História
Sem sal não há doçura que aguente
Os Motins
do Maneta foram duas sublevações ocorridas no Brasil Colônia em Salvador contra
o monopólio da comercialização do sal e aumento de impostos,
ocorridos, respectivamente, em:
Antecedentes.
O Rei Luís XIV da França,
hostilizando a Portugal por
suas alianças com a Inglaterra, enviou ao
Brasil cinco naus sob o comando de Jean-François Duclerc. Esta frota, que
exibia falsamente bandeiras inglesas, costeou o Rio de Janeiro a 16 de agosto de 1710. O então
governador do Rio, Francisco de Castro Morais, percebeu o logro
e tratou de armar a defesa da cidade. Duclerc aportou enfim na Ilha Grande, partindo dali para o ataque à cidade que resultou
em fracasso, com a prisão dos invasores (Duclerc não durou muito: foi
assassinado, por motivos nunca apurados, a 18 de março de 1711).
A esta
tentativa frustrada seguiu-se outra, maior e mais equipada, pelo almirante René Duguay-Trouin. Desta vez, a investida deu-se no Rio de Janeiro,
cidade muito menos preparada do que Salvador, a indomável. Ao contrário dos
cerca de mil soldados da invasão anterior, este militar treinado trazia um
contingente de quatro mil homens, além de mais de 700 canhões, em 17
embarcações. A nova investida teve lugar no começo de setembro de 1711.
Esta invasão logrou grande sucesso: a cidade foi tomada, e
por sua restituição exigiu o comandante invasor um resgate, que foi pago pelo
governador no montante de 610.000 cruzados em dinheiro, 100 caixas de açúcar e 200
bois.
Este último ataque mostrou a fragilidade defensiva
da colônia, que demandava um maior patrulhamento da costa. As
despesas para tal empreendimento, entretanto, exigiam da metrópole um
investimento que a Coroa não podia, ou não quis, arcar. A solução foi a
elevação de taxas cobradas aos colonos.
Já o preço do sal sofrera aumento em suas taxas, que subira para o montante de 720 Réis,
contra os anteriores 480. Este produto era de comércio exclusivo da
metrópole, ou seja, sua produção era proibida no Brasil.
Foi com
esse excessivo aumento nas cobranças de impostos que foi decretada uma taxa de
dez por cento sobre as mercadorias exportadas pela Colônia, destinadas à
proteção costeira.
Estas taxas
foram anunciadas em outubro de 1711 pelo novo Governador-geral do Estado do Brasil, Pedro de Vasconcelos de Sousa, que
acabava de chegar à capital colonial, Salvador. Estava
criado o clima de revolta, que resultou nos motins populares.
O
comerciante João de Figueiredo da Costa, cuja alcunha era
"Maneta", junto ao Lourenço de Almada, Juiz do Povo, comandou
a sublevação que teve início com a distribuição de cartazes pela cidade.
Ajuntando-se, as pessoas invadiram o comércio de Manuel Dias Figueiras que, com
seus sócios, detinha o monopólio da
venda de sal. Houve saque e depredação, marchando os populares, já com apoio de
guarnições militares, rumo ao Palácio do Governador - sendo contidos apenas com
a intervenção do arcebispo D. Sebastião Monteiro de Vide.
Sobre o
Maneta disse o historiador Roberto Macedo que era "homem resoluto"
que "encabeça desatinado movimento popular, mais impulso de irritação
coletiva que revolta propriamente dita."
O
governador, intimidado com a reação, prontamente desistiu de aplicar as
sobretaxas, e os líderes do tumulto não foram punidos.
Com a
invasão e tomada da cidade do Rio de Janeiro, pelos franceses, o temor invadiu
o povo na capital. Providências eram exigidas pela população, mas o governador
Vasconcelos alegava que, não tendo recursos, nada poderia fazer.
Tendo à
frente Domingos da Costa Guimarães, Domingos Gomes e Luís Chafet, o povo
marchou até o governador que, acuado, enviou tropas ao Rio, encontrando a
cidade restabelecida com o pagamento de resgate a René Duguay-Trouin.
O almirante
francês já havia partido e, apesar de tencionar realmente o ataque à Capital, o
mau tempo e naufrágio de duas das embarcações nos Açores demoveram-no
de tal empresa, seguindo então para Caiena.
O desvio
dos franceses fez apaziguarem os ânimos da população e o governador, que
enfrentara duas revoltas mal tendo assumido suas funções, procedeu ao castigo
dos cabeças dessa última insurreição: foram açoitados em praça pública, e ainda
pagaram multas e sofreram o degredo africano.
Fontes:
Souto Maior,
A., História do Brasil, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1968
"A
História do Brasil em Cinco Lições", de Roberto Macedo, apud Newton D’Ângelo
in Revista Brasileira de História
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