São Paulo teve 100.000 pessoas, bem abaixo do número registrado no dia
15 de março
As vozes que pedem a saída de Dilma
EL PAÍS
O JORNAL GLOBAL
MARINA ROSSI / MARINA NOVAES / FELIPE
BETIM
São
Paulo / Rio de Janeiro 12 ABR 2015
- 22:29 BRT
Manifestante neste domingo, na
Paulista. / NELSON
ANTOINE (AP)
Os protestos contra o Governo Dilma voltaram à ruas neste domingo,
convocados pelos movimentos contrários ao Governo do PT. Ainda que a quantidade
de participantes tenha sido menor, se comparada aos protestos do dia 15 de
março, a Avenida Paulista, em São Paulo, que liderou as manifestações, recebeu
milhares de pessoas vestidas de verde e amarelo. Segundo a Polícia Militar,
275.000 pessoas foram às ruas na capital paulista. Para o Datafolha, foram
100.000 e para os organizadores, esse número ficou em 800.000. O
protesto ocorreu em pelo menos 200 cidades, segundo o portal G1, e, de acordo
com levantamento da PM, teria levado meio milhão às ruas.
O tom das manifestações desse domingo em São Paulo era mais centrado no
coro pelo ‘Fora Dilma’. Diferentemente do último ato, cujas reivindicações eram
desde a intervenção militar até a prisão de Lula, dessa vez manifestantes e
organizadores pareciam estar mais alinhados com a pauta, e, apesar da
reivindicação, não acreditavam muito na possibilidade real de um impeachment.
“Impeachment não adianta. Quero que o PT todo saia do Governo, algo que teremos
que mostrar nas urnas nas próximas eleições”, disse a dona de casa Ana, que
carregava uma faixa afirmando que Lula rachava o país. Brasília também se
destacou, na parte da manhã, com milhares de manifestantes na Esplanada dos
Ministérios.
Desta vez, ao contrário do que ocorreu após os protestos de março, o
Governo optou por não se manifestar oficialmente. O único a falar foi o
vice-presidente da República, Michel Temer, e durante passagem pelo velório do
ex-senador e ex-ministro Paulo Brossard, em Porto Alegre. Questionado, o novo
articulador político do Governo disse que as manifestações "revelam uma
democracia poderosa" e que o Governo "precisa verificar quais
exatamente são as várias reivindicações e atender a essas reivindicações".
Segundo ele, "é isso que o Governo está fazendo".
Caso Dilma Rousseff perca o mandato, quem assume o comando é
exatamente seu vice, Temer (PMDB). E essa também não é uma alternativa bem
vista pelos manifestantes, que aparentavam uma aversão também ao PMDB. "O
PMDB é uma hiena que se alimenta da carniça que o PT deixa. Não dá para deixar
o Brasil nas mãos deles", disse o arquiteto Dalton Rodrigues dos Santos,
de 54 anos. No ato, havia placas que diziam "Michel Temer não é a
solução" e "Fora PT. E leve o PMDB junto".
Marchando sozinho, o pintor Mauro Célio Cabral Bezerra carregava uma
placa dizendo que veio da "terra do Lula" e disse que nunca votou no
PT. “Eu trabalho pendurado em corda pintando os prédios e hoje vivo só de bico.
Não tem mais emprego", disse o pernambucano, de Garanhuns, que votou em
Aécio Neves nas últimas eleições e é contra o Bolsa Família.
Lideranças do movimento tentaram destacar que o ato
era homogêneo. "Temos aqui a Juliana, que veio de um lugar que muita gente
que está aqui não conhece, que é o Capão Redondo", anunciavam em um carro
de som, exaltando a adesão das classe mais baixas ao movimento. Apesar do
esforço de mostrar o contrário, a maioria das pessoas que estava ali seguia
sendo branca e de classe média.
A lei da terceirização e a que trata da diminuição da maioridade
penal, assuntos que receberam os holofotes nos últimos dias por estarem na
pauta da Câmara, não foram abordados pelos manifestantes. O Congresso Federal
--cujos presidentes Renan Calheiros e Eduardo Cunha, ambos investigados pela
Lava Jato e que goza de baixa popularidade-- também foi poupado.
Carla Zambelli, fundadora do movimento Nas Ruas, disse que as principais
pautas do dia eram a redução de 50% do número de ministérios, a diminuição do
número de partidos, a candidatura independente e o impeachment de Dilma. “Ela
[Dilma] pode sair por improbidade administrativa, por cassação ou ter as
eleições impugnadas, já que as urnas foram fraudadas”, disse Zambelli. “A Dilma
saindo, entra o Temer. O PMDB também é um problema, mas acho que devemos dar a
chance a ele, já que trata-se de um partido que nunca esteve na presidência e,
além disso, não tem conluio com Cuba e a Venezuela”, disse ela, que chegou a
afirmar, no carro de som, que “a gente quer que [José] Dirceu e [José] Genoino
morram e apodreçam na prisão”.
A Avenida Paulista permaneceu fechada para o tráfego de veículos por
toda a tarde. A manifestação ficou paralisada na avenida, que só foi aberta
novamente por volta das 19h. O ato reuniu milhares de pessoas entre as ruas da
Consolação e até a Alameda Campinas. Os seis carros de som dos diferentes movimentos
puxavam os coros como “Ei Dilma, pede pra sair”, “Fora PT”, “1,2,3, Dilma vai
sair”, “Ei, Dilma, vai tomar no cu”. Canções de Cazuza, Legião Urbana e o
clássico Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo
Vandré, hino da esquerda nos anos 70, foram tocados pelos carros -- embora as
pessoas gritassem em coro "nossa bandeira jamais será vermelha" e
inúmeras faixas comparassem a gestão petista com os Governos da Venezuela e de
Cuba.
Manifestantes também queimaram bandeiras do PT. No momento em que uma
delas pegava fogo, militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) pediram
intervenção da Polícia Militar para apagar as chamas. "Quer queimar bandeira
do PT? Legal. Mas a nossa preocupação é com a segurança. Então não vamos fazer
isso, pessoal. Polícia, por favor, veja lá o que aconteceu", disse um
manifestante, ao microfone.
Em outro momento, um integrante do Movimento Brasil Livre anunciou,
sobre o trio elétrico, que havia localizado uma carteira perdida. "Se
fosse protesto dos petistas não achava mais", brincou, ao microfone, sendo
bastante aplaudido.
O juiz Sergio Moro, que comandou a Operação Lava Jato, foi lembrado
como herói e recebeu agradecimentos estampados em placas.
"Obrigado por cuidar do nosso país, Moro", dizia uma delas. A
manifestação foi pacífica, sem confrontos com a Polícia Militar. Muitos
policiais, inclusive, apareciam novamente em selfies e em
fotos tiradas pelos manifestantes.
Em discussão na Câmara, o projeto de reforma política foi pouco lembrado
pelos manifestantes, com poucas exceções, como a aposentada Nazareth
Fairbanks, 74 anos, que carregava dois cartazes: um pelo voto distrital e outro
pelo voto em lista fechada. "E a reforma política é um assunto esquecido,
pela imprensa e pelos manifestantes".
Rio de
Janeiro
No Rio, o grito “Fora Dilma, Fora PT” invadiu mais uma vez a praia
de Copacabana na manhã deste domingo. A maioria exigia o impeachment da
presidenta devido aos recentes escândalos de corrupção, principalmente o que
atingiu a Petrobras. Outros, em menor quantidade, pediam uma intervenção
militar. Mas todos, independente das bandeiras que defendiam, queriam
demonstrar sua indignação com a classe política e pedir mais ética.
No entanto, o movimento que vem se articulando contra o governo -
liderado por grupos como Vem Pra Rua ou Movimento Brasil Livre
(MBL) - começa a dar os primeiros sinais de esgotamento. Ao contrário da
manifestação do último dia 15 de março, quando 25.000 pessoas se reuniram no
mesmo lugar no Rio de Janeiro (segundo a Polícia Militar), desta vez estiveram
presentes cerca de 10.000.
Além disso, os organizadores marcaram dois horários distintos para o ato
deste domingo: dois carros de som, um do Vem Pra Rua e outro do Cariocas
Direitos, saíram do posto 5 da Avenida Atlântica às 11h da manhã e caminharam
pouco mais de um quilômetro até a altura da rua Figueiredo de Magalhães; quando
lá chegaram, por volta das 14h, a maioria dos manifestantes se dispersou, mas
outro carro de som, do MBL, chegou ao local e reiniciou o protesto. Lá permaneceram
durante algumas horas mais.
Fora esses fatos, o ato deste domingo seguiu o mesmo roteiro do
anterior: a maioria vestia camisetas verdes ou amarelas, levava cartazes com
mensagens de repúdio ao governo e ao PT ou bandeiras do Brasil; cantavam o hino
nacional, pediam uma salva de palmas para a Polícia Militar e diziam que a
bandeira do Brasil “jamais será vermelha”.
“Os últimos
12 anos foram dedicados a destruir o Brasil, a roubar. Enquanto isso, temos um
hospital universitário caindo aos pedaços, uma educação que é uma vergonha…”,
opinou o humorista Marcelo Madureira do alto do carro de som do Vem Pra Rua.
“Lula ladrão, é o pai do petrolão!”, gritou um organizador ao seu lado. “Não
somos golpistas, queremos ser tratados com o mínimo de dignidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário