Publicado
em recortes por ISRAEL DE SÁ, em obviusmagazine.
Nos tons esmaecidos dos psicodélicos
anos 70, afogado no transe descortinado por livros, rock, Hq's, Kubrick, Cristo
e ideias da última década pré-web, nasci.
Estamos vivos, temos medo da morte, até em sua menção, então nos
entupimos de químicos que nos limpem a mente dessa ideia besta de que um dia
morreremos, de que sofremos, de que dormimos com lágrimas sobre o travesseiro.
Pois o absurdo em si é a vida, nunca fora a morte
Deixar de
ser, aceitar a ideia e a fatalidade da morte, no fim, não é tão trágico quanto
aparenta. É preciso debater sobre o que muitos denominam como mórbido. Não era
assim no passado. Morrer com honra, deixando um legado de virtudes não era
apenas normal, era desejável. Nesse quesito evoluímos? Não, apenas trocamos o
caixão rodeado de flores pelas caixinhas de faixa preta. Viver é tentar alçar
voo, sempre será. Morrer é tão somente se permitir humildemente ter as asas
arrancadas. Mas aqui estamos nós, apesar da vivissecção, ainda ciscando e
bicando. Algumas vezes gralhando, mortos mas ainda respirando. Argumentando,
divagando, indagando, estranhando. No conforto das mentes conformadas com a
existência simples e rotineira. Cogitando o imponderável e descartando o
equilibrado, o usual. Pois diferente daqueles que julgam a existência pela
ótica do material e concreto, eu percebo o questionamento em si de uma forma
absurdamente subjetiva e blindada contra ataques dogmáticos. Será que lá no
fundo não pensamos todos assim? Deveríamos.
O cosmo.
Nosso mundo. A história de milênios. Os mais de 7 bilhões de humanos. Todas
essas e outras grandezas nos mostram nossa insignificância, nosso perecedouro,
nossa capacidade de ser e de logo não ser mais. Somos como flor do campo que
murcha, seca e morre, como diz a Bíblia, passageiros. Ou como disse Salomão,
“apenas uma sombra”. Ao amanhecer somos como crianças a se balançarem num
balanço, de cara inocente para a vida, sentindo sua brisa fresca. À tarde,
sentados tão cheios de conveniências, como adultos em um jardim qualquer, vemos
o sol queimar nossas esperanças, algumas escondidas em bolsos ou amarrotadas em
alforjes. Discutimos empedernidos o que era, o que há e o que virá, como se
donos do dia que não para de avançar, das sombras a se alongar. Na noite
despedida da claridade, perambulamos alquebrados na busca pelo leito mais
próximo. Resmungando uns aos outros demências que dantes já foram chamadas de
filosofias nos calamos e ditosamente morremos, secos de virtude como cana seca
e rachada.
A vida é
tão frágil quanto a névoa. Uma névoa que uma lufada de ar aniquila por
completo. É como uma folha que despenca do auto de uma árvore sendo levada pelo
vento. Em sua curta queda ela se propões filosofias, axiomas, complexos
teoremas, aforismos e questionamentos infindáveis, só para enfim tombar seca na
areia e servir de adubo para grandes arbustos, que por fim, são o que realmente
importam. Novas vidas, um novo ciclo.
Se olharmos
a vida não como algo além da imaginação, quase místico, mas como mais um dia de
passagem por essa existência, veremos a morte também como um simples ato final
no apagar das luzes. Nossos antepassados pensavam assim. Em alguma curva de
nossa “evolução” derrapamos e acabamos caindo por aqui. Então façamos assim,
vejamos tanto a vida como a morte não mais que dois lados de uma mesma moeda. A
vida como um quarto que nos mostra a porta da morte que está ali e que
inevitavelmente a vemos todos os dias. Como no experimento mental de
Schrödinger, somos meros gatos dentro desta caixa gigantesca chamada vida,
vivos e mortos ao mesmo tempo e em tempo nenhum.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/sisifo_resenha/2015/04/ah-essa-estupida-ideia-de-que-um-dia-morreremos.html#ixzz3WjKoZBoU
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