História
Enigma
histórico ou cristão?
O Sudário de Turim, ou o Santo
Sudário é uma peça de linho que mostra a imagem de um homem
que aparentemente sofreu traumatismos físicos de maneira consistente com
a crucificação. O Sudário está guardado na Catedral de Turim, na
Itália, desde o século XIV. Pertenceu desde 1357 à casa
de Saboia que em 1983 o doou ao Vaticano. A peça é
raramente exibida em público, a última exposição foi no ano 2010 quando
atraiu mais de 50 mil fiéis.
O Sudário é um dos acheiropoieta (grego
bizantino: "não feito pelas mãos") e vários cristãos acreditam
que seja o tecido que cobriu o corpo de Jesus Cristo após sua morte. A
imagem no manto é em realidade muito mais nítida na impressão branca e negra do
negativo fotográfico que em sua coloração natural. A imagem do negativo
fotográfico do manto foi vista pela primeira vez na noite de 28 de
maio de 1898 através da chapa inversa feita pelo fotógrafo
amador Secondo Pia que recebeu a permissão para fotografá-lo durante a sua
exibição na Catedral de Turim.
A origem da peça conhecida como Santo Sudário tem
sido objeto de grande polémica. Para descrever seu estudo geral, os
pesquisadores cunharam o termo "sindonologia", do grego σινδών—sindon,
a palavra usada no evangelho de Marcos para descrever o tipo de
tecido comprado por José de Arimateia para usar como mortalha de
Jesus.
A imagem
completa
O sudário é uma peça retangular de linho com cerca
de 4,5 metros de comprimento e 1,1 de largura. O tecido apresenta a imagem
de um homem de 1,83m de altura10 que parece ter sido
crucificado, com feridas consistentes com as que Jesus sofreu antes de sua
crucificação no relato bíblico.
A 28 de maio de 1898, o fotógrafo
italiano Secondo Pia tirou a primeira fotografia ao sudário e
constatou que o negativo da fotografia assemelhava-se a uma imagem positiva do
homem, o que significava que a imagem do sudário era, em si, um negativo.
Uma das
primeiras representações do sudário de Edessa, do século IX
As primeiras referências a um possível sudário
surgem na própria Bíblia. O Evangelho de Mateus (Mateus 27:59) relata
que José de Arimateia envolveu o corpo de Jesus
Cristo com "um pano de linho limpo". João (João
19:38-40) também descreve o evento, e relata que os apóstolos Pedro e João,
ao visitar o túmulo de Jesus após a ressurreição, encontraram os
lençóis dobrados (João 20:6-7). Embora depois desta descrição evangélica o
sudário só tenha feito sua aparição definitiva no século XIV, para não
mais ser perdido de vista, existem alguns relatos anteriores que contêm
indicações consistentes sobre a existência de um tal tecido em tempos mais
antigos.
A primeira menção não-evangélica a ele data
de 544, quando um pedaço de tecido mostrando uma face que se acreditou ser
a de Jesus foi encontrado escondido sob uma ponte em Edessa. Suas
primeiras descrições mencionam um pedaço de pano quadrado, mostrando apenas a
face, mas João Damasceno, em sua obra anti-iconoclasta "Sobre
as Imagens Sagradas", falando sobre a mesma relíquia, a descreve como
uma faixa comprida de tecido, embora afirmasse que se tratava de uma imagem
transferida para o pano quando Jesus ainda estava vivo, isto é, não seria uma
mortalha, mas sim um tecido que esteve em contato com Cristo ainda vivo
(veja Imagem de Edessa).
Em 944, quando esta peça foi transferida
para Constantinopla, Gregorius Referendarius, arquidiácono da Basílica
de Santa Sofia pregou um sermão sobre o artefato, que foi dado como
perdido até ser redescoberto em 1004 num manuscrito dos arquivos
do Vaticano. .Neste sermão é feita uma descrição do sudário de Edessa
como contendo não só a face, mas uma imagem de corpo inteiro, e cita a presença
de manchas de sangue. Outra fonte é o Codex Vossianus Latinus,
também no Vaticano, que se refere ao sudário de Edessa como sendo uma impressão
de corpo inteiro.
Outra evidência é uma gravura incluída no
chamado Manuscrito Húngaro de Preces, datado de 1192,
onde a figura mostra o corpo de Jesus sendo preparado para o sepultamento, numa
posição consistente com a imagem impressa no sudário de Turim.
A gravura
no "Manuscrito Húngaro de Preces"
Em 1203, o cruzado Roberto de
Clari afirmou ter visto o sudário em Constantinopla nos
seguintes termos: "Lá estava o sudário em que nosso Senhor foi
envolto, e que a cada quinta-feira é exposto de modo que todos possam ver a
imagem de nosso Senhor nele". Seguindo-se ao saque de
Constantinopla, em 1204, Teodoro Ângelo, sobrinho de um dos três
imperadores bizantinos, escreveu uma carta de protesto ao papa Inocêncio
III, onde menciona o roubo de riquezas e relíquias sagradas da
capital pelos cruzados, e dizendo que as joias ficaram com os venezianos e
relíquias haviam sido divididas entre os "francos", citando
explicitamente o sudário, que segundo ele havia sido levado para Atenas nesta
época.
Dali, a partir de testemunhos de época de Godofredo
de Villehardouin e do mesmo Roberto de Clari, o sudário teria sido tomado
por Otão de la Roche, que se tornou Duque de Atenas. Segundo a
pesquisadora italiana Barbara Frale, os templários teriam mantido o
sudário por um século em sua posse e o levado à França. Ainda há
controvérsia se o sudário de Edessa (chamado Mandylion)
seria o mesmo de Turim, em vista de referências que indicariam sua presença em
Constantinopla até 1362, cinco anos após sua aparição no Ocidente.
O Sudário reapareceu na França por volta de 1349 em
poder de Godofredo de Charney, senhor de Lirey, próximo de Troyes.
Henrique de Poitiers, arcebispo de Troyes, apoiado
mais tarde pelo rei Carlos VI de França, declarou o sudário como uma
impostura e proibiu a sua veneração. A peça conseguiu, no entanto, recolher um
número considerável de admiradores que lutaram para mantê-la em exibição nas
igrejas.
Em 1389, o bispo Pierre
d’Arcis (sucessor de Henrique) denunciou a suposta relíquia como uma
fraude fabricada por um pintor talentoso, numa carta a Clemente VII (antipapa em Avinhão).
D’Arcis menciona que até então tem sido bem sucedido em esconder o pano e
revela que a verdade lhe fora confessada pelo próprio artista, que não é
identificado. A carta descreve ainda o sudário com grande precisão.
Aparentemente, os conselhos do bispo de Troyes não
foram ouvidos visto que Clemente VII declarou a relíquia sagrada e
ofereceu indulgências a quem peregrinasse para ver o sudário.
Em 1415, devido às pilhagens da Guerra
dos Cem Anos, Margarita de Charny, neta de Godofredo e casada com Humberto
de Villersexel, conde de La Roche, retirou o sudário da Colegiata de Lirey e o
colocou no castelo de seu marido, no povoado de Saint Hippolyte-sur-le Doubs.
Pintura
de Giulio Clovio mostrando o sudário e a forma como Jesus foi
envolvido
Quando Margarita enviuvou de Humberto, passou a
expor o sudário no castelo, em troca de donativos, devido à sua precária
situação financeira. Possivelmente devido a esta situação, em 22 de março de 1453 o
sudário foi transferido a Luís, duque de Saboia, mediante contrato
assinado em Genebra. Pelo mesmo contrato, o duque de Saboia cede a Margarita o
castelo de Varambon e as rendas do senhorio de Mirabel, próximo a Lyon. O
contrato declara que a cessão do castelo é "pelos numerosos e importantes
serviços que a condessa de la Roche prestou ao duque de Saboia" .
Assim o sudário passou a ser propriedade da Casa de Saboia, sob queixas
dos cônegos de Lirey que se consideram donos do lençol.
Em 1502, o sudário foi depositado na Capela
Santa do castelo dos duques em Chambéry.
Na noite de 3 para 4 de dezembro de 1532,
o sudário foi danificado por um incêndio que afetou a sua capela e pela água
das tentativas de o controlar. O sudário estava guardado numa urna de prata —
presenteada por Margarida da Áustria em 1509 — e o fogo provocou o
derretimento parcial da prata. Os pingos de prata derretida deixaram
perfurações simétricas no sudário, uma vez que o lençol estava dobrado quarenta
e oito vezes. Também as bordas dessas dobras, em contato com o metal
incandescente, ficaram chamuscadas. A água impregnou o sudário, produzindo
manchas em forma de losangos devido às dobraduras, as quais aparecem
simetricamente em toda a peça quando é estendida.
Em 1562, a capital do Ducado de
Saboia foi transferida de Chambéry para Turim e,
em 1578 a peça foi levada para a catedral de Turim, onde está até
hoje na Cappella della Sacra Sindone do Palazzo Reale di
Torino.
A casa de Saboia foi a proprietária do
sudário até 18 de março de 1983, quando o ex-rei da
Itália, Humberto II, ao morrer o legou à Santa Sé. Em2002, o sudário
foi submetido a obras de restauro.
No inverno de 2002, o sudário foi submetido a
uma grande restauração que chocou a comunidade de pesquisadores e foi condenada
por muitos.26Autorizada pelo arcebispo de Turim como uma
medida benéfica de conservação, a operação foi baseada na reclamação que o
material em torno dos furos de queimadura (dos incêndios pelo qual o sudário
passou em pelo menos duas ocasiões) estavam causando contínua oxidação que
iriam com o tempo ameaçar a imagem. A operação foi rotulada como cirurgia
desnecessária que destruiu dados científicos, removeu os reparos de 1534que
eram parte da herança do sudário, e destruiu oportunidades de pesquisa
sofisticada.
Em 2003, a principal restauradora, Mechthild
Flury-Lemberg, especialista suíça em tecidos, descreveu a operação e as razões
pelas quais ela a considerou necessária.
Em 2005, William Meacham, arqueólogo que
estuda o sudário desde 1981, criticou ferozmente a restauração, rejeitou as
razões apresentadas por Flury-Lemberg e classificou a operação como "um
desastre para o estudo científico da relíquia".
As primeiras análises de laboratório ao sudário
foram realizadas em 1973 por uma equipe internacional de
cientistas. Os resultados demonstraram, segundo Walter McCrone, que a
imagem do sudário é composta por inúmeras gotículas de tinta fabricada a partir
de ocre.
Em 1978, a equipe americana do STURP (Shroud
of Turin Research Project) teve acesso ao sudário durante 120 horas. A
equipe era composta por 40 cientistas, dos quais apenas um não era religioso,
Walter C. McCrone, que se retirou logo no início das investigações. Foram
realizados muitos experimentos que envolveram diversas áreas da ciência, como
fotografias com diferentes tipos de filme, radiografia de raios X, raio X
com fluorescência, espectroscopia, infravermelho e retirada de
amostras com fita, mas não foi autorizado a fazer o teste por datação carbono-14.
Em 1988 o sudário foi datado por
radiocarbono por três diferentes laboratórios em Zurique, Oxford e
na Universidade do Arizona. Os resultados estavam em concordância de
que o tecido é da época entre 1260 e 1390.
A datação radiométrica por carbono-14 é efetiva até
datas de 30 mil a 40 mil anos BP (Before Present = Antes do Presente). Após
esse período, a radiação emitida pelo carbono-14 terá sido reduzida a
praticamente zero. Por outro lado, em um objeto com muito recente, por exemplo,
com cem anos de idade, a quantidade de radiação emitida não terá diminuído o
suficiente para que seja detectada alguma diferença. Existem, no entanto,
várias fontes de erro que podem induzir resultados duvidosos. Muito da polémica
sobre a autenticidade do sudário foca as possíveis fontes de erros da datação.
O ensaio do carbono reativo feito em 1988 por
três equipes de cientistas independentes indicou como resultados que o manto
foi feito entre 1260 e 1390, portanto durante a Idade
Média, aproximadamente treze séculos posterior a Cristo. Alegações de
incertezas e erros nos exames surgiram imediatamente após a publicação dos
resultados e foram em grande parte respondidas por Harry E. Gove.
A controvérsia continuou, porque o microbiólogo Dr.
Garza Valdez descobriu bactérias no Sudário que deturpa a datação pelo carbono.
Posteriormente, em documentário do Discovery Channel o Dr. Harry Gove que foi o
descobridor da tecnologia de datação de carbono - 14 reconheceu que o trabalho
no Sudário foi feito sem conhecimento das descobertas de Valdez. Ainda afirmou
que mesmo tentando limpar as bactérias, com a tecnologia atual, não é possível
separar as bactérias do tecido e, portanto, por enquanto a datação por carbono
no Sudário não é válida. Harry Gove afirmou que quando houver essa tecnologia
fará a petição à Santa Sé para tentar datar o Sudário novamente.
A afirmação de que a amostra analisada pelas
equipes de cientistas teria sido retirada de uma zona do manto que não fazia
parte do tecido original, foi desmentida por Joe Nickell. O Sudário foi
também danificado devido a um incêndio no final da Idade Média, o que
poderia ter acrescentado carbono reativo à composição do tecido invalidando a
aplicação da análise por carbono reativo. Este laudo por sua vez foi
questionado por céticos como Joe Nickell, que acredita que as conclusões do seu
autor, Raymond Rogers, resultam de uma "busca de evidências que
possam garantir uma conclusão previamente desejada". Philip Ball,
editor da revista "Nature", contestou esta afirmação dizendo que a
idéia de que os estudos de Rogers tenham sido direcionados para a obtenção de
uma conclusão pré-estabelecida é injusta e Rogers "apresenta uma história
de trabalho respeitável". Todavia, a pesquisa de 2008 na
unidade de aceleração de carbono reativo da Universidade de
Oxford propõe uma revisão da data a que se atribui à criação do manto
de 1390 para 1260, o que levou seu diretor Gordan Ramsey a
convocar a comunidade científica a novas comprovações sobre autenticidade do
Sudário. "Com as medidas do ensaio de carbono reativo e com todas as outras
evidências que se possui a respeito do Sudário, ainda existem conflitos de
interpretação de diferentes fontes" disse Gordan ao noticiário da BBC
em 2008, após a publicação dos novos resultados. Apesar
de manter uma mente aberta quanto ao tema, Ramsey enfatizou que ficaria
surpreso se sobre os ensaios de 1988 fosse comprovado um erro de dez
séculos.
A datação do sudário foi contestada pelo argumento
de contaminação bacteriana. Em resposta, os cientistas que realizaram as
análises de carbono-14 afirmam que o tecido foi limpo antes do teste
Cabon o 14, o que exclui a possibilidade dessa contaminação38 .
O intervalo de resultados (1290-1390) é explicado pela influência do incêndio
de Chambéry de 1532 e subsequentes tentativas (desastradas)
de restauro. Sendo assim, e devido aos acidentes, a datação com carbono-14 não
seria exata. 42 Porém segundo o Dr. Walter McCrone, um
peso de carbono do século XX igual a duas vezes o peso total do sudário seria
necessário para fazer um objeto do século I ser datado como do século XIV,
e, portanto haveria suficiente certeza que o sudário seria uma criação
medieval.
No entanto, Joseph G. Marino e M. Sue Benford
propuseram que a área de tecido usada como amostra pode não pertencer ao tecido
original (nenhuma das amostras continha uma área "manchada"), uma vez
que quase 60% do tecido do Sudário é resultado de progressivas reparações
feitas ao longo dos séculos. O académico Raymond Rogers argumentou, num
artigo publicado em 2005, que a análise química por ele realizada
confirmava esta hipótese, uma vez que as amostras usadas na datação-por-carbono
mostram traços evidentes de corantes, provavelmente usados pelos tecelões
medievais para conseguir a cor do tecido original ao realizarem reparações e
reforçarem o sudário para maior proteção. outros autores apresentaram ainda
evidências adicionais neste sentido.
Em dezembro de 2011 a agência italiana para as
novas tecnologias e desenvolvimento sustentável (ENEA) executou estudos sobre o
manto. Por cinco anos essa agência de pesquisa centralizou seus esforços sobre
a formação da imagem que se vê no sudário, tentando a sua reprodução. A
conclusão foi que: “A imagem dupla (frente e verso) de um homem
flagelado e crucificado, pouco visível no tecido de linho do Sudário de Turim,
tem muitas características físicas e químicas e é impossível de ser reproduzida
em laboratório”. Os cientistas tiveram extrema cautela ao publicar
suas conclusões, limitando-se a “propor considerações que não extravasam o campo
científico”.
A datação correta do sudário ainda gera discussões
no mundo científico, uma pesquisa publicada na revista especializada
"Termochimica Acta", sugere que o manto possa ter entre 1300 e 3000
anos o que torna possível ele ter sido usado por Cristo. A pesquisa afirma que
a datação anterior feita em 1988 utilizou uma parte do manto que havia sido
restaurada por freiras, durante a idade média, para recompor partes danificadas
do manto durante um incêndio. Segundo a pesquisa, na amostra utilizada em 1988
foi encontrada vanilina, composto produzido pela decomposição da lignina. Este
composto desaparece com o tempo não podendo ser encontrado em pedaços de linho
muito antigos. Como este composto não foi encontrado no restante do sudário a
pesquisa concluiu que o sudário é muito mais antigo do que foi deduzido
anteriormente.
Foram também efetuados testes químicos ao sudário
por especialistas das Universidades de Milão e da Califórnia. Os
métodos utilizados foram a análise espectral e fotografia ultravioleta. Os
resultados mostram que a porção amostrada para datação radiométrica é distinta
do resto do tecido, nomeadamente pela presença de pigmentos e fixantes. Este
resultado sugere que esta porção do tecido seja na realidade um remendo
posterior. Outra diferença consiste na presença de vanilina, um produto da
decomposição térmica da linhina (um composto das fibras naturais). A vanilina é
um composto habitual na análise a tecidos da Idade Média, mas que se
encontra ausente em amostras mais antigas, uma vez que sofre decaimento.
Segundo Raymond Rogers: "O fato de que a vanilina não pode ser detectada
na lignina das fibras do manto, pergaminhos do mar Morto e outros
pedaços de linho muito antigos indica que o manto é muito velho".
A imagem no tecido tem muitas características
peculiares e profundamente estudadas.53 Por exemplo, ela é
inteiramente superficial, não penetrando nas fibras do tecido sob a superfície,
de forma que as fibras do algodão não estão coloridas; a imagem é composta de
fibras descoloridas dispostas lado a lado com fibras não descoloridas de forma que
estrias aparecem. Segundo Walter McCrone, toda a imagem é composta de pigmentos
(óxido de ferro e sulfeto de mercúrio).54 Porém investigação
química relatada no Canadian Society of Forensi Jornalafirma que
pequenas quantidades de óxido de ferro estão igualmente distribuídas na área da
imagem e na área sem imagem e que as manchas de sangue são realmente de sangue.
Uma hipótese para a formação natural da imagem é a reação de
Maillard na qual os gases libertados por um corpo em decomposição reagem
com a fina camada (180-600nanometros) de carbo-hidratos a celulose das
fibras do tecido. Esta reação e a alteração química correspondente poderia
explicar a variação de cor que define a imagem do sudário. Outra conclusão
relevante é a de que a reação de Maillard afeta apenas a camada de
carbo-hidratos, o que pode ser uma resposta para a superficialidade da imagem.
Nas primeiras fases de decomposição, um cadáver exala os gases que desenvolvem
a reação de Maillard com os carbo-hidratos do tecido. No entanto, à medida que
a decomposição prossegue, o corpo tende a libertar outro tipo de produtos
líquidos que mancham o tecido, eliminando a possível coloração devida à reação
de Maillard. Se a imagem do sudário é de fato a impressão post-mortem de
Jesus Cristo, então o corpo teria que ter sido retirado da sua mortalha antes
do começo da decomposição. Segundo a Bíblia, foi mesmo isto que aconteceu
durante a ressurreição.
O sudário em duas dimensões apresenta uma imagem
tridimensional projetada sobre uma superfície plana (bidimensional), como uma
fotografia ou pintura, numa projeção ortogonal. .
Se um sudário funerário repousasse de forma
aproximadamente cilíndrica sobre a superfície tridemensional da face, o
resultado seria uma distorção lateral não-natural, um forte alargamento para os
lados, como numa projeção de Mercator, em vez da fortemente alongada
imagem vertical vista no sudário. Mario Latendresse questiona esta argumento. Segundo
ele, distorções podem ser pequenas se o sudário não estivesse firmemente
apertado contra o corpo. Não é explicado, porém, como os detalhes da superfície
podem aparecer no sudário de ele não estivesse firmemente contra o corpo. Mas
ele mostra que não devia estar firmemente contra o corpo uma vez que pequenas
distorções ocorreram. Portanto, o mecanismo de formação de imagens deve assumir
que o tecido não estava firmemente apertado. Ainda, o tecido não permaneceria
completamente plano. Um tecido natural repousando sobre um corpo não criaria
maiores distorções.
O engenheiro electrónico Hernán Toro também
questiona se uma imagem por contato com o tecido mostraria uma um retrato de
aparência fotográfica e não uma imagem distorcida, como uma projeção de uma
superfície irregular em uma superfície plana. Ou seja, deveria haver uma
distorção na imagem, o que não ocorre.
Os defensores do sudário como relíquia têm voltado a atenção aos métodos
naturais que possam ter produzido a imagem, a partir do corpo crucificado
de Jesus Cristo. Os crentes mais ortodoxos argumentam que tenha surgido
por milagre e como tal, não carece de mais explicação. No entanto, no
seio da comunidade católica, há quem procure investigar o problema de forma
científica.
A presença de sangue no sudário é questão polêmica
ainda. Pelo que se sabe das práticas funerárias do século I, os judeus limpavam
e perfumavam os seus mortos antes de os sepultarem. Sendo Jesus Cristo uma
figura amada pelos seus, seria pouco provável que o tenham amortalhado sem os
devidos procedimentos de limpeza que eliminariam a presença de sangue no corpo,
como se supõe pelo evangelho de João (19:40) (neste ponto é
importante lembrar que os cadáveres não sangram, visto que já não há batimento
cardíaco, pelo que as manchas de sangue não podem ser posteriores à limpeza).
Uma resposta a essa questão, entretanto, poderia ser encontrada nos evangelhos
de Lucas (23:50-56 e 24:1) e Marcos (15:41-47 e 16:1): o
corpo teria sido sepultado às pressas, devido ao descanso sabático no dia da
preparação da Páscoa, o qual começaria na noite posterior à morte de Jesus. Por
este fato, as mulheres teriam deixado para perfumar e embalsamar o corpo no
amanhecer do primeiro dia da semana, após o sábado - no que teriam encontrado o
túmulo vazio, devido a ressurreição. As narrativas de Marcos e Lucas, portanto,
justificariam o fato de o corpo do sudário estar sujo de sangue, enquanto que a
de João deixaria dúvidas.
A Igreja Católica não emitiu opinião
acerca da autenticidade desta alegada relíquia. A posição oficial a esta
questão é a de que a resposta deve ser uma decisão pessoal do fiel. O Papa
João Paulo II confessou-se pessoalmente comovido e emocionado com a imagem
do sudário, mas afirmou que uma vez que não se trata de uma questão de fé, a
Igreja não se pode pronunciar, ao mesmo tempo que convidou as comunidades
científicas a continuar a investigação. A Catholic Encyclopedia,
editada pela Igreja Católica, no seu artigo sobre o Sudário de Turim
afirma que o sudário está além da capacidade de falsificação de qualquer
falsário medieval.
Em campos opostos encontram-se os crentes que explicam
o tecido como a mortalha de Jesus Cristo e os céticos que o
consideram uma falsificação do século XIV. Ambos os campos utilizaram
diversos tipos de argumentação científica para provar as suas teorias. Segue-se
um resumo dos argumentos a favor e contra.
Cientistas, pessoas crentes, historiadores e
escritores divergem com respeito ao local, à data e à maneira como esta imagem
foi criada. De um ponto de vista religioso, em 1958 o Papa Pio
XII aprovou a associação da imagem e a celebração anual em sua homenagem
na "terça-feira do Sudário" com a devoção à face sagrada de Jesus
dentro da fé Católica Apostólica Romana. Alguns acreditam que a imagem
gravada nas fibras do Sudário se produziu no momento do sepultamento do corpo
de Jesus Cristo ou pouco antes do que se acredita como a sua ressurreição.
Céticos, entretanto alegam que o sudário consiste em uma falsificação medieval.
A acusação de falsificação é tão antiga como o próprio sudário e foi lançada
até pelos arcebispos de Troyes contemporâneos da sua descoberta. Um
deles, Pierre d’Arcis, escreveu mesmo ao papa detalhando os pormenores da
impostura que considerava ser uma forma ardilosa de roubar dinheiro de peregrinos piedosos.
Outros atribuem a formação da imagem às reações químicas e outros processos
naturais"
A equipe americana do STURP (Shoud of Turin
Research Project), após três anos e cerca de 100.000 horas de pesquisa,
apontou as seguintes conclusões:
1.
Havia sangue humano no sudário;
2.
As gotículas de tinta ocre seriam resultado de
contaminação;
3.
A habilidade e equipamentos necessários para gerar
uma falsificação daquela natureza seriam incompatíveis com o período da Idade
Média, época em que o sudário apareceu e foi guardado;
4.
Como cientistas, também não podiam afirmar que a
mortalha era verdadeira;
5.
As marcas do Sudário são um duplo negativo
fotográfico do corpo inteiro de um homem. Existe a imagem de frente e de dorso;
6.
A figura do Sudário, ao contrário de outras figuras
bidimensionais testadas até então, contém dados tridimensionais;
7.
Não existe ainda explicação científica de como as
imagens do Sudário foram feitas;
8.
O Sudário apresenta marcas compatíveis com a
descrição da crucificação nos Evangelhos.
Na época, o STURP não foi autorizado a fazer o
teste por datação carbono-14, o que impossibilitou a determinação da idade
da peça. Dez anos depois, em 1988, o Vaticano autorizou os primeiros
testes de datação radiométrica do sudário, segundo o método do carbono-14.
A três análise independentes revelaram idades entre 1260-1390.
O foco principal dos ataques científicos dos
defensores do sudário tem sido a datação radiométrica que aponta para o século
XIV e possíveis fontes de erro. Um acontecimento da história do sudário (o
incêndio de 1532) pode ter introduzido poeiras e outros
materiais contemporâneos nas fibras, que não teriam sido removidos pelas
equipas de datação.
Considerando esta hipótese, os resultados dos testes de carbono-14
seriam uma mistura entre a idade real (segundo os defensores), por volta
do século I, e as poeiras do século XVI. Outra fonte de erro possível
é a presença de resíduos bacterianos que, sendo eles próprios compostos
carbónicos, influenciam a quantidade do isótopo carbono-14 e por
consequência, a datação. O campo dos céticos defensores da qualidade da datação
oferece, no entanto uma resposta à ideia de contaminação bacteriana.
Outros argumentos para a autenticidade do sudário:
1.
A análise microscópica das fibras mostra que a imagem
está contida apenas na camada de carbo-hidratos. Os defensores da autenticidade
argumentam que não existe técnica de pintura, disponível nos séculos XIII e XIV,
que permita uma precisão de aplicação de tintas à escala no nanômetro.[carece de
fontes]
2.
Uma análise do espectro de frequências da figura
digitalizada do Sudário não mostra a existência de picos que demonstrariam a
ação de um pintor.[carece de fontes]
3.
De acordo com Mechthild Flury-Lemberg, especialista
suíça em restauro de tecidos, a trama do sudário é similar à encontrada em
tecidos datados de 40 a.C. a 73 d.C. recuperados na
fortaleza de Masada, que caiu durante a segunda revolta dos
judeus contra o Império Romano no século I.
4.
Os ferimentos nos pulsos, atribuídos à
crucificação, são consistentes com o que se sabe sobre este procedimento de
execução. No entanto, na iconografia religiosa da Idade Média, Cristo
aparece pregado pelas palmas das mãos, o que parecia ser a ideia aceite na
altura. Os defensores argumentam que se o sudário fosse uma falsificação
medieval, seria esta a disposição das feridas, uma vez que os detalhes corretos
da crucificação eram desconhecidos então.
Outros testemunhos contemporâneos descrevem as manchas de
sangue da imagem com cores tão vivas que, segundo os relatos, pareciam frescas.
Hoje em dia (passados cerca de 550 anos desses relatos), estas nódoas de sangue
são mortiças e passam despercebidas na primeira análise. Se fossem originárias
do século I, então não seriam mais visíveis na Idade Média, tanto que
hoje já não se vêm. Contudo há que referir que era costume fazerem-se cópias
(decalques) do sudário para catedrais da Europa onde era venerada a
"imagem real de Nosso Senhor. Por outro lado o sudário foi várias
vezes trocado por cópias (decalques) para preservar o original (pois aos fieis
o que impressionava era poder conhecer a figura de Cristo e não tanto admirar a
antiguidade da relíquia). Contudo estes dados vêm levantar dúvidas quanto à
originalidade do sangue, que pode ser original do sudário ou pode ter sido
colocado depois.
Em 2012, o historiador de arte Thomas de Wesselow
apresentou no livro "O sinal - O Santo Sudário e o segredo da
ressurreição" (The Sign: The Shroud of Turin and the Secret of
the Resurrection) novas pistas sobre a autenticidade do Santo Sudário. Sua
teoria se baseia na análise de passagens bíblicas e debates sobre os resultados
obtidos por cientistas, entre eles o teste de Carbono 14 - que o teólogo Joe
Marino e a estudiosa Sue Benford alegaram em 2000 ter sido feito em uma área
remendada do lençol na Idade Média, e não no tecido original. Em sua
interpretação, o Sudário foi a prova fundamental para os apóstolos de Cristo da
sua ressureição - essa teria sido a "aparição" feita por Jesus ao
ressuscitar - e por isso se configura como peça principal do surgimento do
cristianismo e de seu crescimento de fiéis no século.
Em 2009, Luigi Garlaschelli, professor de
química da Universidade de Pávia afirmou ao jornal La Repubblica ter
conseguido produzir em laboratório uma réplica do sudário com a utilização de
técnicas disponíveis na Idade Média. Esta seria uma evidência adicional à
datação da radiação radiométrica, indicando que já existiam na época apontada
pela datação mecanismos para criação do sudário, e portanto nenhuma explicação
paranormal se exigiria. No entanto, de acordo com Giulio Fanti,
reconhecido sindonologista e professor de medições térmicas e mecânicas
na Universidade de Pádua, "a imagem em discussão [obtida por
Garlaschelli] não corresponde às propriedades fundamentais da imagem do
Sudário, em particular ao nível das linhas e fibras, mas também a um nível
macroscópico". Fanti afirma ainda que graças à experiência de
Garlaschelli, foi possível demonstrar como e porquê, graças a
"detalhes" fundamentais, a imagem do Sudário de Turim não é
reproduzível nem na atualidade, e continua sendo um objeto inexplicado.
Em dezembro de 2009, arqueólogos da Universidade
Hebraica reportaram no periódico PloS ONE Journal ter
encontrado fragmentos de um sudário numa tumba da primeira metade do século I,
localizada no vale inferior do Hinnon, ao lado do túmulo de Anás, sogro
de Caifás no cemitério de Haceldama, o "Campo de Sangue"
que teria sido comprado com as 30 moedas recebidas por Judas. Sua
localização sugere que pertencia a uma pessoa de família nobre ou sacerdotal.
Segundo Orit Shamir, especialista em tecidos antigos, o material utilizado para
envolver o corpo é de boa qualidade, condizente com uma pessoa de posses,
embora muito menos elaborado que o tecido do Santo Sudário de Turim.
A idéia de que o corpo de Jesus
Cristo tenha sido envolto em um manto, de acordo com o costume judaico,
não estava apoiada por qualquer evidência arqueológica. No entanto, no
"túmulo do Sudário", foram encontrados indivíduos cobertos no
interior da câmara, confirmando a prática, bem como o caráter definitivo da
preparação mortuária. A análise de traços de material orgânico presentes em
todas as amostras de tecido confirma que estes cobriam todo o corpo. Vestígios
de cabelos também confirmam a prática de cobrir a cabeça do morto.
O Shimon Gibson, um dos autores do artigo "Molecular
Exploration of the First-Century Tomb of the Shroud in Akeldama, Jerusalem",
disse à National Geographic que haviam diferenças na confecção
do sudário encontrado pela sua equipa e o Sudário de Turim, o que foi divulgado
pelos mídia como sendo prova da falsidade do Sudário. Todavia, César Barta,
físico do Centro Espanhol de Sindologia, afirma que "estes dados, ao
contrário, suportam a autenticidade da relíquia de Turim", acrescentando,
ainda, que as diferenças na trama e textura dos tecidos quando comparados
"não são suficientes para que se questione sua autenticidade", até
porque "o tecido que constitui o Sudário de Turim é um exemplar único, não
tendo sido encontrados tecidos similares nem da época de Cristo nem da Idade
Média".
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