David RobsonDa BBC Future
Em
geral, nós gostamos da ideia de sermos donos de nossas próprias escolhas. Mas
será que somos mesmo?
Jay Olson, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade
McGill, em Montreal, no Canadá, acredita que não. “O que a Psicologia está
descobrindo cada vez mais é que muitas decisões que tomamos são influenciadas
por fatores dos quais não temos consciência”, explica.
Recentemente, Olson desenvolveu um engenhoso experimento que demonstra
como é fácil manipular alguém mesmo com uma persuasão quase imperceptível.
Praticante de truques de mágica desde os 7 anos, Olson notou, quando
começou a estudar Psicologia, que muito do que aprendia sobre a mente humana
casava com aquilo que seu hobby já o tinha ensinado, principalmente no que se
refere à atenção e à memória.
Questão de segundos
O toque e o contato visual são maneiras de fazer
alguém baixar a guarda
Em seu mestrado, ele realizou vários truques com voluntários, mas um em
particular o ajudou a concluir fatos importantes sobre a influência e a
persuasão.
A mágica consiste em rapidamente manipular um baralho na frente de um
voluntário e depois pedir para que ele escolha uma carta qualquer. O
ilusionista, então, tira uma carta idêntica de seu bolso – para a surpresa e
deleite da plateia.
O segredo do mágico é já escolher ele mesmo uma carta e passar alguns
milésimos de segundo a mais com ela na mão enquanto o baralho é manipulado.
Isso influencia o voluntário a pegar justamente aquela carta.
Olson percebeu que conseguiu direcionar 103 de 105 participantes. Mas
foi a segunda parte da experiência que mais surpreendeu o psicólogo. Quando
interrogou os voluntários depois, viu que 92% deles não tinham ideia de que
estavam sendo manipulados e acharam que estavam no total controle de suas
próprias decisões.
O pesquisador também descobriu que aspectos como a personalidade do
voluntário não tinham relação com o quanto ele pode ser influenciado – todos
pareciam igualmente vulneráveis.
Mensagens sutis
Experimento mostrou que clientes compraram mais
vinhos franceses ao ouvir música francesa
As implicações dessa experiência vão muito além do palco e deveriam
servir para reconsiderarmos nossas percepções sobre nossa vontade própria.
Apesar de termos uma grande sensação de liberdade, nossa capacidade de
tomar decisões deliberadas pode ser uma ilusão. “A liberdade de escolha é só um
sentimento – não está ligada à decisão em si”, afirma Olson.
Não acredita nele? Lembre-se quando você for a um restaurante. Segundo
Olson, o cliente tem mais chances de pedir o prato que está no topo ou na parte
de baixo do cardápio porque essas são as áreas que mais atraem o olhar. “Mas se
alguém perguntar o porquê da sua escolha, você dirá que está com vontade de
comer aquilo, sem perceber que o restaurante deu uma forcinha”, diz.
A psicóloga Jennifer McKendrick, da Universidade de Leicester, na
Grã-Bretanha, concluiu, em um estudo, que o simples fato de um supermercado
tocar uma música ambiente francesa ou alemã fazia as pessoas comprarem vinhos
desses países.
Segundo membros da campanha de Al Gore à Presidência dos Estados Unidos
em 2000, seus rivais republicanos faziam a palavra “RATS” (“ratazanas”)
aparecer por milésimos de segundos em anúncios que traziam imagens do
democrata, o que teria espantado muitos de seus eleitores.
O psicólogo Drew Westen, da Emory University, em Atlanta, criou um
candidato fictício e inseriu a suposta mensagem subliminar em seus anúncios,
notando que voluntários o avaliavam negativamente.
Outra experiência mostrou ainda que representantes de vendas por
telefone registraram uma performance melhor apenas por ter visto a foto de um
atleta ganhando uma corrida – mesmo sem se lembrarem dela depois.
Como perceber a manipulação
Fazer uma ideia sua parecer de outra pessoa também
é uma maneira de influenciar
Evidentemente, esse tipo de conhecimento pode ser usado para a coerção
se cair nas mãos erradas. Por isso, é importante saber quando outras pessoas
estão tentando convencê-lo de algo sem que você perceba.
Com base em artigos científicos, aqui estão quatro atitudes
manipuladoras fáceis de identificar:
1 – O poder do toque
Um tapinha nas costas seguido por um contato visual pode levar uma
pessoa a baixar mais a guarda. É uma técnica que Olson usa em seus truques, mas
que pode funcionar no cotidiano.
2 – A velocidade da fala
Olson diz que mágicos sempre tentam apressar seus voluntários para que
eles escolham a primeira coisa que vem à sua mente – em geral a ideia que ele
plantou. Uma vez que a pessoa fez sua opção, o performer passa a falar de
maneira mais relaxada.
Ao se lembrar da experiência, o voluntário tende a pensar que o tempo
todo foi livre para tomar suas próprias decisões, em seu ritmo.
3 – Atenção a seu campo de visão
Ao passar mais tempo manipulando uma determinada carta de baralho, Olson
a torna mais “saliente”, fazendo-a se fixar na mente do voluntário sem que este
perceba.
Há muitas outras maneiras de fazer coisas semelhantes: colocar um objeto
na linha do olhar da outra pessoa ou mover algo ligeiramente mais perto de um
alvo, por exemplo. Pelos mesmos motivos, acabamos escolhendo a primeira coisa
que nos é oferecida.
4 – Algumas perguntas plantam ideias
Quando alguém faz uma sugestão e pergunta aos demais coisas como “Por
que você acha que isso é uma boa ideia?” ou “Na sua opinião, quais as vantagens
disso?”, está, na realidade, deixando os outros se convencerem a respeito de
certas questões por conta própria.
Pode parecer óbvio, mas fazer com que as pessoas reflitam a partir de
ideias embutidas nas perguntas significa que elas ficarão mais confiantes em
tomar decisões de longo prazo – mesmo não tendo sido ideia delas.
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