Por
Consuelo Pondé de
Sena
Jamais
havia dimensionado o valor excepcional da saúde porque não experimentara a
necessidade de ficar, praticamente, dependente da ajuda alheia. Episódios menos
sérios já haviam interrompido, por pouco tempo, a febril atividade.
Talvez,
essa carga dos últimos novos distúrbios viessem tolher-me os passos e
ensinar-me como é doloroso ver o tempo passar “através da janela”. Sempre fui
de contatos humanos e o isolamento não me faz bem.
Por outro
lado, a mesma condição tenha me afastado da vida da cidade, tal como antes
fazia.
Sem ajuda,
não seria capaz de sobreviver aos momentos difíceis por que tenho passado. È
dessa forma que avalio o inestimável trabalho dos que se dedicam a área de
atendimento, em todos os níveis da saúde. Não há como distinguir a dedicação
aos trabalhos dos que compõem serviços de atendimento, desde os que executam
trabalhos secundários, aos técnicos, enfermeiros e médicos. São todos gentis,
humanos, carinhosos e, extraordinariamente, competentes.
Difícil é
arcar com as responsabilidades impostas pelas mais diversas enfermidades, cada
uma com sua carga negativa, e procurar minorar o padecimento alheio para
investir a favor dos padecentes, tal como fazem os médicos, enfermeiros,
fisioterapeutas, etc. Responsabilidade é a palavra de ordem para esses
profissionais da saúde, que carregam sobre os ombros a tarefa de salvar vidas e
ajudar a cada um dos sofredores. Não que desconheça a gravidade de certas
doenças, principalmente, as neurológicas, que desafiam os médicos, porque são
irrecuperáveis. Com um pai e um marido neurologistas, pude acompanhar um pouco
a grande empreitada que é tentar aliviar sofrimentos duradouros.
O caminho
da velhice é sempre tortuoso e as marcas do tempo deixam sequelas insuperáveis.
Pior que, quando se é jovem, jamais se imagina o peso dos anos vividos. A vida
é um céu de brigadeiro e as nuvens são todas cor de rosa. Tudo parece bom e
lindo, aquecendo de ilusões dos que apenas começam a empreender o caminho da
existência. Por isso, nada mais comovedor do que o rosto risonho de um bebê
feliz, o engatinhar apressado dos pequeninos, enfim, gestos e posturas dos que
iniciam a caminhada terrena.
Por outro
lado, nada mais edificante do que a luta dos que têm limites físicos e procuram
superá-los com estoicismo, enfrentando até a proximidade da morte. São pessoas
escolhidas por Deus para se submeterem a inúmeros sacrifícios sempre trazendo
consigo lições de otimismo e serenidade. São seres especiais que se defrontam
com dificuldades e consegue superá-las estoicamente.
Talvez se
espantem ao lerem essas descosturadas linhas, o tom pouco comum e confessional,
com o que me exponho abertamente, mas só posso escrever de acordo com o que
venho sentindo e experimentando, movida como sempre fui pela emoção. Nada como
a vivência para poder abrir o peito e falar com a espontaneidade, como sempre
fiz.
Todavia, a
vida é um dom precioso e vale lutar por ela, mesmo em situações difíceis. Diria
que, quase, se deve acreditar no insuperável.
Já vi
muitas pessoas, expostas a diversos traumas, suportarem enormes embates,
lutando para vencer a adversidade. Sei que é muito difícil superar esses
problemas, mas é preciso demonstrar espírito forte e força de vontade superior.
Vencer o
perigo é triunfar com glória e a força da vontade é tanto maior quanto maior é
o desejo da vitória. De minha parte, ainda não desisti, creio em Deus e na sua
misericórdia. Por isso, confio no meu restabelecimento total.
Desculpem-me
os que não gostam desse jeito de escrever, tão meu e tão vivaz e comunicativo,
conforme assinalou, um dia, meu Mestre Thales de Azevedo, em artigo publicado
na imprensa.
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