Lenda
persa
Rainha da Pérsia, hoje Irã
Xerazade (do persa شهرزاد), grafado
também
como Sherazade ou Sheherazade, é uma lendária
rainha persa e narradora dos
contos de As Mil e Uma Noites.
Segundo a lenda da
antiga Pérsia, Sherazade, com sua beleza e inteligência, fascinou o rei ao
narrar histórias fantásticas por mil e uma noites, poupou sua vida e ganhou o
eterno amor do Rei Shariar.
Conta a lenda que
na antiga Pérsia o Rei Shariar descobriu
ter sido traído pela esposa, que tinha um servo como amante. Enfurecido o rei
mandou matar os dois. Depois, toma uma terrível decisão: todas as noites,
casar-se-ia com uma nova mulher e, na manhã seguinte, ordenaria a sua execução,
para não mais ser traído. E assim foi por três anos, causando medo e
lamentações em todo o reino.
Um dia, a filha
mais velha do primeiro-ministro, a bela e astuta Sherazade, diz ao pai que tem
um plano para acabar com aquela barbaridade. Porém, para aplicá-lo, precisa
casar-se com o rei. O pai tenta convencer a filha a desistir da ideia, mas
Sherazade estava decidida a acabar de vez com a maldição que aterrorizava a
cidade. E assim aconteceu, Sherazade casou-se com o Rei.
Terminada a
curta cerimônia
nupcial, o rei levou a esposa a
seus aposentos; entretanto, antes de trancar a porta, ouviu uma ruidosa
choradeira. “Oh, Majestade, deve ser minha irmãzinha, Duniazade”, explicou
a noiva. “Ela está chorando porque quer que eu lhe conte uma história, como
faço todas as noites. Já que amanhã estarei morta, peço-lhe, por favor, que a
deixe entrar para que eu a entretenha pela última vez!”
Sem esperar
resposta, Sherazade abriu a porta, levou a irmã para dentro, instalou-a no
tapete e começou: “Era uma vez um mágico muito malvado...”. Furioso,
Shariar se esforçou para impedir a história de prosseguir; resmungou, reclamou,
tossiu, porém as duas irmãs o ignoraram. Vendo que de nada adiantava
pestanejar, ele ficou quieto e se pôs a ouvir o relato da jovem, meio distraído
no início, e muito interessado após alguns instantes. A pequena Duniazade
adormeceu, embalada pela voz suave da rainha. O
soberano permaneceu atento, visualizando na mente as cenas de aventura e
romance descritas pela esposa. Repentinamente, no momento mais empolgante,
Sherazade calou-se. “Continue!”, Shariar ordenou. “Mas o dia está
amanhecendo, Majestade! Já ouço o carrasco afiar a espada!”. “Ele que
espere”, declarou o rei. Shariar deitou-se e dormiu profundamente.
Despertou ao anoitecer e ordenou à esposa que concluísse a história, mas não se
deu por satisfeito: “Conte-me outra!”. Sherazade com sua voz melodiosa
começou a narrar histórias de aventuras de reis, de viagens fantásticas de
heróis e de mistérios. Contava uma história após a outra, deixando o Sultão maravilhado.
Sem que Shariar
percebesse, as horas passaram e o sol nasceu. Sherazade interrompeu uma
história na melhor parte e disse: “Já é de manhã, meu senhor!”. O rei,
muito interessado na história, deixou Sherazade no palácio por uma noite mais.
E assim
Sherazade fez o
mesmo naquela noite, contou-lhe mais histórias e deixou a última sem terminar.
Muito alegre, ora contava um drama, ora contava uma aventura, às vezes um
enigma, em outras uma história real. E assim passaram-se dias, semanas, meses,
anos. E coisas estranhas aconteceram. Sherazade engordou e de repente recuperou
seu corpo esguio. Por duas vezes ela desapareceu durante várias noites e
retornou sem dar explicação, e o rei nunca lhe perguntou nada. Certa manhã ela
terminou uma história ao surgir do sol e falou: “Agora não tenho mais nada
para lhe contar. Você percebeu que estamos casados há exatamente mil e uma
noites?” Um som lhe chamou a atenção e, após uma breve pausa, ela prosseguiu;
“Estão batendo na porta! Deve ser o carrasco. Finalmente você pode me mandar
para a morte!”.
Quem adentrou nos
aposentos reais foi, porém, Duniazade, que com o passar dos anos se
transformara numa linda jovem. Trazia dois gêmeos nos braços, e um bebê a
acompanhava,
engatinhando. “Meu amado esposo, antes de ordenar minha execução, você
precisa conhecer meus filhos”, disse Sherazade. “Aliás, nossos filhos.
Pois desde que nos casamos eu lhe dei três varões, mas você estava tão
encantado com as minhas histórias que nem percebeu nada...” Só então
Shariar constatou que sua amargura desaparecera. Olhando para as crianças,
sentiu o amor lhe inundar o coração como um raio de luz. Contemplando a esposa,
descobriu que jamais poderia matá-la, pois não conseguiria viver sem ela.
Assim, escreveu a seu irmão lhe propondo que se casasse com Duniazade. O
casamento se realizou numa dupla cerimônia, pois Shariar desposou Sherazade
pela segunda vez, e os dois reis reinaram felizes até o fim de seus dias.
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