quinta-feira, 9 de abril de 2015

AH, ESSA ESTÚPIDA IDEIA DE QUE UM DIA MORREREMOS

 
  
Publicado em recortes por ISRAEL DE SÁ, em obviusmagazine.
 Nos tons esmaecidos dos psicodélicos anos 70, afogado no transe descortinado por livros, rock, Hq's, Kubrick, Cristo e ideias da última década pré-web, nasci.
   
Estamos vivos, temos medo da morte, até em sua menção, então nos entupimos de químicos que nos limpem a mente dessa ideia besta de que um dia morreremos, de que sofremos, de que dormimos com lágrimas sobre o travesseiro. Pois o absurdo em si é a vida, nunca fora a morte


Deixar de ser, aceitar a ideia e a fatalidade da morte, no fim, não é tão trágico quanto aparenta. É preciso debater sobre o que muitos denominam como mórbido. Não era assim no passado. Morrer com honra, deixando um legado de virtudes não era apenas normal, era desejável. Nesse quesito evoluímos? Não, apenas trocamos o caixão rodeado de flores pelas caixinhas de faixa preta. Viver é tentar alçar voo, sempre será. Morrer é tão somente se permitir humildemente ter as asas arrancadas. Mas aqui estamos nós, apesar da vivissecção, ainda ciscando e bicando. Algumas vezes gralhando, mortos mas ainda respirando. Argumentando, divagando, indagando, estranhando. No conforto das mentes conformadas com a existência simples e rotineira. Cogitando o imponderável e descartando o equilibrado, o usual. Pois diferente daqueles que julgam a existência pela ótica do material e concreto, eu percebo o questionamento em si de uma forma absurdamente subjetiva e blindada contra ataques dogmáticos. Será que lá no fundo não pensamos todos assim? Deveríamos.



O cosmo. Nosso mundo. A história de milênios. Os mais de 7 bilhões de humanos. Todas essas e outras grandezas nos mostram nossa insignificância, nosso perecedouro, nossa capacidade de ser e de logo não ser mais. Somos como flor do campo que murcha, seca e morre, como diz a Bíblia, passageiros. Ou como disse Salomão, “apenas uma sombra”. Ao amanhecer somos como crianças a se balançarem num balanço, de cara inocente para a vida, sentindo sua brisa fresca. À tarde, sentados tão cheios de conveniências, como adultos em um jardim qualquer, vemos o sol queimar nossas esperanças, algumas escondidas em bolsos ou amarrotadas em alforjes. Discutimos empedernidos o que era, o que há e o que virá, como se donos do dia que não para de avançar, das sombras a se alongar. Na noite despedida da claridade, perambulamos alquebrados na busca pelo leito mais próximo. Resmungando uns aos outros demências que dantes já foram chamadas de filosofias nos calamos e ditosamente morremos, secos de virtude como cana seca e rachada.


A vida é tão frágil quanto a névoa. Uma névoa que uma lufada de ar aniquila por completo. É como uma folha que despenca do auto de uma árvore sendo levada pelo vento. Em sua curta queda ela se propões filosofias, axiomas, complexos teoremas, aforismos e questionamentos infindáveis, só para enfim tombar seca na areia e servir de adubo para grandes arbustos, que por fim, são o que realmente importam. Novas vidas, um novo ciclo.
Se olharmos a vida não como algo além da imaginação, quase místico, mas como mais um dia de passagem por essa existência, veremos a morte também como um simples ato final no apagar das luzes. Nossos antepassados pensavam assim. Em alguma curva de nossa “evolução” derrapamos e acabamos caindo por aqui. Então façamos assim, vejamos tanto a vida como a morte não mais que dois lados de uma mesma moeda. A vida como um quarto que nos mostra a porta da morte que está ali e que inevitavelmente a vemos todos os dias. Como no experimento mental de Schrödinger, somos meros gatos dentro desta caixa gigantesca chamada vida, vivos e mortos ao mesmo tempo e em tempo nenhum.


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