JC Teixeira Gomes
João Carlos Teixeira
Gomes, o pena de aço, nato baiano, é jornalista e poeta aclamado Imortal pela
Academia de Letras da Bahia
Minha única certeza é minha morte.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos.
Pode vir de mansinho à forasteira
Ou numa orgia de ossos e fanfarras,
Com dois laços de fita na caveira
E o ágil chocalhar das finas garras.
Eu que os mares amei, e o sol tirânico,
Os flavos grauçás de dorso enxuto,
As moças de maiô e o vento atlântico,
Sereno hei de esperá-la em meu reduto.
E assim ao ver-me, sem sinal de pânico,
A própria morte se porá de luto.
Virá festiva, com pendões vermelhos,
Provocadora com seu riso forte.
Mas me verá de pé, não de joelhos.
Pode vir de mansinho à forasteira
Ou numa orgia de ossos e fanfarras,
Com dois laços de fita na caveira
E o ágil chocalhar das finas garras.
Eu que os mares amei, e o sol tirânico,
Os flavos grauçás de dorso enxuto,
As moças de maiô e o vento atlântico,
Sereno hei de esperá-la em meu reduto.
E assim ao ver-me, sem sinal de pânico,
A própria morte se porá de luto.
A Europa é
hoje um continente inseguro e decadente, que se deixa abalar por um fato
realmente grave como o atentando ao Charlie Hebdo, mas também pelo resultado de
simples eleições em um país em crise, como a Grécia. Para avaliação dos
leitores, eis aqui a manchete do jornal de Madri “El Mundo”, do último dia 27:
“El efecto Syriza golpea a la vieja Europa”. Li com meus olhos que essa foi a
tônica do noticiário internacional, não só no jornalismo impresso como nos
canais de televisão.
O triunfo da esquerda chegou a criar em
certas áreas uma sensação de pânico, como se toda a Europa estivesse conformada
com a presença dos seus chefes políticos pró-direita, coniventes e submissos em
geral com o poderio econômico norte-americano e apavorados com o ímpeto do
terrorismo.
A vitória do líder de esquerda Syriza foi
um novo “presente de grego” da política helênica para as economias europeias, ainda hoje fragilizadas
pelas graves crises que os bancos norte-americanos espalharam pelo mundo a
partir de 2008. Países frágeis como Portugal e Espanha logo se atrelaram à
ajuda internacional que é um verdadeiro garrote, consubstanciada num tripé de
órgãos poderosos como o FMI, o Eurogrupo e o conglomerado BCE, que impuseram
com mão de ferro a tradicional política de “austeridade”. É fácil de explicar,
os brasileiros conhecem bem essa palavra: depois que os governos gastam sem
critérios, roubam os cofres públicos e se endividam além da conta,
“austeridade” significa punir o povo indefeso e vítima dos desmandos
financeiros com compressão salarial, perda de vantagens históricas, rígido
controle no pagamento de pensões e benefícios do mesmo gênero, subtrações nos
planos de saúde, aumento geral de impostos, taxas e tarifas nos serviços
públicos, desemprego generalizado.
Todas essas práticas se tornaram habituais no
capitalismo triunfante depois da globalização, pois já não havia o mecanismo
regulador do temor do comunismo. O que os defensores da economia de marcado não
conseguem explicar é como as crises continuam tão comuns e periódicas,
atingindo brutalmente países que em nada contribuíram para criá-las, mas que se
tornam solidários na desgraça.
Não sou adepto da ideia de que os “grandes
homens” são seres iluminados, surgidos para conduzir os destinos do mundo. Essa
ficção nasce na cabeça dos criadores de mitos, pois as sociedades evoluem pela
força da energia coletiva, do trabalho anônimo e laborioso do povo. As “grandes
famílias” da nobreza europeia (continente particularmente belicoso) o que
fizeram foi provocar as guerras nas quais mandavam o povo se entredevorar.
Promotoras de carnificinas, que assistiam na segurança dos seus palácios. Mas
não há dúvida de que hoje o mundo se ressente de falta de lideranças capazes. A
história não se repete, mas estou convencido de que os anões que hoje dirigem o
planeta nos fazem nostálgicos da presença de homens com a estatura de
Roosevelt, Churchill, De Gaulle, Tito, entre poucos outros, na modernidade.
O grande susto que a Grécia vem dando às
economias da Europa dependentes dos favores da chamada “Troika” – palavra russa
que evoca realidades sinistras, mas que é usada para designar a vinculação das
três entidades que nomeei acima – decorre do fato de que o vitorioso Syriza
chefia forças de esquerda, embora em coligações não muito consistentes e até
duvidosas. Mas prevalece, no momento, o susto. O povo grego, espoliado, se uniu
para dar um recado: chega da austeridade mentirosa. “Não somos dívida!” –
escrevem os europeus inconformados nas ruas das principais cidades, respondendo
aos economistas. Está claro que não: são seres humanos desrespeitados em seus
direitos fundamentais pelo complô dos banqueiros gananciosos, das lideranças
fracassadas e da imprensa corrupta que os apoia e sustenta.
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