As diferenças entre ter 20 e 30 anos.
Publicado em sociedade por Ruh Dias
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RUH
DIAS
Quase trinta anos,
psicóloga de formação, mas escritora de coração. Procuro os detalhes da vida
que passam desapercebidos e as bonitezas que ninguém vê. Faço perguntas
incômodas porque gosto de uma boa reflexão. Não caminho pelos lugares-comuns e,
quando o faço, faço com convicção. Imagino, sonho e penso demais. Falo pouco,
mas quando falo, por favor preste atenção.
Aos 20
anos, qualquer estrada serve. Mesmo que seja esburacada, ou de terra, ou vá de
nada a lugar nenhum. O que vale é a experiência e está tudo bem. Mesmo que o
pneu fure, que a gasolina acabe ou que o destino final mude. Aos 30, já sabemos
qual estrada é a melhor ou, pelo menos, consegue-se perceber quais são as
erradas antes de embarcar em uma. O porta-malas está cheio de bagagem,
calcula-se quantos km se roda com um litro de gasolina, há um mapa no
porta-luvas e pneus novos. Importa, sim, e muito, o destino.
Aos 20
anos, existe uma grande dose de paciência com os próprios erros. Todos dizem
"ainda dá tempo": de mudar de emprego, de trocar de faculdade, de
viajar o mundo, de encontrar um amor ou um rumo. Aos 30, mudar de emprego passa
a considerar variáveis mais numéricas, trocar de carreira e seguir um sonho soa
como uma besteira infantil e, para viajar o mundo, espera-se a baixa do dólar.
Por outro
lado, aos 20, o peso de pertencer a um grupo é maior, os padrões que a
sociedade impõe atormentam e as normativas da família perturbam. Aos 30, se é
mais livre. Nem que seja um pouco. Se a roupa aperta, não importa. Se a decisão
não agrada a todos, não se lamenta. Se não queremos algo que todos querem, e
daí? E vice-versa, tanto faz. A dona de mim sou eu, afinal de contas.
Aos 20, se
a mensagem não chega, se o telefone não toca, se o relacionamento termina, a
vida vai junto e parece o fim do mundo. Não se percebe as lacunas no discurso
dos outros, nem as mentiras, ou as máscaras. Aos 30, desvenda-se mais rápido a
premissa de cada um, a intenção por trás do sorriso e os furos na
personalidade. Não há tempo - muito menos paciência - para conviver com quem é
de mentira. E, se o relacionamento termina, enquanto se chora também se escreve
uma lista do que fazer de diferente da próxima vez.
Aos 20,
colecionam-se colegas que chamamos de amigos. Aos 30, tem-se uma meia dúzias de
amigos e não nos sentimos sozinhos.
Se aos 20
reunimos todo o material que nos construirá, aos 30 estabelecemos residência e
sabemos quem somos. Pelo menos numa parte maior do tempo. E isso é bom.
Não, não
quero casar. Não, não quero ter filhos. E não, não preciso me explicar. Já sou
crescida. Tenho 30.
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