumayo, onde se
havia estabelecido, Silvino Santos rodou o filme que mostrava os seringais de
Araña em 1912.
Silvino Santos
casou com Anna Maria Schermuly, uma descendente de alemães órfã, que era
tutelada por Araña.
Em 1914, o filme
rodado no Peru foi copiado nos Estados Unidos, mas o filme perdeu-se porque o
navio onde se encontravam os negativos foi afundado.
Silvino Santos
estabeleceu-se em Manaus. O seu segundo filme também se perdeu: Em 1918, o
comerciante Manoel Gonçalves resolveu fundar a Amazônia Cine Film e foi
realizada a película documental Amazonas, o Maior Rio do Mundo. O
empresário Avelino Cardoso participava do empreendimento. O noivo de sua filha,
Propércio Saraiva, a título de copiar o filme em Londres, desapareceu com os
originais deixando assim o cineasta em difícil situacão financeira. A firma se
dissolveu e o material cinematográfico foi arrematado pelo Comendador Joaquim
Gonçalves de Araújo.
Em 1921
filmou No Paiz das Amazonas, filme de rara beleza fotográfica,
exibido no Cinema Pathé do Boulevard des Italiens, em Paris, e nos
principais centros da Europa. O lançamento comercial no Rio de Janeiro, foi em 2
de abril de 1923 no cinema Palais. O Paiz comentou: “Chama-se No Paiz das
Amazonas e é uma estupenda licão de coisas. Paisagens, maravilhas phisicas,
riquezas naturaes, progressos economicos, typos, costumes, cidades, tudo se
projecta nessa empolgante pellicula, que o Sr. Presidente da República teve
ensejo de admirar, com todos os Ministros de Estado, no Palácio do Cattete e a
que não poupou honrosos encomios”.
Esse filme foi
produzido inicialmente para ser exibido na Exposicão Comemorativa do Centenário
da Independência. No Rio de laneiro, Silvino Santos filmou a Exposicão, na qual
seu filme fez enorme sucesso, e rodou o documentário Terra Encantada,
focalizando os mais variados aspectos da Capital Federal.
Em 1924/25
realizou No Rasto do EI-Dourado,
documentação cinematográfica da Expedicão Alexander Hamilton Rice, outro
sucesso estrondoso.
Produziu
ainda Terra Portuguesa e O Comilão Da Estácio,
focalizando aspectos de Portugal, onde permaneceu de 1925 a 1930 com a família
Araújo. Trabalhou até o fim de sua vida na firma do Comendador Araújo. Teve
dois filhos, Guilherme (1914) e Lilia (1916, com a curiosidade de ter também
ter nascido em Cernachje do Bonjardim, para onde Silvino havia enviado sua
filha).
Quando já não
produzia longa-metragens, Silvino Santos fez curtas-metragens para exibição na
Fábrica de Cerveja e Gelo de Miranda Corrêa e Cia. Era um ambiente refinado
onde a sociedade amazonense ia se admirar na tela do cinematógrafo.
Em 1970, os cineastas
Roberto Kahané, Domingos Demasi Filho e Paulo Sérgio Muniz realizaram
o curta-metragem Silvino Santos, o Fim de um Pioneiro.
Em novembro e
dezembro de 1981 realizou-se na Galeria de Arte Afrânio de Castro, em Manaus,
uma exposição fotográfica comemorativa dos 95 anos de nascimento do cineasta.
1912 - Filme rodado
no Rio Putumayo
1918 - Amazonas, O
Maior Rio do Mundo
1921 - No Paiz das
Amazonas
1922 - Documentação
cinematográfica da Exposição da Independência
1923 - Terra
Encantada
1924 - Documentação
cinematográfica da Intervenção Federal no Estado do Amazonas, no episódio do
golpe de Ribeiro Júnior
1924/25 - No Rasto
do El-Dorado
1925/27 - Terra
Portuguesa
1929/30 - O Comilão
da Estácio
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