Colaboração de
Joaci Góes
Para compensar a insatisfação dos baianos com os serviços públicos de
educação, saúde e segurança, 50% das vagas na série B, do campeonato brasileiro
de futebol, foram conquistadas por Bahia e Vitória!
Humor negro à parte, a verdade é que encerramos este ano de 2014 com
muito pouco a festejar, ficando os soteropolitanos com a vantagem de uma
administração municipal que vem restaurando o orgulho com a capital do Estado.
A eleição, no último sábado, dos novos dirigentes do Esporte Clube
Bahia, para os próximos três anos, contém o oximoro de ter sido bom e ruim, ao
mesmo tempo. Bom, porque reitera o curso, aparentemente irreversível, tomado
pelo Clube de seguir com práticas democráticas, compatíveis com uma das maiores
e mais apaixonadas torcidas do futebol brasileiro. Ruim, na medida em que
revela a abissal distância que separa o clube de suas enormes possibilidades,
ao exibir o inexpressivo colégio eleitoral de quatro mil associados
comparecentes às urnas.
O programa de intenções da nova diretoria, liderada pelo jornalista
Marcelo Sant`Ana, pareceu-nos apropriado para o momento, na medida em que
revela racionalidade operacional, conducente à indispensável estabilidade sem a
qual - a experiência histórica o comprova-, os times de futebol não alcançam os
títulos ansiados pelos fãs. Santa Catarina que o diga.
Acreditamos, porém, que algumas intenções pétreas sobrepairam a todas as
outras, como sustentáculo básico do desempenho dentro das quatro linhas,
desgraçadamente negligenciadas pelo espírito de improvisação que está na raiz
dos fracassos esportivos do gênero, a saber:
1-Transparência. A gestão do patrimônio do clube deve ser confiada a uma
equipe, e não apenas a uma pessoa, de modo a evitar que caia na tentação de
confundir suas contas pessoais com a receita do clube, seja de verbas de
patrocínio venda de ingressos ou de jogadores, como tem sido mais frequente do
que o desejado, Brasil afora;
2-A equipe técnica, incluídos os treinadores, fisicultores, médicos e
diretores de futebol, deve ter a garantia de estabilidade por um período de
pelo menos dois anos, mínimo necessário a se obter os resultados oriundos de um
projeto de curto prazo. Como é comum no Brasil, não é possível demitir um
técnico na sequencia de alguns resultados desfavoráveis. A insegurança
suscitada pela sensação de ter pendente sobre a cabeça a espada de Dâmocles
aumenta as possibilidades de fracasso. Se as equipes de cirurgiões operassem
sujeitas a tais critérios, certamente, o número de insucessos seria
sensivelmente maior do que a média predominante;
3-Voto qualificado. Não há no Brasil um clube com a torcida que o Bahia
tem com quadro tão inexpressivo de associados. O Bahia é a mais valiosa marca
de todo o Nordeste brasileiro, mesmo com os insucessos dos últimos dez anos,
quando o crescimento do seu maior rival, o Esporte Clube Vitória, encostou-lhe
nos calcanhares! Recorde-se que há três décadas, cerca de 70% da torcida baiana
pertencia ao Bahia, líder de renda em sucessivos campeonatos nacionais. Hoje,
esta maioria tricolor deve ficar, apenas, um pouco além de 50% dos torcedores.
O Bahia, portanto, tem que ter a coragem de inovar de modo a transformar esta
paixão em receita imediata, para financiar as medidas necessárias ao seu
soerguimento, como contratar bons jogadores e, sobretudo, alcançar excelência
na organização de suas divisões de base. E nada mais adequado do que a
introdução do voto qualificado que dá ao associado o peso compatível com o
valor de sua contribuição mensal. O voto do sócio que contribui com uma cota
representa um voto; o que contribui com duas cotas vale dois votos, e assim
sucessivamente, fixado o limite máximo de vinte votos, por exemplo. No dia da
votação, o associado terá o peso da contribuição média dos últimos doze meses.
A prevalência do argumento tolo e populista, na linha dos líderes
bolivarianos, de que a medida geraria a discriminação entre torcedores de
categorias diferentes esquece que na formação do capital das empresas os
acionistas têm o peso correspondente ao valor do seu investimento. Com tal
iniciativa pioneira, o Bahia poderia elevar para alguns milhões sua atual e
irrisória arrecadação mensal, habilitando-se a subir ao primeiro plano do
futebol arte do Brasil.
Essas recomendações também valem para o Esporte Clube Vitória, com quem
o Bahia está algemado, condenados ambos a surfar as ondas do sucesso ou
mergulhar abraçados para a mediocridade de hoje.
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