sábado, 27 de dezembro de 2014

NATAL DE 2014


Por
Consuelo Pondé

“Nasce um Deus/Outros morrem. A Verdade/Nem veio nem se foi: o Erro mudou/Temos agora outra Eternidade/ e era sempre melhor o que passou”.
Essa sempre foi a sensação que sentia durante a chegada do Natal. A de que algo se perdera para sempre e que, jamais, poderia eu restaurar, inteiramente, os quadros do passado.
Não sei se já conheço a Paz procurada por todos. Muita gente dela não tem ciência, porque vive em área de conflito permanente. Paz representa a humildade, harmonia e solidariedade entre os homens.
Todos almejam a Paz, a paz que reconcilia, a paz que dá consolo e reúne amigos. Será que a paz universal, tal como a idealizamos, algum dia se concretizará?
Não seria porque os homens tornaram melhores, mas porque nova ordem se estabelece no mundo e o que os seres que aqui habitam reflitam sobre as vantagens de uma vida sem ódios, disputas, guerras, crueldades, morticínios e indiferenças.
A Paz não convive com a Força, com o arbítrio, com a injustiça. A Paz aspira a serenidade, a harmonia e o equilíbrio.
Como Cristãos, adeptos dos ensinamentos de Cristo, temos por propósito uma honesta, mansa e pacata serenidade, como escreveu Juan Luis Vives. Todavia, nem sempre os cristãos são pacatos e humildes, mas arrogantes e vaidosos, esquecendo-se dos mandamentos da Igreja, vivendo uma vida de “representação”.
Este natal de 2014 trouxe–me lições preciosas, que se haviam estiolado com o passar dos anos, com a descrença nos homens, a desconfiança em relação às noções infundidas em meu espírito desde os tempos de menina e outros aspetos da vida cotidiana, que se foram acrescentando ao meu “arsenal” de conhecimentos.
Tive e tenho a oportunidade de reconhecer as pessoas que me prezam, meus verdadeiros amigos, que sempre estiveram ao meu lado e dão demonstrações de afeto desinteressado.
Aferi, especialmente, depois de setembro, o nível de cuidados e preocupações em relação à minha pessoa e pude perceber de quantas orações fui beneficiada. Acolhi gestos de ternura, sedimentei afeições antigas. Por isso, é tempo de agradecer as manifestações de afeição, que se multiplicaram nos inúmeros telefonemas, envio de mensagem, enfim, nas orações feitas em meu benefício, a fim que fosse desviada do umbral da morte. Sou extremamente grata aos que pediram, com fé, pela minha cura, muitas das quais não deixaram de apelar para Irmã Dulce, da minha devoção.
Também tive que exercitar minha paciência, saber o quanto é árduo suportar tantas agulhadas nas veias, o tempo todo. Conviver com os pés edemaciados, pesados além do suportável.
Sim, quantos incômodos inimagináveis, recebidos e vividos com muita paciência. O desconforto de deitar de costas, com o ventre sempre voltado para cima. A impossibilidade de virar o corpo, por mínimo que fosse, para melhor se ajustar às recomendações médicas.
Padeci das incertezas que cercam esses momentos de definição. Cumpri tudo que me foi determinado no hospital, percebendo como é angustiante aguardar resultados, vencer certos diagnósticos. Percebi como é espinhoso passar dias e mais dias à espera de determinados exames elucidativos.
Curioso, em momento algum dei demonstração de tibieza, de falta de coragem de enfrentar um procedimento, acatando, com um misto de humildade e de fé, tudo quanto emanava das ordens superiores.
Estranhamente, mais uma vez, acomodei-me às circunstâncias de um momento crucial, como, aliás, havia ocorrido em ocasiões pregressas.
Deixei de lado o desânimo para transformá-lo em confiança e fé. Muitos colaboraram para que se efetivasse essa transformação interior. Primeiramente, a equipe médica que me atendeu com extremos de benemerência. Dr. Ricardo Eloy, Cristiano e Christian, sem falar na anestesista, cujo nome não retive. Ao Provedor Roberto Sá Menezes, a Ex. provedora Lise Wekerle, a Dr. Ricardo Madureira, diretor do Hospital, e a tantos quantos, trabalhando naquele estabelecimento, cuidaram de mim, com dedicação e carinho. Destaco a dedicação dos médicos que me assistiram durante os dias ali passados, a exemplo do Dr. Rottemberg e aos jovens e competentes Drs. Joberto e Genario. Aos Enfermeiros, técnicos e fisioterapeutas, o meu reconhecimento profundo.
Por tudo isso, neste Natal tão sobrecarregado de agradecimento e de conforto íntimo, quero manifestar o fortalecimento da minha fé e agradecer aos religiosos que me visitaram, ao Dr. Roberto Figueira Santos, solidário e presente, ao querido Arquiabade Emmanoel D´Ábbe do Amaral, aos padres da Catedral Basílica e da Capela do Hospital Santa Izabel, sem esquecer das piedosas Ministras da Eucaristia. A todos, sem exceção, meu muito obrigado. Que Deus o abençoe pelo bem que me fizeram. De volta ao seio da família e ao contato com os amigos, sinto ter crescido a minha fé nas orações e nos homens que, abnegados e extremante dedicados, oferecem seus conhecimentos e sua dedicação a todos que a eles recorrem.

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