Crônica de Joaci Góes
No último sábado, 8 de novembro, a Bahia festejou
os 85 anos do advogado, professor e memorialista Edson O´Dwyer, um dos mais
festejados penalistas do Brasil, que tem o privilégio de chegar a idade
tão pinacular com o garbo que desde sempre levou seus amigos mais íntimos
a entoar, repetidamente, ao longo dos anos, a velha e conhecida interpelação
atribuída aos bonitos da praça: -Espelho meu, espelho meu: haverá no mundo
alguém tão belo quanto eu? Ao que o espelho respondeu:- Ué! E o Edson O´Dwyer
já morreu?
Não obstante a surpreendente forma física com que
Edson alcança essa respeitável vetustez, que já o coloca no invejável patamar
de 11 anos acima da expectativa de vida dos brasileiros, a implacável pátina
dos anos poderia leva-lo a reagir como o fez o legendário jornalista baiano
Simões Filho, ao entreouvir o comentário de uma jovem a uma amiga, quando
caminhava pela Rua Chile: - Mas que velho bonito! Simões parou e dirigiu-se à
moça: - Eu preferiria que você pudesse dizer: “Mas que jovem feio”.
Inexistente tal opção, o que mais importa, porém,
neste momento de sua rica biografia é poder colher de sua família amplificada,
consanguíneos, amigos e admiradores o reconhecimento unânime de que foi
pensando em pessoas como ele que Bertolt Brecht cunhou a famosa frase: “Há
homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Há, porém, os que lutam toda a
vida, e esses são os imprescindíveis.” Assim pensam pessoas como Zilda, sua
irrepreensível mulher, os filhos Edson JR, Patrícia, Paulo Sérgio e Isabela,
sob o coro dos netos André, Gustavo, Adriana, Victória, Paula e Manuela, sem
contar as noras e genros, Ângela, Isabel Cristina e Toufi. Antes de todos eles,
partilharam desse canto de louvores os pais Oswaldo e Olga, acompanhados pelos
irmãos Nilton e Nilza. Fora do círculo estritamente familiar, o Clube Inglês da
Bahia reúne nomes exponenciais que representam um corte transversal da nossa
inteligência que se regem por esse mesmo diapasão, como os seus colegas e alunos
da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Católica de Salvador e da
FACS, bem como os confrades da Academia de Letras Jurídicas da Bahia, da OAB e
da Justiça Militar e Eleitoral.
Edson se impôs ao reconhecimento geral como
professor de Direito Processual Penal e como advogado criminalista, fiel a um
compromisso de toda a vida que diz mais que tudo de sua incomparável vocação
para cultivar amigos: sua palavra convincente destinou-se, sempre, a defender,
nunca a acusar. É como se sua mente fosse acossada pelos entes queridos que
gravitam em torno dos réus, mesmo os mais cruentos, como filhos, irmãos, pais e
cônjuges, respirando com os corações aos pulos, enquanto transcorrem as
dramáticas sessões de julgamento. Sem qualquer dúvida, o Penal é o campo do
Direito onde predominantemente se desenrolam os maiores dramas, paixões e
tragédias humanas.
Quem quiser pôr à prova a conhecida conclusão de
George Buffon, segundo a qual “o estilo é o próprio homem”, basta ler os
deliciosos livros de memória que Edson nos tem brindado, no outono de sua
existência, começando por Rua dos Marchantes, de 2007, passando por Cruz do
Pascoal, de 2008, Beco da Gasosa, de 2009, Quitandinha do Capim, de 2011 e
Largo dos Quinze Mistérios, de 2013.
Num momento de tamanho declínio dos valores morais
que confrange a alma do Brasil, os 85 anos de Edson O´Dwyer é motivo de grande
regozijo geral, particularmente para os que têm o privilégio de sua educada,
inteligente e culta convivência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário