sexta-feira, 14 de novembro de 2014

UM CONSTRUTOR DE AFETOS

Crônica de Joaci Góes

No último sábado, 8 de novembro, a Bahia festejou os 85 anos do advogado, professor e memorialista Edson O´Dwyer, um dos mais festejados penalistas do Brasil, que tem o privilégio de chegar a idade tão  pinacular com o garbo que desde sempre levou seus amigos mais íntimos a entoar, repetidamente, ao longo dos anos, a velha e conhecida interpelação atribuída aos bonitos da praça: -Espelho meu, espelho meu: haverá no mundo alguém tão belo quanto eu? Ao que o espelho respondeu:- Ué! E o Edson O´Dwyer já morreu?
Não obstante a surpreendente forma física com que Edson alcança essa respeitável vetustez, que já o coloca no invejável patamar de 11 anos acima da expectativa de vida dos brasileiros, a implacável pátina dos anos poderia leva-lo a reagir como o fez o legendário jornalista baiano Simões Filho, ao entreouvir o comentário de uma jovem a uma amiga, quando caminhava pela Rua Chile: - Mas que velho bonito! Simões parou e dirigiu-se à moça: - Eu preferiria que você pudesse dizer: “Mas que jovem feio”.

Inexistente tal opção, o que mais importa, porém, neste momento de sua rica biografia é poder colher de sua família amplificada, consanguíneos, amigos e admiradores o reconhecimento unânime de que foi pensando em pessoas como ele que Bertolt Brecht cunhou a famosa frase: “Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Há, porém, os que lutam toda a vida, e esses são os imprescindíveis.” Assim pensam pessoas como Zilda, sua irrepreensível mulher, os filhos Edson JR, Patrícia, Paulo Sérgio e Isabela, sob o coro dos netos André, Gustavo, Adriana, Victória, Paula e Manuela, sem contar as noras e genros, Ângela, Isabel Cristina e Toufi. Antes de todos eles, partilharam desse canto de louvores os pais Oswaldo e Olga, acompanhados pelos irmãos Nilton e Nilza. Fora do círculo estritamente familiar, o Clube Inglês da Bahia reúne nomes exponenciais que representam um corte transversal da nossa inteligência que se regem por esse mesmo diapasão, como os seus colegas e alunos da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Católica de Salvador e da FACS, bem como os confrades da Academia de Letras Jurídicas da Bahia, da OAB e da Justiça Militar e Eleitoral.
Edson se impôs ao reconhecimento geral como professor de Direito Processual Penal e como advogado criminalista, fiel a um compromisso de toda a vida que diz mais que tudo de sua incomparável vocação para cultivar amigos: sua palavra convincente destinou-se, sempre, a defender, nunca a acusar. É como se sua mente fosse acossada pelos entes queridos que gravitam em torno dos réus, mesmo os mais cruentos, como filhos, irmãos, pais e cônjuges, respirando com os corações aos pulos, enquanto transcorrem as dramáticas sessões de julgamento. Sem qualquer dúvida, o Penal é o campo do Direito onde predominantemente se desenrolam os maiores dramas, paixões e tragédias humanas.
Quem quiser pôr à prova a conhecida conclusão de George Buffon, segundo a qual “o estilo é o próprio homem”, basta ler os deliciosos livros de memória que Edson nos tem brindado, no outono de sua existência, começando por Rua dos Marchantes, de 2007, passando por Cruz do Pascoal, de 2008, Beco da Gasosa, de 2009, Quitandinha do Capim, de 2011 e Largo dos Quinze Mistérios, de 2013.
Num momento de tamanho declínio dos valores morais que confrange a alma do Brasil, os 85 anos de Edson O´Dwyer é motivo de grande regozijo geral, particularmente para os que têm o privilégio de sua educada, inteligente e culta convivência.

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