Arte pictórica
A vida e a arte de Rubens, um dos
maiores pintores de todos os tempos
Peter Paul
Rubens (Siegen, 28 de junho de 1577 – Antuérpia, 30 de maio de 1640) foi
um pintor flamengo do
estilo barroco,
proponente de um estilo extravagante que enfatizava movimento, cor e
sensualidade. Ele é conhecido por suas obras contra reformistas, retratos
e pinturas históricas de assuntos mitológicos e alegóricos.
Rubens
nasceu em Siegen, na Vestfália, de Jan
Rubens e Maria Pypelincks. Seu pai, um calvinista, e sua mãe
fugiram de Antuérpia para Colônia em 1568, por causa do crescente tumulto religioso
e das perseguições aos protestantes durante
o reinado do Duque de Alba nos Países Baixos Espanhóis. Jan Rubens se
tornou um conselheiro jurídico (e amante) de Ana da Saxónia, a segunda
esposa de Guilherme I, príncipe de Orange, e se
assentou na corte dela em Siegen em 1570. Após Jan Rubens ter sido preso por
causa do relacionamento, Peter Paul Rubens nasceu, no ano de 1577. A família
retornou para Colônia no ano seguinte e, em 1589, dois anos após a morte de
Jan, ele e sua mãe se mudaram novamente para Antuérpia, onde ele foi criado
como um católico. A
religião apareceria de forma proeminente na maior parte de sua obra e Rubens
iria se tornar uma das principais vozes da pintura na Contrarreforma católica.
Em
Antuérpia, Rubens recebeu uma educação humanista,
estudando latim e literatura clássica. Aos quatorze, ele começou o seu aprendizado
artístico com Tobias Verhaeght.
Subsequentemente, ele estudou sob dois dos principais pintores da cidade na
época, o artistas do final do período maneiristas Adam van Noort e Otto van Veen. Começou
com Adam van Noort, depois Tobias Verhaeght e finalmente Otto van Veen, que
exerceu sobre ele a maior influência. Foi Van Veen que fez nascer em Rubens uma
grande admiração pela Itália e
pela cultura latina clássica. Isso marcou toda a sua obra e o fez servir aos
reinos latinos católicos mesmo sendo germânico filho de pai protestante.
Muito de
seu treinamento inicial envolveu copiar as obras de artistas anteriores, como
as xilogravuras de Hans Holbein, o Jovem e as gravuras de Marcantonio Raimondi baseadas
em Rafael. Rubens completou a sua educação em 1598, quando
então entrou para a Guilda de São Lucas como um mestre independente.
Retrato equestre do Duque de Lerma
Em 1600,
Rubens viajou para a Itália. Ele parou primeiro em Veneza, onde ele
viu as pinturas de Ticiano, Veronese e Tintoretto, antes de
assentar em Mântua, na corte
do duque Vincenzo I Gonzaga. As cores e as composições de Veronese e
Tintoretto tiveram um efeito imediato sobre as pinturas de Rubens e seu estilo
posterior, mais maduro, foi profundamente influenciado por Ticiano. Com o apoio
financeiro do duque, Rubens viajou a Roma passando
por Florença em
1601. Lá, ele estudou grego clássico e a
arte romana, copiando obras dos mestres italianos. A escultura helenística "Laocoonte e seus filhos" teve
uma influência especial sobre ele, assim como a arte de Michelangelo, Rafael e Leonardo da Vinci. Ele
também foi influenciado pela recente - e fortemente naturalística - obra de Caravaggio. Ele
posteriormente fez uma cópia de uma obra dele, "O Enterro de Cristo", e recomendou
ao seu patrocinador, o duque de Mântua, que comprasse a "Morte da Virgem" (que
hoje está no Louvre). Além
disso, ele foi instrumental nas aquisições da "Madonna do Rosário" (Kunsthistorisches Museum, Viena) para a
igreja dominicana em
Antuérpia. Durante sua primeira estadia em Roma, Rubens completou uma encomenda
para uma peça de altar, "Santa Helena (território) com a Vera Cruz" para
a igreja de Santa Croce in Gerusalemme.
Rubens
viajou para a Espanha numa missão diplomática em 1603, levando presentes dos
Gonzagas para a corte de Filipe III. Enquanto estava lá, ele estudou a enorme
coleção de
obras de Rafael e Ticiano criada por Filipe II. Ele também pintou um retrato equestre do Duque de Lerma (Museu do Prado), em Madrid - à
direita) que já demonstra a influência de obras como o retrato de Carlos V de Ticiano (1548; no Prado), Esta viagem marcou
como sendo a primeira de muitas em sua carreira onde ele combinaria as
necessidades da arte e da diplomacia.
Ele
retornou à Itália em 1604, onde permaneceu pelos próximos quatro anos, primeiro
em Mântua e depois em Gênova e
Roma. Em Gênova, Rubens pintou diversos retratos, como a Marchesa Brigida Spinola-Doria (National Gallery of Art, Washington, D.C.) e o
retrato de Maria di Antonio Serra Pallavicini, num estilo que influenciou as
pinturas posteriores de Anthony van Dyck, Joshua Reynolds e Thomas Gainsborough. Ele também começou um livro sobre os palácios da
cidade. Entre 1606 e 1608, ele ficou a maior parte do tempo em Roma e, durante
esse período, ele recebeu, com a ajuda do cardeal Jacopo
Serra (o irmão de Maria Pallavicini), sua mais importante encomenda até então,
o grande altar da mais moderna e elegante nova igreja da cidade, Santa Maria in Vallicella, também
conhecida como Chiesa Nuova.
O tema principal
tinha que ser São Gregório Magno e importantes santos locais
adorando um ícone da Virgem e o Menino. A
primeira versão, uma tela simples (atualmente no Musée des Beaux-Arts, em Grenoble), foi
imediatamente substituída por uma segunda versão, em três painéis planos que
permitem que a verdadeira milagrosa imagem sagrada da "Santa Maria em
Vallicella" seja revelada em festas
As
experiências de Rubens na Itália continuaram a influenciar sua obra. Ele
continuou a escrever muitas de suas correspondências em italiano, assinando seu
nome como "Pietro Paolo Rubens" e por toda vida falou, com saudade,
em voltar para a península - algo que jamais ocorreria.
Não tarda a
chegar a fama. Sucedem-se várias outras, principalmente pinturas para igrejas e
retratos da aristocracia. Pinta duques, condes e também burgueses, a classe em
franca ascensão nos estados italianos. Fica famoso, e é conhecido entre as
elites por ser, além de excelente pintor, uma pessoa de fácil relacionamento e
grande simpatia.
O rapto das filhas de Leucipo
Ao saber
que sua mãe estava doente em 1608, Rubens planejou viajar da Itália para
Antuérpia. Porém, ela morreu antes que ele pudesse vê-la. Sua volta coincidiu
com um período de renovada prosperidade na cidade com a assinatura do Tratado de Antuérpia em
abril de 1609, que iniciou a Trégua dos Doze Anos. Em setembro de 1609, Rubens foi escolhido como o
pintor da corte por Alberto VII de Áustria, e da Infanta Isabella Clara Eugenia, soberanos
dos Países Baixos Espanhóis. Ele recebeu uma permissão especial para basear seu
estúdio em Antuérpia ao invés de Bruxelas, onde
estava sediada a corte, e também para trabalhar para outros clientes. Ele se
manteve próximo da arquiduquesa Isabella até a sua morte em 1633 e foi
utilizado não somente como pintor, mas também como embaixador e diplomata.
Rubens cimentou ainda mais seus laços com a cidade quando, em 3 de outubro de
1609, ele se casou com Isabella Brant, a filha
de um dos mais proeminentes humanistas da cidade, Jan Brant.
Em 1610,
Rubens se mudou para uma casa e um estúdio novos, projetados por ele. Agora, o
Museu Rubenshuis, a vila de
influência italiana no centro de Antuérpia acomodava o seu estúdio, onde ele e
seus aprendizes fizeram a maior parte de suas obras, além de sua coleção de
arte pessoal e uma biblioteca, ambas entre as maiores de Antuérpia. Durante
este período, ele ampliou o estúdio com a ajuda de diversos estudantes e
assistentes, o mais famoso deles fora o jovem Anthony van Dyck, que logo
se tornaria o mais famoso retratista flamengo e um
colaborador frequente de Rubens. Ele também colaborava frequentemente com
muitos especialistas ativos na cidade, incluindo o pintor de animais Frans Snyders, que
contribuiu com a águia em
seu "Prometeu acorrentado" (1611–12. Philadelphia Museum of Art), e com o seu
grande amigo, o pintor de flores Jan Bruegel, o Velho.
Peças de
altar, como a "O Erguimento da Cruz" (1610)
e "A Descida da Cruz" (1611-1614)
para a Catedral de Nossa Senhora foram
particularmente importantes para estabelecer Rubens como o mais importante
pintor nos Flandres após
a sua volta. O "O Erguimento da Cruz", por exemplo,
demonstra a síntese que Rubens fez da "Crucificação" de Tintoretto para
a Scuola Grande di San Rocco, em Veneza, as
figuras dinâmicas de Michelangelo e o seu estilo pessoal. Esta pintura é
geralmente lembrada como um grande exemplo da arte religiosa barroca.
Rubens fez
uso de gravuras e de capas de livros, especialmente para o
seu amigo Balthasar Moretus, o
proprietário da grande Editora Plantin-Moretus, para espalhar a sua fama por
toda a Europa durante a sua carreira. Com a exceção de um par de água-forte, ele mesmo
apenas produziu desenhos dessas gravuras, deixando a impressão em si para os
especialistas, como Lucas Vorsterman. Ele
recrutou diversos entalhadores treinados por Goltzius, a quem
ele cuidadosamente ensinou para que aprendessem o estilo mais vigoroso que ele
queria. Ele também projetou a última xilogravura importante
anterior ao revival da técnica no século XIX. Rubens também
deixou claro os direitos de autor de
suas gravuras, principalmente na Holanda, onde sua obra era largamente copiada
através delas. Ele também estabeleceu os direitos de autor na Inglaterra,
França e Espanha13 .
A produção
dos quadros obedecia a um esquema montado por ele, segundo o qual ele realizava
todos os primeiros esboços e encarregava os aprendizes de montar um modelo em
escala menor, que era apresentado ao cliente. Se aprovado, Rubens traçava a
lápis na tela e os discípulos colocavam a cor e o óleo, cabendo ao mestre de
novo fazer a "arte final".
A Assunção da Virgem Maria
Em 1621,
a rainha-mãe da
França, Maria de Médici, encomendou a Rubens dois grandes ciclos alegóricos celebrando
a sua vida e a de seu recém-finado marido, Henrique IV para o Palácio do Luxemburgo, em Paris. O desde
então chamado "Ciclo de Maria de Médici" (atualmente no Louvre) foi
instalado em 1625 e, embora ele tenha começado o trabalho no segundo ciclo,
jamais teve tempo de terminá-lo. Maria foi exilada da França em 1630 por seu
filho, Luís XIII, e morreu em 1642, na mesma casa em Colônia onde
Rubens vivera quando criança.
Com o final
da Trégua dos Doze Anos, em 1621, os regentes Habsburgos espanhóis
confiaram a Rubens numerosas missões diplomáticas. Em 1624, o embaixador francês
escreveu de Bruxelas: "Rubens está aqui para pintar o retrato do
príncipe da Polônia, por ordens da infanta" (o
príncipe Władysław IV Vasa foi a
Bruxelas como convidado pessoal da Infanta Isabella em 2 de setembro de 1624).
Entre 1627
e 1630, a carreira diplomática de Rubens esteve particularmente ativa e ele
frequentemente se movimentava entre as cortes da Espanha e da Inglaterra
tentando promover a paz entre os Países Baixos Espanhóis e as Províncias Unidas. Ele também fez diversas viagens para o norte da
Holanda, tanto como artista quanto como diplomata. Nas cortes, ele por vezes
encontrava pessoas que acreditavam que cortesãos não
deveriam colocar as mãos em nenhuma forma de arte ou comércio, mas ele foi
também recebido como um cavalheiro em diversas outras. Foi durante este período
que Rubens foi, por duas vezes, elevado ao título de cavaleiro, a
primeira por Filipe IV, em 1624, e a segunda, por Carlos I, em 1630. Rubens esteve em Madrid por oito meses
entre 1628 e 1629. Além das negociações diplomáticas, ele realizou ali diversas
obras importantes para Filipe IV e outros patrocinadores privados. Ele também
pôde começar um novo estudo sobre as obras de Ticiano, copiando várias delas,
inclusive a "Queda do Homem" de
Madrid (1628-1629). Durante a sua estadia, ele se tornou amigo do pintor da
corte espanhola, Diego Velázquez, e os dois
planejaram visitar a Itália juntos no ano seguinte. Rubens, porém, retornou
para Antuérpia e Velásquez viajou sem ele.
Sua estadia
em Antuérpia seria breve e ele logo viajou para Londres, onde ele
permaneceu até abril de 1630. Uma obra importante deste período é a "Alegoria
sobre a Paz e Guerra" (1629; National Gallery, Londres). Ela é um bom exemplo da forte
preocupação de Rubens com a paz e foi presenteada a Carlos I.
Enquanto a
reputação de Rubens entre os colecionadores e a nobreza continuava a crescer
durante esta década, ele e seu estúdio continuaram a pintar obras monumentais
para contratantes locais em Antuérpia. A "Assunção da Virgem Maria"22 (1625-1626)
para a Catedral de Antuérpia é um bom exemplo.
O Julgamento de Páris
A última
década de Rubens se passou em Antuérpia ou nas redondezas. Obras grandes para
compradores estrangeiros ainda o ocupavam, como as pinturas para o teto
da Salão de Banquetes do Palácio de Whitehall, de Inigo Jones, mas ele
também explorou algumas possibilidades artísticas mais pessoais.
Em 1630,
quatro anos após a morte de sua primeira esposa, o artista, então com 53 anos
de idade, se casou com a donzela Hélène Fourment, de
dezesseis. Ela inspirou nele figuras voluptuosas em muitas pinturas da década
de 1630, incluindo "A Festa de Vênus"(Kunsthistorisches Museum, Viena), "As Três Graças" (Prado,
Madrid) e "O Julgamento de Páris" (Prado,
Madrid - à direita). Nesta última pintura, que foi feita para a corte
espanhola, a jovem esposa do artista foi reconhecida como sendo a figura
de Vênus. Num retrato íntimo dela, "Hélène
Fourment embrulhada em peles", também conhecido como Het
Pelsken, a esposa de Rubens chega a ser representada com base nas
esculturas clássicas da Vênus Pudica, como
na Vênus de Médici.
Em 1635,
Rubens comprou uma propriedade fora de Antuérpia, o Castelo Elewijt (ou Steen),
onde ele passou os seus últimos dias. Paisagens, como a sua Château de
Steen com o caçador (National Gallery, Londres) e "Fazendeiros retornando do campo" (Galeria Pitti, Florença),
refletem a natureza mais pessoa de muitas de suas obras finais. Ele também se
baseou nas tradições holandesas de Pieter Bruegel, o Velho, para se inspirar
para obras como Kermis Flamengo (ca. 1630;
Louvre, Paris).
Rubens
morreu de gota em 30 de maio de 1640 e foi enterrado na
Igreja de São Tiago em Antuérpia. Ele deixou oito filhos, três
com Isabella e cinco com Hélène, sendo que o caçula nasceu oito meses após a
sua morte.
Rubens foi
um artista muito prolífico. Suas obras sob encomenda foram majoritariamente
sobre assuntos religiosos, pinturas "históricas", que incluem
assuntos mitológicos, e cenas de caçadas. Ele pintou muitos retratos,
especialmente de amigos e autorretratos, e, no final de sua vida, ele pintou
diversas paisagens. Ele também projetou diversas tapeçarias e gravuras, além de
sua própria casa.
Seus
desenhos são muito vigorosos, mas não tão detalhados; ele também se utilizou de
estudos em óleo para se preparar para suas obras. Ele foi um dos últimos
artistas a fazer uso consistente de painéis de madeira como
meio de apoio, mesmo para obras grandes, e se utilizou também de lona,
especialmente quando a obra precisaria ser enviada para lugares distantes. Para
suas peças de altar, ele por vezes pintou em ardósia para
reduzir problemas com reflexos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário