Ciência
Claudia HammondDa BBC Future
Somos
capazes de passar horas escolhendo a melhor cor para pintar uma sala ou um
quarto de acordo com o astral que queremos para aquele ambiente.
Os consultórios médicos têm paredes brancas para nos dar uma impressão
de limpeza, lanchonetes apostam na vibração do vermelho e do amarelo, e, em
alguns países, as celas de uma prisão são pintadas de rosa na esperança de que
a cor diminua a agressividade dos detentos.
Achamos que sabemos sobre a influência de cada cor sobre nossas emoções.
A ideia de que o vermelho nos mantém em alerta e de que o azul nos acalma está
profundamente arraigada na cultura ocidental – tanto que muitos consideram isso
um fato comprovado. Mas será que as cores são mesmo capazes de modificar o
comportamento?
Se considerarmos as pesquisas científicas existentes sobre o assunto,
vamos descobrir que os resultados são bastante variados e até disputados.
Associação x influência
Quem passou a infância lendo correções em vermelho
tenda a associar cor ao perigo, segundo estudos.
O vermelho é a cor mais analisada e tende a ser comparada com o azul ou
o verde. Alguns estudos revelaram que as pessoas executam melhor tarefas
cognitivas quando cercadas da cor vermelha do que quando expostas ao verde ou
ao azul; mas outras pesquisas revelam exatamente o contrário.
O mecanismo mais citado é o condicionamento: se uma pessoa passa
repetidamente por uma experiência enquanto é cercada por uma cor específica,
começa a associá-la com um determinado sentimento.
Um estudo chegou a mostrar que um indivíduo que passou toda a vida escolar
lendo as anotações em vermelho feitas pelos professores cada vez que cometia um
erro acaba por associar a cor ao perigo.
Já o azul é mais relacionado a situações de tranquilidade, como olhar o
horizonte do mar ou se deliciar com um céu limpo de um dia ensolarado.
Mas, enquanto associações são verdadeiras, a
influência das cores no comportamento é uma questão completamente diferente.
Alerta ou desejo?
Os vários estudos já realizados sobre as cores
muitas vezes se contradizem
Depois de tantos resultados conflitantes entre os diversos estudos
científicos, em 2009 pesquisadores da Universidade da Columbia Britânica, no
Canadá, tentaram esclarecer a questão de uma vez por todas.
Eles pediram para voluntários se sentarem diante de computadores cujas
telas mudaram de azul para vermelho e para uma "cor neutra" e os
testaram em várias tarefas.
Quando trabalharam diante da tela vermelha, as pessoas se saíram melhor
em testes de memória ou correção de texto, que requerem atenção para detalhes,
mas quando a tela se tornou azul, elas tiveram melhores resultados em tarefas
criativas.
Os cientistas especularam se o vermelho sinalizaria "cuidado"
e se por isso os voluntários teriam mais atenciosos, enquanto o azul
incentivaria um comportamento de "aproximação" que os encorajava a
serem mais livres para pensar.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores pediram para os mesmos
voluntários resolverem anagramas de diferentes palavras relacionadas aos dois
comportamentos. Eles pareceram descobrir as palavras de "cuidado"
mais rapidamente com a tela vermelha e as de "aproximação", na tela
azul, sugerindo que as cores e os comportamentos estavam associados em suas
mentes.
De qualquer forma, agora essas descobertas estão sendo contestadas.
Quando o mesmo teste foi aplicado em um grupo maior de voluntários, os
cientistas perceberam que não houve diferença por causa das cores.
Outro estudo, conduzido originalmente por Oliver Genschow, da
Universidade da Basiléia, na Suíça, ofereceu a voluntários um prato de
salgadinhos e os orientou a comer quantos julgassem necessários para poder
avaliar seu sabor.
Novamente, a cor vermelha parece ter servido como um alerta, já que as
pessoas que receberam salgadinhos no prato vermelho se serviram de menos
unidades. Mas outro estudo, nos Estados Unidos, realizou a mesma experiência e
comprovou o contrário, que as pessoas com pratos vermelhos comeram mais.
Prisões cor-de-rosa
Obviamente, estudar o efeito das cores é bem mais difícil do que parece
– ou talvez as cores não tenham o efeito que se esperava.
Mas estamos tão convencidos de que elas têm influência que países como
Estados Unidos, Suíça, Alemanha, Polônia, Áustria e Grã-Bretanha decidiram
pintar algumas celas de suas prisões de rosa.
No ano passado, a equipe de Genschow realizou um teste em uma prisão de
segurança máxima na Suíça. Detentos que foram punidos depois de violar regras
internas foram colocados aleatoriamente em celas totalmente rosa e outras com
paredes cinza e teto branco. Depois de três dias, todos eles se mostravam menos
agressivos do que quando entraram. Ou seja, a cor das paredes não fez diferença
alguma.
Os autores admitem que um estudo mais amplo poderia ter encontrado
diferenças, mas se a cor só muda o comportamento de poucas pessoas, as
autoridades talvez precisem reavaliar se vale a pena o custo de pintar as
celas.
Os pesquisadores questionaram até o fato de as paredes rosa terem um
efeito negativo caso os prisioneiros se sintam emasculados por ter uma cor tão
feminina nas paredes.
Portanto, as cores podem até surtir um efeito, mas até agora esses
resultados têm sido difíceis de comprovar com consistência – ou nem mesmo
existem.
Estudos com melhor controle estão surgindo aos poucos, mas pode levar
algum tempo até que tenhamos uma ideia melhor sobre como as cores nos afetam. E
mais ainda para entendermos os mecanismos exatos pelos quais isso acontece.
Ou seja, por enquanto, a cor das paredes deveria ser uma escolha baseada
inteiramente em gosto pessoal e instinto artístico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário