sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SÍMBOLOS DO NORDESTE

CIDADÂNIA

Por Pedro Nunes Filho
É advogado e sócio do IAGHP. - 

Chapéu de couro nordestino

Cada cultura tem seus símbolos. Somente os identifica quem pertence ao grupo, faz parte da cultura ou, por interesse pessoal, os estuda. Os símbolos são elementos essenciais à comunicação. Sua origem remonta ao homem das cavernas. Muitos dos desenhos pintados ou grafados em pedras, milhões de anos atrás, ainda perduram, mas a maioria deles são incompreensíveis, dada a distância que nos separa daquelas civilizações primitivas. O símbolo é uma forma diferente de apresentar a realidade. Não há necessidade de explicar um símbolo. 

Ele fala por si mesmo. É algo que representa outra coisa. Por isso, às vezes, são imperceptíveis por quem vem de fora, ignora a cultura ou não demonstra interesse algum por ela. Pão, água, flores, acenos corporais, vestimentas são alguns exemplos de milhares de símbolos usados pelo homem nas mais diversas culturas.

O Nordeste é representado por dois símbolos fortes. O chapéu de couro e o gibão. Eles nos remetem à conquista de sertões esquisitos, perigosos e vastos como um reino. Representam a civilização dos vaqueiros, resultante da miscigenação do branco colonizador com o índio, indômito, arredio e livre. Durante essa epopeia heroica de conquista, o homem branco penetrou nos sertões, seguindo a pata do zebu e deu origem ao ciclo do couro descrito por Capistrano de Abreu, assim: “De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água; o mocó ou alforje para levar comida, a mala para guardar roupa, mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas de faca, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, os banguês para curtume ou para apurar sal; para os açudes, o material de aterro era levado em couros puxados por juntas de bois que calcavam a terra com seu peso; em couro pisava-se tabaco para o nariz.”

Gibão nordestino

Visitar o Nordeste ou tomar decisões sobre ele sem compreender a força dessa simbologia é arriscar-se a cometer equívocos, mostrar-se forasteiro, desagradar, mais que isso, agredir. Vestir o gibão é comprometer-se com o Nordeste, é abraçar suas causas, defender seus interesses sempre preteridos, dar grito grosso em defesa de seu povo trabalhador e desassistido pelo poder público federal. Exemplo disso é a obra de transposição das águas paralisadas. O povo nordestino é fiel nas eleições, porém esquecido depois das vitórias. 

Vi com imensa tristeza a Presidente Dilma no Piauí, cercada por aduladores, usar gibão e chapéu de couro sem compreender sua simbologia. A região atravessa um momento de extrema fragilidade econômica e seu povo clama por solidariedade, não em forma de esmolas e migalhas caídas da mesa farta dos comensais. Reivindicamos obras estruturadoras da economia regional. A Presidente usou o gibão sem vestir. Pôs na cabeça o chapéu de couro, sem entender sua importância. Desconhece que eles são representações quase sagrados do Nordeste. Utilizar nossos símbolos de forma leviana e demagógica é profanar a nossa cultura, desdenhar do nosso povo.
Que tire o gibão, o chapéu de couro e se vá, pois não é desse tipo de líder que os nordestinos precisam.


Origem: http://folhape.com.br/

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