segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

EUROPA DECADENTE TEME EEQUERDIZAÇÃO DA GRÉCIA DA GRÉ CIA


JC Teixeira Gomes

João Carlos Teixeira Gomes, o pena de aço, nato  baiano,  é jornalista e poeta aclamado Imortal pela Academia de Letras da Bahia

Minha única certeza é minha morte.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos.

Pode vir de mansinho à forasteira
Ou numa orgia de ossos e fanfarras,
Com dois laços de fita na caveira
E o ágil chocalhar das finas garras.

Eu que os mares amei, e o sol tirânico,
Os flavos grauçás de dorso enxuto,
As moças de maiô e o vento atlântico,


Sereno hei de esperá-la em meu reduto.
E assim ao ver-me, sem sinal de pânico,
A própria morte se porá de luto.

A Europa é hoje um continente inseguro e decadente, que se deixa abalar por um fato realmente grave como o atentando ao Charlie Hebdo, mas também pelo resultado de simples eleições em um país em crise, como a Grécia. Para avaliação dos leitores, eis aqui a manchete do jornal de Madri “El Mundo”, do último dia 27: “El efecto Syriza golpea a la vieja Europa”. Li com meus olhos que essa foi a tônica do noticiário internacional, não só no jornalismo impresso como nos canais de televisão.
      O triunfo da esquerda chegou a criar em certas áreas uma sensação de pânico, como se toda a Europa estivesse conformada com a presença dos seus chefes políticos pró-direita, coniventes e submissos em geral com o poderio econômico norte-americano e apavorados com o ímpeto do terrorismo.
    A vitória do líder de esquerda Syriza foi um novo “presente de grego” da política helênica para as  economias europeias, ainda hoje fragilizadas pelas graves crises que os bancos norte-americanos espalharam pelo mundo a partir de 2008. Países frágeis como Portugal e Espanha logo se atrelaram à ajuda internacional que é um verdadeiro garrote, consubstanciada num tripé de órgãos poderosos como o FMI, o Eurogrupo e o conglomerado BCE, que impuseram com mão de ferro a tradicional política de “austeridade”. É fácil de explicar, os brasileiros conhecem bem essa palavra: depois que os governos gastam sem critérios, roubam os cofres públicos e se endividam além da conta, “austeridade” significa punir o povo indefeso e vítima dos desmandos financeiros com compressão salarial, perda de vantagens históricas, rígido controle no pagamento de pensões e benefícios do mesmo gênero, subtrações nos planos de saúde, aumento geral de impostos, taxas e tarifas nos serviços públicos, desemprego generalizado.
    Todas essas práticas se tornaram habituais no capitalismo triunfante depois da globalização, pois já não havia o mecanismo regulador do temor do comunismo. O que os defensores da economia de marcado não conseguem explicar é como as crises continuam tão comuns e periódicas, atingindo brutalmente países que em nada contribuíram para criá-las, mas que se tornam solidários na desgraça.
 Não sou adepto da ideia de que os “grandes homens” são seres iluminados, surgidos para conduzir os destinos do mundo. Essa ficção nasce na cabeça dos criadores de mitos, pois as sociedades evoluem pela força da energia coletiva, do trabalho anônimo e laborioso do povo. As “grandes famílias” da nobreza europeia (continente particularmente belicoso) o que fizeram foi provocar as guerras nas quais mandavam o povo se entredevorar. Promotoras de carnificinas, que assistiam na segurança dos seus palácios. Mas não há dúvida de que hoje o mundo se ressente de falta de lideranças capazes. A história não se repete, mas estou convencido de que os anões que hoje dirigem o planeta nos fazem nostálgicos da presença de homens com a estatura de Roosevelt, Churchill, De Gaulle, Tito, entre poucos outros, na modernidade.
    O grande susto que a Grécia vem dando às economias da Europa dependentes dos favores da chamada “Troika” – palavra russa que evoca realidades sinistras, mas que é usada para designar a vinculação das três entidades que nomeei acima – decorre do fato de que o vitorioso Syriza chefia forças de esquerda, embora em coligações não muito consistentes e até duvidosas. Mas prevalece, no momento, o susto. O povo grego, espoliado, se uniu para dar um recado: chega da austeridade mentirosa. “Não somos dívida!” – escrevem os europeus inconformados nas ruas das principais cidades, respondendo aos economistas. Está claro que não: são seres humanos desrespeitados em seus direitos fundamentais pelo complô dos banqueiros gananciosos, das lideranças fracassadas e da imprensa corrupta que os apoia e sustenta.

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