Antônio de Castro Alves*
Meigos
pés pequeninos, delicados,
Como
um duplo lilás, se os beija-flores
Vos
descobrissem entre as outra flores
Que
seria de vós, pés adorados!
Como
dois gêmeos silfos animados,
vi-vos
ontem pairar entre os fulgores
do
baile, ariscos, brancos, tentadores,
nas,
ai de mim! como os mais pés, calçados.
Calçador
como os mais! Que desacato!
Disse
eu... Vou já talhar-lhes um sapato
Leve,
ideal, fantástico, secreto...
Ei-lo.
Resta saber, anjo faceiro,
Se
acertou na medida o sapateiro:
Mimosos
pés, calçai este soneto.
·
A.
C. A. – Salvador BA., 1847-1871) estudou o Direito primeiro em Pernambuco e
depois em São Paulo. Exerceu grande influência sobre o espírito da mocidade
acadêmica do seu tempo, fazendo sempre vibrar a nota livre e generosa em todas
as questões; assim foi um dos mais pronunciados abolicionistas, ainda antes que
do abolicionismo se fizesse o lema de um grupo de ação. Padecem muito de seus
versos da ênfase peculiar à chamada escola condoreira, que partindo da imitação
hugoana, decaiu em puro gongorismo; porém a muitas de suas composições não se
podem reclamar sentimento e levantados voos líricos. A melhor edição de suas
obras, publicada em 2 volumes se deu em 1921. Devemos tal iniciativa ao imortal
Afrânio Coutinho – conterrâneo do poeta – que a prefaciou e anotou, opondo-lhe
preciosa e completa bibliografia.
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