Colaboração
de Fernando Alcoforado*
Mundialmente,
há uma visão generalizada de que a água é um recurso inesgotável.
Trata-se,
entretanto, de enorme engano porque os recursos hídricos, embora renováveis,
são limitados. É importante destacar que, dos 70% da água que compõem o planeta
Terra, apenas 2,5% é doce. Destes 2,5%, cerca de 24 milhões km3 (ou 70%) estão
sob a forma de gelo (zonas montanhosas, Antártida e Ártico), 30% estão
armazenados no subsolo (lençóis freáticos, solos gélidos e outros)
representando 97% de toda a água doce disponível para uso humano. De toda a
água doce disponível, apenas 0,4% estão em lagos, rios, ou seja, disponíveis
para as pessoas usarem. 70% da água doce é utilizada na irrigação, 22% na
indústria e apenas 8% no uso doméstico (Ver o artigo A escassez de água
agrava os riscos de guerras no mundo, dizem os especialistas que participam do
Fórum Mundial da Água, em Marselha, na França disponível no website <http://www.vocesabia.net/saude/escassez-de-agua-na-terra-vai-gerar-conflitos/>.
Neste
artigo, é informado que 800 milhões de pessoas não têm acesso à água potável em
todo o mundo, 2,5 bilhões não têm saneamento básico, entre 3 bilhões e 4
bilhões de pessoas, que corresponde à metade da população mundial, não têm
acesso à água de maneira permanente utilizando, todos os dias, uma água de
qualidade duvidosa, 11% da população mundial ainda compartilham água com
animais em leitos de rios e, de acordo com a OMS (Organização Mundial de
Saúde), sete pessoas morrem por minuto no mundo por beber água podre e mais de
1 bilhão de pessoas ainda defecam ao ar livre. A OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) informa que a demanda mundial aumentará
55% até 2050. A previsão é que nesse ano, 2,3 bilhões de pessoas suplementares
– mais de 40% da população mundial – não terá acesso à água se medidas
adequadas não forem tomadas. Dados do IBGE (2004) informam que, no Brasil,
existe mais de 45 milhões de habitantes sem acesso à água potável e mais de 90
milhões sem acesso à rede de esgoto.
A
humanidade utiliza na atualidade 50% da água doce do planeta. Em 40 anos
utilizará 80%. A
distribuição geográfica da água doce é desigual. Atualmente 1/3 da população mundial
vive em regiões onde ela é escassa. O uso da água imprópria para o consumo é
responsável por 60% dos doentes do planeta. Metade dos rios do mundo está contaminada
por esgoto, agrotóxicos e lixo industrial. Relatório da ONU sobre o uso da água confirma
que, sem medidas contra o desperdício e a favor do consumo sustentável, o
acesso à água potável e ao saneamento será ainda mais reduzido (Ver o artigo Bilhões
sofrerão com falta de água e saneamento, diz relatório da ONU no website
<http://sosriosdobrasil.blogspot.com.br/2009/03/bilhoes-sofrerao-com-falta-de-aguae.html>.
Este Relatório da ONU estima que 5 bilhões de pessoas sofrerão com a falta de
saneamento básico em 2030.
A Unicef
informa que a cada 15 segundos, uma criança morre de doenças relacionadas à
falta de água potável, de saneamento e de condições de higiene no mundo. Todos
os anos, 3,5
milhões de pessoas morrem no mundo por problemas relacionados ao fornecimento
inadequado da água, à falta de saneamento e à ausência de políticas de higiene, segundo
representantes de outros 28 organismos das Nações Unidas, que integram a
ONU-Água. No Relatório sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, documento
que a ONU-Água divulga a cada três anos, os pesquisadores destacam que
quase 10%
das doenças registradas ao redor do mundo poderiam ser evitadas se os governos
investissem mais em acesso à água, medidas de higiene e saneamento básico.
As doenças
diarreicas poderiam ser praticamente eliminadas se houvesse esse esforço, principalmente
nos países em desenvolvimento. Esse tipo de doença, geralmente relacionada
à ingestão de água contaminada, mata 1,5 milhão de pessoas anualmente. Vários
fatores influenciam na ocorrência das diarreias, como a disponibilidade de água potável,
intoxicação alimentar, higiene inadequada e limpeza de caixas d'água (Ver o artigo Falta
de água de qualidade mata uma criança a cada 15 segundos no mundo, revela
Unicef disponível no website http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-03-
22/falta-de-agua-de-qualidade-mata-uma-crianca-cada-15-segundos-no-mundo-revelaunicef.
Apesar da
quantidade de água disponível no mundo ser constante, a demanda, entretanto,
é crescente, devido ao aumento da população e da produção agrícola, gerando um
clima de incertezas e a possibilidade de ocorrência de conflitos internos em
vários países e internacionais. A OCDE afirma que os conflitos normalmente
ocorrem dentro de um mesmo país, já que a população tem necessidades diferentes
em relação à utilização da água (para a agricultura ou o consumo, por exemplo)
e isso gera disputas (Ver o artigo A escassez de água agrava os riscos de
guerras no mundo, dizem os especialistas que participam do Fórum Mundial da
Água, em Marselha, na França disponível no website <http://www.vocesabia.net/saude/escassez-de-agua-na-terra-vaigerar-conflitos/>.
Em 2003, a
Unesco publicou um relatório identificando as bacias hidrográficas com maior
potencial de gerar conflitos internacionais. Entre os locais citados pela
Unesco estão a
bacia do Prata, que pode gerar disputas entre Bolívia, Argentina, Uruguai, Paraguai e
Brasil, a construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira pelo Brasil que é contestada
pelo governo boliviano alegando impactos ambientais, a bacia do Rio Nilo envolvendo
nove países da África (Egito, Sudão, Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República
Democrática do Congo, Burundi e Etiópia), as Colinas de Golã que colocam em
confronto Israel e Síria na disputa pelas nascentes do Rio Jordão, os dois
aquíferos
que
abastecem Israel, Jordânia e os territórios palestinos os quais têm diminuído e colocam em
confronto estes três estados e as águas dos rios que cortam a Turquia, Síria,
Iraque, Líbano e Jordânia (Ver o artigo Escassez de água pode levar a
conflitos disponível
no website
<http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/1343/escassez-de-gua-podelevar-
a-conflitos.html>. Estados Unidos e México estão em conflito pela água do
Rio Colorado, China e Índia pelo Rio Brahmaputra, Botswana, Angola e Namíbia
pelo Rio Okavango e Bangladesh e Índia pelo Rio Ganges.
Novo
relatório divulgado pelas Nações Unidas nesta sexta-feira (20/03/2015) afirma
que, se nada for feito, as reservas hídricas do mundo podem encolher 40% até
2030 apontando ainda que 748 milhões de pessoas no planeta não têm acesso a
fontes de água potável. Outra conclusão é que o Brasil está entre os países que
mais registraram estresse ambiental após alterar o curso natural de rios. De
acordo com o documento, 20% dos aquíferos mundiais já são explorados
excessivamente, o que pode gerar graves consequências como a erosão do solo e a
invasão de água salgada nesses reservatórios. Os cientistas preveem ainda que
em 2050, a agricultura e a indústria de alimentos vão precisar aumentar em 400%
sua demanda por água para aumentar a produção.
22 de março
próximo é a data consagrada pela ONU como Dia Mundial da Água. A humanidade
não tem muitos motivos para comemoração diante do quadro lamentável descrito
linhas atrás. A situação descrita tende a se agravar diante da deficiência e irracionalidade
nas políticas relativas à proteção do meio ambiente natural, entre os quais
estão os mananciais e cursos d´água e a gestão do saneamento básico em inúmeros
países do mundo. Além disso, os conflitos internacionais pelo uso da água não
serão devidamente solucionados pela ausência de um organismo internacional com
suficiente autoridade que possibilite sua solução. Os conflitos pela água
tendem a se agravar ainda mais com a desertificação intensificada pelas
mudanças climáticas resultantes do aquecimento global. Além disso, diariamente,
rios, riachos, lençóis e aquíferos são contaminados pelos sistemas de esgoto
mal tratados, pelo uso de agrotóxicos das lavouras, pelo descarte de lixo
tóxico das indústrias. Todos os dias a estiagem atinge regiões onde antes não
acontecia, chegando a durar o dobro de tempo do que em décadas passadas como
está acontecendo no momento no Brasil.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da
Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e
Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil
e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG,
Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora,
Salvador,
2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao
aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São
Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
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