sábado, 8 de novembro de 2014

FOFOCA EM REDES SOCIAIS

Colaboração de Conrado Matos – Psicanalista


Vou compartilhar uma época de criança, que não existia Facebook, mas havia muita ingenuidade entre as pessoas, pouco maldade e mais convivência. Falávamos de frente dos olhos uns dos outros, ouvíamos de perto, no cara a cara. Nos abraçávamos, apertávamos as mãos, recebendo o calor humano, que era muito saudável para autoestima. As conversas eram compartilhadas, curtidas e todos dávamos o elogio que merecíamos.
Alguns conteúdos eram mentirosos, mas seja como for não eram maldosos, preconceituosos, e todos respeitavam a opinião de cada um. Era a época do Bom dia e do Boa tarde, Boa noite, como vai, e tudo bem. Alguns quando passavam pela porta da igreja, costumavam se benzer, davam a benção ao seu padre e ao seu padrinho, e tiravam o chapéu quando sentavam a mesa para almoçar. Era assim nessa época, e ninguém se queixava que teve o relógio roubado, e os rádios e a televisão não falavam que alguém andava com dinheiro na calcinha. Se andavam, não sabíamos.  

Quando menino, por exemplo, vivendo no interior de Nossa Senhora de Lourdes, em Sergipe, me parei com cada tipo de loroteiro que vivia em beira de balcão de bodega, contando histórias que me faziam rir, e que eu não deixava de acreditar nas suas piadas e seus contos. Parecia algo tão real que quando me contavam que viu um lobisomem pulando à cerca de alguém, para não pensar em outra coisa, eu achava que era verdade e, em noite de lua cheia me vinha um sentimento de uma noite mal assombrada. Nessa época eu ainda não tinha a ideia do que era um corrupto, vampiro, Drácula ou Zé do Caixão. Só tinha a ideia do que era alma mal assombrada, que saia da cova e ficava gemendo. Embora a lenda de drácula já era contada nas grandes cidades, as estórias de bruxas, assim como, os filmes de Zé do Caixão já passavam nos cinemas brasileiros.
Quando alguém passava montado em um cavalo em plena escuridão, eu achava que era a mula sem cabeça. As mangas que caiam dos pés de mangueiras do quintal de lá de casa, eu achava que era um rebanho de almas penadas. E qualquer cheiro estranho dentro do mato, eu achava que era a presença do Saci-Pererê, dos contos de Monteiro Lobato. E qualquer gemido dentro do mato, eu achava que era uma raposa choca que estava se aproximando. Além de acreditar que, chuva com sol, era o casamento do leão com a raposa. Pense nessas coisas que eu acreditava, com tanta inocência?
Esses contos de gente do interior fizeram parte da minha vida quando criança, e tudo eu achava que era verdade. Confesso que fiquei com isso até uns nove anos de idade. E aí, quando chego na cidade grande me deparo com a realidade. Menos loroteiro, e mais fofoqueiros. Não quer dizer que no interior não existe fofoqueiro. Mas na cidade grande, muitos querem se promover por via das fofocas. E agora, temos as redes sociais da internet, que para fofocar é mais fácil ainda. Embora na internet tem muitas coisas boas, para quem sabe usá-la.
No interior as fofocas chegavam rápidas na boca dos outros, principalmente quando falavam que alguém pulou à cerca do vizinho para visitar mulher do outro. Os loroteiros me faziam rir com essas histórias que eram reais ou mentirosas. Enquanto os fofoqueiros da cidade grande me faziam raiva com suas conversas exageradas, principalmente, quando cochichava no pé do ouvido do meu chefe, e entregava todo mundo do setor.
Ser fofoqueiro não é nada fácil. Falar mal dos outros é mal caráter mesmo, e precisa de muita habilidade e patologia para viver assim. Fala demais, aumenta, e não respeita o outro. Quer compartilhar demais e curtir demais.
Dizem que as mulheres é quem mais fofoca, e quando algumas delas pegam um macho da outra, espalham para Deus e o mundo.
Tem fofoqueiro que quando apronta alguma das suas maldades, nunca mede o tamanho das suas contendas. Não pensa no tamanho do terremoto que vai acontecer.
Entre todas as fofocas, a que acho uma das piores é a fofoquinha que não para mais. É falando durante todo dia que fulano transou com alguém e não deu conta do recado. Que foi mole naquela noite, travou e não soube brincar primeiro, antes da grande largada. Isso pode ofender uma pessoa moralmente e pode deixá-la irritada. Seja no ambiente de trabalho, ou nos finais de semana entre os amigos no boteco. Uma coisa curiosa é que muita gente não se incomoda em ser chamado de corno, parece que isso virou moda.  
Outra fofoca é ficar falando da roupa que o outro está vestido. Falar do batom que está usando, o tipo de mulher ou de homem que alguém está pegando ou namorando. Ou se é gay ou deixou de ser. Isso interessa a alguém? É só para encher o saco!
A fofoca só se prevalece sobre a vida alheia, e costuma trazer conflitos entre as relações humanas. Tem hora que uma fofoca pode virar realidade na boca do povo.
Fofoca é coisa do capeta, e tem momento que perturba a vida de muita gente.  O bom fofoqueiro é tirado a apaziguador, e sabe contagiar todos com sua astúcia, para um dia provocar desordem.
Uma fofoca bem contada pode promover, comentar, compartilhar, ou curtir alguém, assim como pode agredir a moral de uma pessoa.
E o pior de tudo é quando têm fofoqueiro de fofoqueiro. Imagine no inferno que isso pode provocar.
Para se relacionar melhor com as pessoas, deve respeitá-las. Tornando mais amáveis e bem mais sinceras. Usar a relação da empatia, aceitar o outro como ele é, faz com que um clima de relacionamento se torne mais confiável. As pessoas viverão em um ambiente mais harmonioso, e todos podem conversar e compartilhar seus sentimentos sem o receio de ser vista como inadequada, evitando dessa forma, ser vítima de conversas desagradáveis, como preconceito e descriminação, dentro de um ambiente de trabalho, em grupo ou em redes sociais. Aceitar as pessoas como elas são pode diminuir as fofocas nas relações humanas.
Conrado Matos é Psicanalista, Professor e Escritor.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com

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