Publicado
em sociedade por Simone Bittencourt Shauy
Debater
assuntos, tendo que lidar com opiniões contrárias virou estopim de revolta e
palco de xingamentos desenfreados. Tempos de tolerância zero, palavrões e
pontapés desgovernados.
Ao final de
cada texto que a gente encontra hoje na internet, existe a coluna aberta para
comentários, algo que poderia ser uma ótima oportunidade para debates e
aprendizado mútuo. Por acaso já notaram que, na maioria esmagadora deles o
padrão é sempre o mesmo? O comentário que encabeça a lista é referente ao
texto, geralmente muito pertinente. O comentário seguinte refere-se ao
comentário anterior, já num tom não muito amigável, meio que dizendo que o
comentário anterior não tem nada a ver. Do terceiro em diante, parece que a
terceira guerra mundial acabou de ser declarada. É um festival de incapacidades
de lidar com opiniões contrárias sem ter que apelar para insultos de todos os
tipos, tamanhos, cores e temperos. Entra no meio religião, origem, cor, orientação
sexual, status social, peso, filiação partidária, sentimentos nada afáveis
sobre a sogra, o cunhado... é uma coletânia de coisas sem pé nem cabeça que
culmina numa sensação de que as pessoas não só estão com os nervos à flor da
pele, mas também calibradas em tolerância zero. E é esta intolerância que é
assustadora! Num instante uma discussão que poderia ser saudável e animada,
vira campo de batalha, fogo cruzado, ódio disseminado! É como nas ruas da
cidade, se duas pessoas estão vestindo camisas de clubes de futebol rivais,
existe uma grande chance de atos violentos explodirem do nada.
Hoje em
dia, ao que parece, grande parte das pessoas considera que a própria opinião
tem que ser soberana em todas as situações e rodas de discussão, sem exceção.
Se alguém discordar do gosto ou da linha de pensamento, pronto! Seja quem for
que discordar: se mãe, irmã, namorado, melhor amiga da vida (BFF), já está na
lista negra. Pode se preparar para ouvir "pérolas" e mais
"pérolas", palavras de baixo calão e, em seguida, indiferença
implacável por dias, senão para sempre. Quão alarmante este tipo de
comportamento se tornou! Como ele transparece egoísmo, imaturidade, falta de
empatia, ignorância e nenhum senso de civilidade!
Todo mundo
quer falar, se colocar, mas ouvir o outro nem pensar! Se for para ouvir, já é
ouvir pensando em rebater toda e qualquer opinião. O importante é ter razão
sempre e destronar a do outro à qualquer custo, mesmo que seja ofendendo ou
dilacerando os laços de uma relação.
A verdade é
que, ao invés de gritar, praguejar, dar socos e pontapés, a melhor estratégia é
melhorar os argumentos e aprender a reconhecer que opiniões contrárias são
apenas outros pontos-de-vista sobre o mesmo tema. Somos todos diferentes,
vivemos em diferentes contextos, estamos expostos às experiências diversas, que
nos afetam em diferentes formas.
Seria tudo
tão mais fácil se usássemos mais o humor e menos o calor para reconhecer que
nem sempre somos os donos da razão. Que outras pessoas também têm algo
importante à dizer que pode servir, aliás e muito bem, como precioso
aprendizado para nós.
Ao invés de
tentar desqualificar e desmoralizar o outro metralhando-o sem piedade com todas
as ofensas possíveis e imaginárias, que tal treinar os olhos e a mente
especialmente para observar as coisas num ângulo de 360 graus, de forma
multidimencional, ao invés de só dentro de uma caixa ou só se valendo de um
tipo de visão limitada chamada "tunnel vision"?
Vamos
aproveitar a oportunidade de fazer parte destas discussões de um modo saudável,
enriquecedor, eclético, divertido, inteligente, democrático, flexível, cordato.
Paremos com os insultos em liquidação! Vamos sim celebrar a oportunidade que
nos é dada de poder ver o mundo com óculos emprestados por outras pessoas. Nós
não sabemos tudo e não somos perfeitos! O maior aprendizado de todos geralmente
acontece nas trocas, na comunicação, na humildade de se colocar no lugar do
outro e parar para pensar que além da nossa opinião, outras podem sim fazer
todo o sentido e caminhar em paralelo. O mundo não vai acabar ou seremos menos
respeitados ou queridos se abrirmos espaço para acomodar outras opiniões. Pode
acabar sim se persistirmos nestas guerras intermináveis de "barracos
cibernéticos" especialmente. Impor implacavelmente nossos pontos-de-vista
pode até fazer bem para nosso ego momentaneamente, mas para nossas relações
pode deflagrar um desastre de consequências emocionais muito dolorosas em longo
prazo, por vezes irremediáveis!
Discordar é
um direito, xingar é um defeito! Melhoremos nossos argumentos e destronemos
nossos preconceitos. Vamos somar jamais subtrair. Vamos nos completar, não nos
dividir. Xingar só nos desqualifica, nos prova mentes estreitas e corações
rancorosos. Ouvir o que o outro tem a dizer e respeitar sua opinião, mesmo que
diferente da nossa, representa evolução, verdadeira revolução no diálogo e na
arte da comunicação!
: © obvious: http://obviousmag.org/mulher_cultura_plural/2015/03/discordou-de-mim.html#ixzz3Vh1WY2hS
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