Ante ontem (Dia Internacional da Lembrança do Holocausto), o mundo
celebrou os 70 anos da libertação dos sete mil e quinhentos judeus e ciganos,
últimos sobreviventes do campo de extermínio nazista em território polonês. Uma
das mais cruéis histórias da humanidade. O Holocausto em tom maior.
Auschwitz é o
nome de uma rede de campos de concentração localizados
no sul da Polônia operados
pelo Terceiro Reich nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista, maior símbolo do Holocausto perpetrado
pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1940, o governo
de Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e
um campo de extermínio nesta área. A razão direta para sua
construção foi o fato de que as prisões em massa de judeus,
especialmente poloneses, por toda a Europa que
ia sendo conquistada pelas tropas nazistas, excediam em grande número a
capacidade das prisões convencionais até então existentes. Ele foi o maior dos campos de concentração
nazistas, consistindo de Auschwitz I (Stammlager, campo principal e centro
administrativo do complexo); Auschwitz II–Birkenau (campo de extermínio),
Auschwitz III–Monowitz, e mais 45 campos satélites.
Por um longo tempo, Auschwitz era o nome alemão dado
a Oświęcim, na Baixa Polônia, a cidade
em volta da qual os campos eram localizados. Ele tornou-se novamente oficial
após a invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939.
"Birkenau", a tradução alemã para Brzezinka (floresta de bétulas),
referia-se originalmente a uma pequena vila polonesa
que foi destruída para que o campo pudesse ser construído.
Em 27 de abril de
1940, Heinrich Himmler, o Reichsführer da SS, deu
ordens para que a área dos antigos alojamentos da artilharia do
exército, no local agora oficialmente nominado Auschwitz, ex-Oświęcim, fosse
transformada em campos de concentração. No complexo construído, Auschwitz II–Birkenau foi designado por ele
como campo de extermínio e o lugar para a Solução Final dos judeus. Entre o
começo de 1942 e o fim de 1944, trens transportaram judeus de toda a Europa ocupada para
as câmaras de gás do campo. O primeiro comandante, Rudolf Höss,
testemunhou depois da guerra, no Julgamento de Nuremberg, que mais de três
milhões de pessoas haviam morrido ali, 2.500.000 gaseificadas e 500.000 de fome
e doenças. Hoje em dia os números
mais aceitos são em torno de 1,3 milhão, sendo 90% deles de judeus.
Outros deportados para Auschwitz e executados foram 150 mil poloneses,
23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de
400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas
nacionalidades. Aqueles
que não eram executados nas câmaras de gás morriam de fome, doenças
infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas.
Em 27 de janeiro de 1945 os campos foram libertados pelas tropas
soviéticas, dia este que é comemorado mundialmente como
o Dia Internacional da Lembrança do
Holocausto, assim
designado pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, resolução 60/7, em 1 de novembro de 2005, durante
a 42º sessão plenária da Organização. Em 1947, a Polônia criou
um museu no local de Auschwitz I e II, que desde então recebeu a visita de mais
de 30 milhões de pessoas de todo mundo, que já passaram sob o portão de ferro
que tem escrito em seu cimo o infame motto "Arbeit macht frei" (o
trabalho liberta). Em 2002, a UNESCO declarou
oficialmente as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade.
Localização
do complexo de Auschwitz e de outros campos na região Polônia–Alemanha.
O complexo de
campos de concentração de Auschwitz era localizado administrativamente no
extremo leste da província da Alta Silésia do Terceiro Reich, condado de Bielsko (em alemão: Provinz
Oberschlesien, Regierungsbezirk Kattowitz, Landkreis Bielitz),
aproximadamente 30 km ao sul de Katowice e a
50 km a oeste de Cracóvia, como
parte da área polonesa anexada pelo Reich nazista, abrangendo uma grande área industrial, rica em recursos naturais. Havia um
total de 48 campos no complexo. Os maiores eram Auschwitz I, Auschwitz
II–Birkenau e Auschwitz III–Monowitz ou Buna, um campo de trabalhos forçados. O
centro administrativo do complexo ficava em Auschwitz I, onde cerca de 70 mil
pessoas morreram, a maioria delas poloneses étnicos e prisioneiros soviéticos.
Auschwitz II era o campo de extermínio ou Vernichtungslager, onde
ao menos 960 mil judeus, 75 mil poloneses e 19 mil ciganos foram
mortos. Auschwitz III-Monowitz servia como campo de trabalho para a fábrica
Buna-Werke, do conglomerado industrial IG Farben. A SS-Totenkopfverbände, criada por Hitler
em 1934 para a administração de campos de concentração, era a organização
responsável pela administração geral. Essa organização atuava de forma
independente dentro das SS, tendo suas próprias patentes e
estruturas de comando. Três homens comandaram o complexo durante sua
existência: o Obersturmbannführer Rudolf Höss entre
maio de 1940 e novembro de 1943; Obersturmbannführer Arthur Liebehenschel entre novembro de 1943 e maio de 1944 e
o Sturmbannführer Richard Baer, entre
maio de 1944 e janeiro de 1945.
O escritor e químico Primo Levi,
sobrevivente de um ano de confinamento em Auschwitz III-Monowitz e autor
de É isso um Homem?, livro
clássico sobre Auschwitz, assim escreveu as condições de vida ali:
Nunca existiu um Estado que fosse realmente "totalitário". Nunca houve
um lugar onde alguma forma de reação tenha deixado de existir, algum corretivo
na tirania total, nem
mesmo no Terceiro Reich ou na União
Soviética de Stalin: nos dois casos,
a opinião
pública, a magistratura, a imprensa
internacional, as igrejas, o sentimento por
justiça e humanidade que mesmo dez ou vinte anos de tirania não puderam
erradicar, tudo isso, de maneira maior ou menor, agiu como um freio. Apenas no
"Lager" (campo) a restrição a algo era abaixo do não-existente
e o poder destes pequenos sátrapas absoluto.
Este era o campo
original, que servia como centro administrativo de todo o complexo. A área –
que abrigava dezesseis edifícios de um só andar – anteriormente havia servido
de alojamento para a artilharia do
exército. O Obergruppenführer-SS Erich von dem Bach-Zelewski, líder da polícia
da Silésia, procurava
um local para a construção de um novo campo, visto que os existentes estavam no
limite de sua capacidade. Richard Glücks, chefe da Inspetoria dos Campos de
Concentração (Inspektion der Konzentrationslager), enviou o
ex-chefe do campo de Sachsenhausen, Walter
Eisfeld, para avaliar a área. Ela foi aprovada, Himmler deu as ordens de
construção e Rudolf Höss supervisionou as obras e se tornou seu primeiro
comandante, com Josef Kramer como seu subcomandante.
Portão principal de Auschwitz I, onde se lê a frase "Arbeit
macht frei" ("O trabalho liberta").
Os residentes no
local foram despejados, incluindo 1200 pessoas que viviam em barracas ao
redor dos quartéis, e foi criada uma área vazia de 40 km², que os alemães
chamaram de "área de interesse no campo". Trezentos judeus residentes
de Oświęcim foram requisitados e trazidos para trabalharem nas fundações. Entre
1940 e 1941, 17 mil poloneses e judeus residentes nos distritos ocidentais da
cidade, adjacentes ao campo, foram despejados de suas habitações. Também foram
ordenadas expulsões nas vilas de
Broszkowice, Babice, Brzezinka, Rajsko,
Pławy, Harmęże, Bór e Budy. A expulsão de civis poloneses cristãos era um passo
na direção de estabelecer uma Zona de Exclusão ao redor dos campos, que
serviria para isolá-los do mundo exterior e levar adiante o objetivo destinado
a eles pela SS. Alemães e alemães étnicos nascidos
fora do país ocuparam algumas das residências deixadas vazias pelos judeus,
transportados para os guetos.
Os primeiros
prisioneiros (30 criminosos alemães trazidos de Sachsenhausen) chegaram em maio
de 1940. Foram trazidos com a intenção de destiná-los a atuar como funcionários
dentro do sistema prisional. O primeiro transporte de prisioneiros poloneses
para o campo, 728 deles, incluindo 20 judeus, chegou em 14 de junho, vindo da
prisão de Tarnów, no sudeste da
Polônia. Eles foram internados no antigo edifício da Polish Tobacco Monopoly,
vizinho à área, até que o campo estivesse pronto. A população foi crescendo
rapidamente, à medida que o complexo recebia dissidentes, intelectuais e
membros da resistência polonesa presos. Em março de 1941, ele tinha 10.900
prisioneiros, a maioria dos quais poloneses.
A SS selecionava
alguns prisioneiros, geralmente criminosos alemães, como supervisores com
privilégios (os chamados kapos) sobre
outros internos. Apesar de envolvidos em várias atrocidades em Auschwitz,
apenas dois deles foram julgados no pós-guerra por seus comportamentos
individuais, a maioria sendo considerada como não tendo outra escolha senão
agir como agiram. As categorias de prisioneiros eram distinguidas por
marcas especiais em suas roupas: verde para
os criminosos comuns, vermelha para
os presos políticos e amarela para
os judeus. Judeus e prisioneiros soviéticos eram geralmente os tratados da
pior maneira. Todos os prisioneiros tinham que trabalhar nas fábricas de armas
associadas ao complexo, à exceção dos domingos, reservado para limpeza e banho.
As duras condições do trabalho, combinadas com a pouca alimentação e falta de
higiene, levaram a um crescimento considerável da taxa de mortalidade entre os presos. Dos primeiros 10 mil
prisioneiros de guerra soviéticos internados, apenas algumas centenas deles
sobreviveram aos cinco primeiros meses.
Um corredor
do Bloco 11.
O Bloco 11 de
Auschwitz I era considerado "a prisão dentro da prisão", onde aqueles
que quebravam as regras tentavam escapar ou eram suspeitos de sabotagem eram
punidos. Alguns prisioneiros eram obrigados a passar noites seguidas nas
"celas verticais", pequenas celas de 1,5 m², onde quatro deles
eram colocados ao mesmo tempo, não tendo alternativa que passarem a noite toda
em pé, saindo no dia seguinte novamente para os trabalhos forçados nas
fábricas. No porão do
bloco ficavam as "celas da fome", onde os aprisionados ali ficavam
sem receber comida ou água até que morressem. Lá também ficavam as
"celas escuras", que tinham apenas um pequeno espaço na parede para
respirar e portas sólidas; os prisioneiros colocados nestas celas
permanentemente na escuridão iam gradualmente sufocando à medida que o oxigênio ia
rareando dentro delas; às vezes, os guardas SS acendiam velas para fazer o
oxigênio acabar mais depressa; muitos dos ali aprisionados eram suspensos com
as mãos amarradas para trás por horas ou mesmo dias, o que fazia com que, ao
passar do tempo, suas clavículas fossem
deslocadas.
Em 3 de setembro de
1941, o subcomandante SS-Hauptsturmführer Karl Fritzsch
fez uma primeira experiência bem sucedida com seiscentos prisioneiros de guerra
soviéticos e 150 poloneses, trancando-os dentro de um dos porões do bloco 11 e
gaseificando-os com Zyklon-B, um pesticida altamente
letal à base de cianureto. Isto
abriu o caminho para o uso do Zyklon-B como instrumento de extermínio em massa
em Auschwitz, e uma câmara de gás e um crematório foram
construídos, adaptando-se um bunker para isso.
Esta câmara de gás operou entre 1941 e 1942 e cerca de 60 mil pessoas morreram
ali; ela foi depois convertida num abrigo antiaéreo para uso da SS. A câmara existe ainda hoje, assim como o crematório, que foi
reconstruído após a guerra usando os componentes originais, que permaneceram na
área após a libertação.
Sonderkommandos incinerando
corpos em Auschwirtz-Birkenau em agosto de 1944.
No começo de 1943, os nazistas resolveram ampliar a capacidade de
gaseificação em Birkenau. O crematório II,
originalmente construído como câmara mortuária, com necrotérios no
porão e fornos no
mesmo nível do solo, foi convertido numa fábrica de assassinatos, colocando-se
uma porta à prova de gás no necrotério e adicionando-se entradas para o
Zyklon-B e aparelhos de ventilação para removê-lo depois das mortes. Este
sistema começou a funcionar em março. O crematório III foi construído usando o
mesmo método. Os crematórios IV e V, já planejados exclusivamente como centros
de gaseificação, foram construídos na primavera (abril
– junho). Em junho de 1943 todos os crematórios estavam em operação. A grande
maioria das vítimas foi morta após este período. Os corpos eram retirados
por prisioneiros selecionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e
fornos crematórios, chamados de Sonderkommando; eram judeus obrigados a isto em troca de
suas próprias vidas.
Os kapos e
os Sonderkommandos eram prisioneiros com alguns privilégios:
os primeiros tinham a obrigação de manter a ordem nos alojamentos e os segundos
preparavam os recém-chegados imediatamente selecionados para morrer –
geralmente as crianças, os anciãos e os doentes – para as câmaras de gás e
depois transferiam os corpos para os fornos, antes retirando qualquer ouro que
as vítimas tivessem em obturações dentárias. Alguns
destes grupos, entretanto, também eram mortos periodicamente. Eram todos
supervisionados pelos guardas da SS; cerca de 6 mil SS trabalharam em
Auschwitz.
O comando no campo
feminino, separado do masculino pela linha férrea que cortava Auschwitz, era
feito em turnos por Johanna Langefeld, Maria Mandel e Elisabeth Volkenrath, as duas últimas executadas por crimes contra a Humanidade no
pós-guerra.
Em dezembro de 1942, Himmler expediu uma ordem para que todos os ciganos
nos territórios ocupados fossem enviados a campos de concentração, sendo
Auschwitz um dos principais escolhidos para acolhê-los; até então
eles estavam detidos em campos de internamento e guetos, como o Gueto de Lodz, para o
qual cerca de 5 mil ciganos húngaros haviam sido enviados. Um campo separado
para eles foi estabelecido em Birkenau, conhecido como Zigeunerfamilienlager (Campo
Familiar dos Ciganos). A primeira leva de ciganos alemães Sintichegou a
Auschwitz em 26 de fevereiro de 1943 e instalados na seção B-IIe de Auschwitz
II. O campo familiar ainda estava em construção na época. Ele viria a ter 32
dormitórios de seis alojamentos sanitários, com uma ocupação máxima de 20.967
homens, mulheres e crianças. Alguns deles que chegavam tinham tifo, o
que os fez ser imediatamente levados às câmaras de gás, para evitar o
surgimento de uma epidemia.
Quando da liquidação final do campo cigano, os remanescentes 2897 deles
foram mandados para as câmaras de gás. O genocídio do
povo cigano cometido pelos nazistas durante a II Guerra Mundial é conhecido na
linguagem do povo cigano rom como "Porajmos" (O
Devorador), o equivalente ao "Holocausto" judeu.
Várias outras indústrias alemãs construíram suas fábricas na área, para
aproveitar-se do trabalho escravo proporcionado por Morowitz, criando seus
próprios subcampos, como a Siemens-Schuckert e a indústria de armamentos Krupp AG, dirigida
por Alfried Krupp, um membro da família e integrante da SS.
Rudolf Höß,
comandante de Auschwitz entre 1940–43 e 1944-45, durante seu julgamento em
1947.
Para a maioria dos
prisioneiros, o dia começava com uma chamada geral antes do amanhecer, às
04:30, de acordo com algumas testemunhas ou às 03:00, de acordo com o
depoimento do Dr. Miklós Nyiszli, que entrou em Auschwitz em maio de 1944, com
trinta minutos permitidos para as abluções matinais. O Dr. Nyiszli descreve a
chamada como sendo feita durante quatro horas, começando às 03:00 com os
guardas, armados com tacos de borracha, retirando os prisioneiros dos catres
onde dormiam. Eles então eram obrigados a se alinhar do lado de fora dos
barracões em filas de cinco, e "então começava a parte mais desumana da
chamada", durante a qual os guardas e kapos os ameaçavam
com os punhos fechados, arrumando e desarrumando as filas sem motivo plausível
e inventando razões para fazer com que todo um contingente de algum alojamento
fosse obrigado a ficar de cócoras com as mãos em cima da cabeça, as pernas
tremendo de frio e exaustão, por uma hora. Mesmo durante o verão, as madrugadas
em Auschwitz eram frias, e o uniforme de estopa fina
dos prisioneiros era uma proteção insuficiente contra o frio e a chuva. Isto
continuava até as 07:00 quando chegavam os oficiais da SS. Estes recontavam e
reorganizavam as fileiras e anotavam o número total em seus cadernos de notas e
"se houvesse algum morto dentro dos barracões – e geralmente havia entre
cinco a seis toda noite, às vezes até dez – eles tinham que estar presentes
para a inspeção. E não apenas presentes em nome mas fisicamente, de pé, nus, os
cadáveres apoiados por dois companheiros ainda vivos, até que o grupo estivesse
completo". Para vivos e mortos, o número de prisioneiros existentes no dia
anterior em cada barracão tinha que estar presente e ser o mesmo, durante a
chamada do dia posterior. Só depois disso os corpos eram transportados ao crematório.
Fotografias
de identificação de prisioneiros de Auschwitz, feitas por Wilhelm Brasse, fotógrafo
polonês e prisioneiro do campo, famoso após a guerra por suas imagens de
Auschwitz.
Os prisioneiros com
alguma qualificação profissional, escolhidos para trabalharem como assistentes
do Dr. Mengele, caso do Dr. Nyiszli, tinham uma rotina mais branda. A eles eram
dadas roupas civis ao invés de uniformes listrados, dormiam na sala médica do
12º alojamento "hospital" e tinham a chamada feita às 07:00, que
durava apenas dois ou três minutos. Os que estavam acamados também eram
contados, assim como os mortos durante a madrugada, cujos corpos também eram
alinhados nas filas com os vivos e ainda capazes. Estes prisioneiros tinham
direito a um café da manhã em seus dormitórios, junto aos corpos e enfermos.
A dieta deste
corpo médico subalterno era composta de pão do campo, com
o miolo feito de castanhas e
polvilhado com serragem e os
prisioneiros comuns tinham como alimentação básica um pão bolorento de
castanha, trinta gramas de salsicha feita
de carne de cavalo sarnento,
uma margarina cujo
componente básico era linhito, um porção
de meio litro de sopa feita
com água, urticas e erva daninha, sem nada
gorduroso, farinha ou sal, num total máximo
de 700 calorias diárias. Certos prisioneiros, selecionados para
experiências médicas in vivo, como gêmeos e anões, eram mais bem alimentados e vestidos. Seus
alojamentos também eram mais confortáveis e higiênicos.
Após a chamada e a
contagem, eles caminhavam até o local de trabalho, em pares de cinco, vestindo
uniforme listrado, sem roupas de baixo e usando sapatos de madeira sem meia,
muitas vezes de tamanhos menores que seus pés, o que causava grandes dores. Uma
orquestra de prisioneiras, a Orquestra Feminina de Auschwitz, era
forçada a tocar grotescamente uma música alegre, à medida que os prisioneiros
passavam pelos portões a caminho do trabalho. Esta orquestra foi criada
pela supervisora-SS do campo feminino, Maria Mandel que,
por suas atrocidades, ficou conhecida como A Besta. Os Kapos eram
os responsáveis pelo comportamento dos prisioneiros durante o trabalho,
supervisionados por guardas da SS. A jornada durava 12 horas no verão e um
pouco menos no inverno e não havia períodos de descanso durante o dia. Um
prisioneiro era designado para as latrinas, para vigiar o tempo que os demais
gastavam para esvaziar as bexigas e
os intestinos.
Todos os
prisioneiros tinham um número de registro tatuado no antebraço.
Após o trabalho, de
volta aos barracões, nova chamada era feita. Se estivesse faltando algum
prisioneiro, os outros tinham que permanecer alinhados em pé até que ele fosse
achado ou a razão de seu desaparecimento descoberta, mesmo que isso levasse
horas não importando as condições climáticas. Após a chamada havia punições
individuais ou coletivas, dependendo dos acontecimentos do dia, e após isso
lhes era permitido retirarem-se para os alojamentos para receber a ração de
água e alimento diária. O toque de recolher era dado duas ou três horas depois.
Os prisioneiros dormiam em longas filas de beliches de
madeira, com suas roupas e muitas vezes de sapatos, para evitar que fossem
roubados.
De acordo com
Nyiszli, "oitocentas a mil pessoas lotavam os compartimentos sobrepostos
de cada barracão. Sem poder se esticarem completamente, eles dormiam
praticamente empilhados, com o pé de um homem na cabeça, peito ou pescoço do
homem ao lado. Despojados de qualquer dignidade humana, eles empurravam,
chutavam e mordiam uns aos outros na esperança de conseguir mais algum espaço
para dormir, já que não tinham muito tempo para isso
Judeus
velhos e doentes dos Cárpatose mulheres
e crianças judias da Hungria chegam à Auschwitz e aguardam nas rampas de
seleção. Quase todos saíam dali para as câmaras de gás (maio de 1944).
Por volta de julho
de 1942 a SS começou a fazer as notórias "seleções", nas quais os
judeus que chegavam ao campo eram divididos entre aqueles aptos ao trabalho,
levados para a direita e admitidos no campo, e os considerados inúteis, levados
para a esquerda e para as câmaras de gás em seguida. Estes prisioneiros eram
transportados de trem de
toda a Europa ocupada e
chegavam em comboios diários.
Os SS forçavam uma orquestra a
tocar enquanto os judeus caminhavam em direção à sua "seleção" e
possível extermínio; estes músicos, ao lado dos Sonderkommandos, tinham
entre si a maior taxa de suicídio dos campos. O grupo selecionado para
morrer, 3/4 do total, incluía quase todas as mulheres, crianças e velhos, além
daqueles homens que após uma breve inspeção dos integrantes do corpo médico
pareciam não ser completamente aptos. Auschwitz-Birkenau, apesar de ser
construído depois de todos os outros campos de extermínio alemães, foi o que
matou mais vítimas.
Ao serem recebidos
ainda nas rampas de desembarque dos trens – judenramp, a rampa dos
judeus –, os prisioneiros ouviam dos SS que deveriam ser levados para um banho
e passar por um despiolhamento. As
vítimas tinham que tirar as roupas numa antecâmara e entravam nuas nas câmaras
de gás, que tinham a aparência de uma grande sala de banhos coletiva com chuveiros falsos
instalados no teto. Após a portas serem trancadas, os SS despejavam as
pastilhas de cianeto na câmara através de aberturas no teto ou nas paredes.
Apesar das grossas paredes de tijolos e concreto das câmaras, os gritos e os
lamentos que vinham de dentro podiam ser escutados do lado de fora por cerca de
15/20 minutos. Numa tentativa mal sucedida de abafar o barulho, dois motores
de motocicletas eram
acelerados a toda força do lado da construção mas mesmo assim a gritaria
desesperada continuava a ser ouvida sobre o ronco dos motores. Em
Birkenau, a estrutura era de tal monta que mais de 20 mil pessoas podiam ser
gaseificadas e cremadas por dia.
Os Sonderkommandos então
removiam com alicate todo
o ouro existente
nos dentes dos cadáveres, que era derretido e acumulado pela SS. Os pertences
dos mortos eram apreendidos e classificados numa área chamada
"Canadá", assim chamada porque o Canadá era
visto como uma terra de fartura. Muitos dos guardas do campo enriquecerem
roubando as propriedades confiscadas.
As câmaras de
Auschwitz operaram em capacidade máxima entre abril e julho de 1944, período
conhecido como "O Massacre dos Judeus Húngaros". A Hungria tinha
sido uma aliada de Hitler durante a guerra, mas resistia aos pedidos da
Alemanha para entregar-lhe seus judeus até que o país foi invadido pelos
nazistas em março de 1944. Entre abril e 9 de julho de 1944, 475 mil judeus
húngaros, metade da população judia da Hungria pré-guerra, foram deportados
para Auschwitz a uma taxa de 12 mil por dia por grande parte daquele período. O
número de prisioneiros que chegava diariamente e era enviado para as câmaras de
gás era tão grande, que a SS recorreu ao expediente de queimar os corpos em
pilhas ao ar livre, além dos crematórios. Os
médicos de Auschwitz realizaram uma ampla série de experiências com os
prisioneiros, individuais e coletivas. Os doutores Carl Clauberg e Kurt Heissmeyer são
alguns dos mais conhecidos médicos que usaram cobaias humanas para testar novas
teses. Clauberg fez experiências para testar a eficiência do raio-X como método de esterilização feminina administrando largas doses de radiação nas
prisioneiras. Ele injetava grandes doses no útero das mulheres para tentar colá-los e impedir a
reprodução. A
empresa Bayer, então uma subsidiária da IG Farben, comprava
prisioneiros de Birkenau para servirem de cobaias no teste de novas drogas. Heissmeyer, que
considerava judeus humanos e cobaias animais de laboratório como a mesma coisa, comandava
experiências em crianças e fez diversas experiências injetando bacilos vivos
da tuberculose direto
no pulmão de
prisioneiros, na tentativa de conseguir uma vacina para
a doença.
Bloco 10, o
local das experiências médicas em prisioneiros de Auschwitz.
O que mais conseguiu uma infame notoriedade após a guerra, porém, foi o
Dr. Josef Mengele, conhecido como "Anjo da Morte"; ele tinha
uma especial predileção por gêmeos e anões. Mengele fazia cruéis experiências
com os primeiros, como provocar doenças num deles para saber o que acontecia
com o segundo ou matando este quando o primeiro morria, para fazer autópsias
comparativas. Com os anões, costumava provocar-lhes gangrena para
estudar os efeitos na carne. A mando de Heissmeyer, ele foi o responsável
pela escolha de vinte crianças do campo para serem objeto de "pesquisa
científica" no campo de concentração de Neuengamme, após as
quais foram todas enforcadas em ganchos pendurados no teto do porão de uma
escola em Hamburgo, junto com
as enfermeiras, todas também prisioneiras judias, que os acompanhavam.
As experiências
feitas por Mengele em crianças gêmeas foram criadas para tentar mostrar
similaridades e diferenças entre eles, assim como saber se o corpo humano poderia
ser manipulado artificialmente. Entre 1943 e 1944 ele fez experiências em mais
de 1500 prisioneiros gêmeos, adultos e crianças. Cerca de 200 deles
sobreviveram à guerra. Eles eram separados por idade e sexo e guardados em
barracões especiais entre as experiências, que consistiam desde injetar corantes diferentes
nos olhos para observar se mudariam de cor até costurá-los uns aos outros para
tentar criar gêmeos xifópagos. Mulheres grávidas também eram alvo das
experiências de Mengele, em quem praticava vivissecção antes
de mandá-las às câmaras de gás.
Auschwitz também
produziu uma coleção de esqueletos de judeus especialmente assassinados para
estudos de anatomia em
institutos alemães. Ela foi composta de um grupo de 115 judeus escolhidos a
dedo por suas notadas características raciais estereotipadas. Wolfram Sievers e Rudolf Brandt, dois
oficiais da Ahnenerbe, uma
organização de Estado nazista dedicada ao estudo da herança ancestral, eram os
responsáveis por conseguir os esqueletos para o Instituto de Anatomia da Reichsuniversität
Straßburg criada em 1940 e localizada na Alsácia, região
na França Ocupada. Por causa
de um epidemia de tifo no campo, os escolhidos foram colocados em quarentena para
impedi-los de adoecerem e perderem o valor como espécies anatômicas. Em
1943, um total de 87 deles – 46 eram judeus gregos da cidade de Tessalônica – foi
retirado de Auschwitz e enviado ao campo de Natzweiler-Struthof, na Alsácia, o único campo de concentração nazista
em território francês, onde 86 foram mortos na câmara de gás e uma baleada por
se recusar a entrar na câmara. Os corpos dos 57 homens e das 29 mulheres foram
enviados para Estrasburgo para
estudos. Em 1944, com a aproximação dos Aliados, havia preocupação entre os
nazistas sobre a possibilidade dos corpos serem descobertos, já que, mantidos
congelados, eles ainda não haviam sido descarnados. A primeira parte do processo
era o de fazer moldes anatômicos dos corpos antes de reduzi-los a
esqueletos. Quando os Aliados
libertaram a Alsácia em 1945, encontraram na universidade 86
corpos de homens e mulheres dos quais em 70 faltavam o crânio.
Durante muitos anos
as identidades destas 87 vítimas da macabra coleção permaneceram desconhecidas
à exceção de um, Menachem Taffel (prisioneiro nº 107969, tatuado no braço), um
judeu polonês que vivia em Berlim, graças
aos esforços do caçadores de nazistas Serge e Beate Klarsfeld. Em 2003, o Dr.
Hans-Joachim Lang, um professor alemão da Universidade de Tübigen, conseguiu a
identificação de todos, comparando os números dos corpos encontrados em
Estrasburgo com os números dos prisioneiros vacinados em Auschwitz.
Wolfram Sievers e
Rudolf Brandt foram presos pelos Aliados após a guerra, julgados e condenados à
morte no Julgamento dos Médicos em Nuremberg (1946/47). Os
dois foram enforcados em 2 de junho de 1948 na prisão de Landsberg.
Witold Pilecki, em foto
com uniforme militar anterior à guerra. (c. 1938)
Em 1943, grupos de
resistência haviam se organizado pelos campos. Essas organizações ajudaram
alguns poucos prisioneiros a escaparem; estes fugitivos levavam com eles
notícias dos extermínios, como as das centenas de milhares de judeus húngaros
executados entre maio e julho de 1944. Em 7 de outubro de 1944, os Sonderkommandos judeus
do Kommando III de Birkenau começaram uma revolta atacando os SS com armas
improvisadas como pedras, machados, martelos, outras
ferramentas de trabalho e granadas caseiras.
Pegaram os guardas SS de surpresa e explodiram o crematório IV com explosivos roubados
de uma fábrica de armas por mulheres prisioneiras. Neste ponto juntaram-se a
eles os judeus do Kommando I do crematório II, que dominaram os guardas e
fugiram do complexo. Centenas de prisioneiros escaparam mas quase todos foram
recapturados em pouco tempo e executados juntos a um grupo que continuou no
campo mas também tinha participado da revolta. 250 judeus morreram lutando
e a SS teve três mortos e cerca de uma dúzia de feridos. As quatro judias que
tinham roubado os explosivos da fábrica Union-Werk foram enforcadas em público.
Houve também uma
tentativa de levante geral em Auschwitz, a ser coordenado com um ataque aéreo
aliado e um ataque externo por terra feito pela resistência polonesa, a Armia Krajowa. O plano
foi de autoria de Witold Pilecki,
ex-militar polonês, um dos líderes da resistência e prisioneiro voluntário em
Auschwitz, que organizou um movimento subterrâneo chamado União de Organização
Militar (Związek Organizacji Wojskowej – ZOW). Pilecki imaginou um
plano em que aviões aliados pudessem jogar armas e tropas no campo,
especialmente soldados da 1ª Brigada Paraquedista Independente
Polonesa, ao mesmo tempo em que a resistência faria um ataque frontal vindo das
áreas externas. Em 1943, porém, ficou claro que os Aliados não tinham nenhum
plano para isso. Neste meio tempo, a Gestapo trabalhava para descobrir os
integrantes do ZOW e conseguiu identificar e matar muitos deles. Pilecki
decidiu então fugir do campo, na esperança de convencer pessoalmente os líderes
da resistência de que um ataque a Auschwitz seria possível e conseguiu fugir em
na noite de 26–27 de abril de 1943. Seu plano entretanto foi considerado
muito arriscado pela resistência e os Aliados não acreditaram em suas histórias
sobre Auschwitz, que consideraram muito exageradas.
A primeira fuga de
Auschwitz ocorreu logo em seus primórdios, em 6 de julho de 1940, quando o
polonês Tadeusz Wiejowski fugiu com a ajuda de trabalhadores civis poloneses
empregados do campo. Pelo menos 802 prisioneiros – 757 homens e 45
mulheres – tentaram escapar de Auschwitz durante seus anos de
funcionamento, dos quais 144 foram bem sucedidos. O destino de 331 deles é até
hoje desconhecido. Uma punição comum para os que tentavam fugir era a morte por
inanição; as famílias daqueles que conseguiam escapar eram muitas vezes presas
e internadas, exibidas com destaque pelo campo para inibir os outros. Sempre
que alguém conseguia realmente escapar, a SS escolhia aleatoriamente dez
prisioneiros do alojamento de onde havia ocorrido a fuga e os fazia passar fome
até morrer.
A mais espetacular fuga de Auschwitz-Birkenau ocorreu em 20 de junho de
1942, quando três poloneses e um ucraniano fizeram uma fuga ousada. Os quatro escaparam vestidos de guardas SS,
armados e num carro oficial, um Steyr 220, roubado do próprio comandante do
campo, Rudolph Höss. Os fugitivos levaram com eles um relatório sobre as
condições do campo escrito por Witold Pilecki. Nenhum deles jamais foi
capturado.
Em 1943,
prisioneiros organizaram o Kampfgruppe Auschwitz, com o objetivo de
enviar o máximo de informações possível sobre o que estava acontecendo em
Auschwitz para o mundo exterior. Os membros do enfiavam notas bilhetes e fotos
feitas furtivamente dos crematórios e câmaras de gás nas áreas ao redor dos
campos e subcampos, esperando que pessoas os achassem e passassem as notícias
aos Aliados e à resistência.
Em 24 de junho de
1944, Mala Zimetbaum, uma prisioneira judia belga de 26
anos, escapou com seu namorado polonês Edek Galinski. Zimetbaum, que trabalhava
em Auschwitz como tradutora num
dos escritórios do campo principal, levou com ela cópias das listas de
deportação de judeus a que tinha acesso por dispor de maior liberdade de
movimentos que um preso comum. Foi a
primeira mulher e a primeira judia a escapar de Auschwitz. O casal
passou pelos portões com ele vestido num uniforme roubado de soldado da SS e
ela como sua namorada. Em 6 de julho, os dois foram presos perto da fronteira
da Eslováquia e
levados de volta à Auschwitz, onde, depois de uma estadia no bloco 11, foram
sentenciados à morte em 15 de setembro, devendo ser enforcados ao mesmo tempo,
ele no campo masculino e ela no feminino. Galinski foi executado, mas Mala
tentou o suicídio cortando os pulsos no alojamento antes do momento da execução
e esbofeteando a guarda que tentou impedi-la com as mãos em sangue. De acordo com várias versões, ela morreu de
hemorragia no caminho do local da execução ou foi assassinada a tiros na
entrada do crematório.
Uma versão tornada histórica
e reverenciada diz que Mala reagiu após cortar o pulso esbofeteando um guarda e
teve a mão quebrada por ele. Gritando que a libertação estava próxima e que
todos deviam se rebelar porque era melhor morrer lutando do que morrer como
estavam morrendo, foi atacada pelas guardas femininas e teve a boca esmagada. A
supervisora-chefe do campo feminino, SS-Lagerführerin Maria Mandel, "A
Besta de Auschwitz", disse que tinha chegado uma ordem de Berlim para que
Mala fosse cremada viva. Ela foi levada de maca até o crematório e seu fim
diverge de acordo com as testemunhas. Uns asseguram que ela já chegou morta
pela hemorragia e
outros afirmam que um SS apiedado a matou com um tiro antes de seu corpo ser
enfiado no forno pelos Sonderkommandos. De acordo com a sobrevivente Raya Kagan, em depoimento oficial em Israel durante o julgamento por crimes de guerra do
nazista Adolph Eichman em 1961, as últimas palavras de Mala
Zimetbaum a seus carrascos alemães em Auschwitz foram: "Eu morrerei como
uma heroína e vocês como cães!". Mandel, que
deu a ordem para que ela fosse cremada viva, foi executada na forca em janeiro
de 1948 por crimes contra a humanidade.
Os prisioneiros de
Auschwitz conseguiam enviar informações para fora mesmo sem conseguir fugir dos
campos. Um jornal, The
Auschwitzer Echo, era impresso e distribuído secretamente e conseguia ser
enviado para os movimentos de resistência em Cracóvia. Um transmissor de ondas-curtas que
conseguiu ser escondido no Bloco 11, enviava notícias diretamente para o
governo polonês no exílio, em Londres.
Estes comunicados
foram as primeiras revelações sobre o Holocausto e
eram a principal fonte de Inteligência dos Aliados no
campo. Entretanto, eles foram por muito tempo ignorados no exterior como sendo
muito extremistas.
Por outro lado,
entre 1940 e 1943, tanto a Resistência polonesa quanto os Aliados eram
informados da situação em Auschwitz através dos relatórios enviados
secretamente para fora do campo pelo capitão do exército polonês Witold Pilecki e
pelo relato de alguns fugitivos anteriores. Pilecki é a única pessoa conhecida
que se tornou voluntariamente um prisioneiro de Auschwitz, seguindo um plano da
Resistência de enviar alguém que pudesse entrar nos campos, recolher
informações e evidências e escapar novamente. Ele passou 945 dias lá, não
apenas coletando evidências do genocídio que ocorria e enviando-os para os
britânicos em Londres via Armia Krajowa, mas também tentando
organizar uma resistência no local, conhecida como Związek Organizacji
Wojskowej - ZOW. Seu primeiro relatório foi contrabandeado para fora
em novembro de 1940, através de um prisioneiro não-judeu liberado de
Auschwitz. Pilecki conseguiu escapar em 27 de abril de 1943, mas seus
relatos do extermínio em massa feitos depois da fuga, assim como os anteriores,
não foram levados a sério, sendo também considerados exagerados.
Fotografia
aérea de Birkenau feita por um avião norte-americano de observação em 25 de
agosto de 1944.
Em 1944, a atitude
dos Aliados viria a mudar quando eles receberam os relatórios Vrba–Wetzler,
feitos por dois ex-prisioneiros, Rudolph Vrba e Alfred Wetzler, que
conseguiram escapar do campo em 7 de abril de
1944; com desenhos, plantas das instalações e explicações detalhadas, eles
acabaram convencendo os líderes aliados do que estava acontecendo em
Auschwitz–Birkenau. Algumas partes destes relatórios foram publicados em 15 de
junho pela BBC e em
20 de junho pelo New York Times, o que fez
com que os governos aliados, o Papa Pio XII e
a Cruz Vermelha Internacional fizessem
pressão em cima do governo da Hungria – que desde uma troca de governo em
março, após a ocupação do país por tropas do Reich, estava enviando centenas de
milhares de seus judeus a Auschwitz – para que interrompesse o envio de judeus
para o campo. A pressão surtiu efeito sobre o regente Miklós Horthy e o
recém-instalado governo pró-nazista, que suspendeu o envio em 7 de julho,
temendo, entre outras coisas, o bombardeio de Budapeste em
retaliação pela deportação de judeus, após ameaças feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt. Mas deportações continuaram a ocorrer, vindas de
outros países europeus. Começando com um apelo do rabino eslovaco
Chaim Weissmandl em maio de 1944, uma campanha cresceu na Europa cativa para
que os Aliados bombardeassem Auschwitz ou as linhas férreas que levavam até
ele. Num certo momento, Winston Churchill deu
ordens a seu ministro da Guerra Anthony Eden para
que tal plano fosse realizado, mas acabou persuadido a não fazê-lo depois
de ponderações do comando da RAF de que um bombardeio de Auschwitz mataria mais prisioneiros que
alemães e não interromperia os massacres. Em agosto de 1944, contudo, aviões
britânicos e norte-americanos bombardearam as fábricas de combustível líquido
e borracha sintética da IG Farben nos arredores de Auschwitz III –
Monowitz.
A última seleção de
prisioneiros para as câmaras ocorreu em 30 de outubro de 1944. No mês seguinte,
Heinrich Himmler ordenou que os crematórios fossem destruídos antes que o Exército Vermelho chegasse aos campos. A maioria dos
prisioneiros que trabalhavam nas câmaras e no crematório foram executados entre
setembro e novembro para não haver testemunhas. Mais de 400 deles morreram
durante uma insurreição em outubro. As câmaras de gás foram explodidas em
janeiro de 1945. e documentos de toda ordem queimados ao ar livre no
campo. Em 17 de janeiro de 1945, o comando da SS em Berlim deu ordens para que
todos os prisioneiros restantes nos campos fossem executados, mas em meio ao
caos da retirada nazista na época, a ordem não foi levada adiante. No mesmo
dia, o complexo começou a ser evacuado. Em 23 de janeiro, o "Canadá
II", um das seções dos campos onde eram empilhados e catalogados os
pertences dos mortos, foi queimado e destruído.
Prisioneiros
libertados pelos soviéticos em 27 de janeiro de 1945.
Cerca de 60 mil
sobreviventes foram obrigados a participar de uma Marcha da Morte até o
campo de Wodzisław Śląski (Loslau em alemão), entre eles muitas
crianças, de onde foram embarcados em trens de carga para outros campos; 15 mil
morreram durante a marcha, alguns de exaustão outros mortos a tiros por não
conseguirem acompanhar o passo. Aqueles muito doentes ou sem condição de
caminhar foram deixados em Auschwitz. Um grupo de 3200 prisioneiros do subcampo
de Jaworzno fez
uma das mais longas marchas da morte de toda a guerra, percorrendo 250
km. Cerca de 20 mil dos prisioneiros foram levados para o campo de
concentração de Bergen Belsen, onde foram libertados pelos britânicos em abril
de 1945.
Diversos massacres
foram cometidos nestas evacuações, como na estação de trem de Rybnik em 22
de janeiro de 1945, onde um trem transportando 2,5 mil prisioneiros do subcampo
de Gliwice fez
uma parada e os prisioneiros receberam ordem de desembarcar. Os que não tinham
forças para tal foram metralhados pela SS e pela polícia local dentro dos
vagões. Depois que os guardas e os prisioneiros capazes de andar continuaram a
marcha a pé para oeste, 300
corpos jaziam nos trens, na estação e na área em volta.
Pinturas
feitas por prisioneiros
Muitos poloneses e tchecos cristãos moradores das localidades por onde
essas marchas passavam ajudaram secretamente os prisioneiros, dando-lhes água,
comida e até escondendo vários deles em casas ou celeiros até a chegada das tropas aliadas. Após a
guerra, muitas destas pessoas foram homenageadas com a medalha de Justos entre as nações pelo governo
de Israel, por arriscarem
suas vidas para ajudar prisioneiros judeus a sobreviverem nos estágios finais
da guerra.
Os 7500 prisioneiros restantes deixados em Auschwitz foram libertados em
27 de janeiro pela 322ª Divisão de Rifles do 60º Exército de Frente Ucraniana
do Exército Vermelho. Entre os artefatos do genocídio encontrados pelos russos
estavam 348.820 ternos de homem e 836.255 vestidos de mulheres, além de
montanhas de óculos, cabelos humanos e calçados, muitos deles em tamanhos
infantis.
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