Crônica
J.C. Teixeira Gomes,
o “pena de aço” do
jornalismo brasileiro
Acabo de ler o livro “Tudo o que vi e
vivi” (Rio, Leya, 2014), de Rosane Malta, ex-Collor, expondo sua vida ao lado
do ex-presidente, deposto por corrupção. Rosane, que presidiu a Legião
Brasileira de Assistência, foi denunciada pelo Tribunal de Contas da União por
superfaturamento em obras em Alagoas e outros estados, juntamente com
familiares. Segundo noticiou A TARDE em 30 de outubro de 1993, contra ela o TCU
fez a espantosa denúncia de ter lucrado com a venda, acima do preço, de caixões
de defunto infantis e de adultos na casa funerária Nossa Senhora da Guia. No
seu livro, ela omite esse inacreditável episódio.
O governo Collor foi um período deprimente da vida nacional. Arrogante e
despreparado para o poder, ele tentou mantê-lo patrocinando bruxarias e
mandando matar macacos, bodes e galinhas com mães de santo, conforme revela a
autora. Sua ascensão política veio da ajuda da direita e da Rede Globo,
obstinadas na tarefa de combater o PT e Lula, numa época em que pareciam
comprometidos com a decência e os interesses do povo.
A Globo transformou Collor em Príncipe Valente, Lula virou o vilão
barbudo e feio, que assustava empresários. Com as maquinações de marqueteiros
mistificadores como Duda Mendonça, Collor virou o “caçador de marajás”, logo
ele que, no poder, assaltaria os cofres públicos com a ajuda do seu íntimo
parceiro de negociatas, Paulo Cesar Farias, depois assassinado. O dado mais
danoso desse período de trevas foi o confisco da poupança dos brasileiros pelo
presidente irresponsável, que tinha ao lado uma economista tresloucada, Zélia
Cardoso, que, em pleno governo, se tornou amante de um ministro casado, seu
colega Bernardo. Toda essa fase de
insânias está no livro, escrito como obra de vingança, pois Rosane não se
conforma com a pensão que diz ter obtido de Collor após a separação.
Juntos, mesmo depois do “impeachment”, viveram com regalias de nababos ,
como ela própria revela, contando os carros de luxo, as joias, os objetos de
valor que recebia de presente, numa cornucópia de prazeres e viagens de que
poucos milionários poderiam jactar-se no mundo.
Embora Rosane jamais confesse claramente que testemunhou a roubalheira
de Collor com o apoio do seu íntimo tesoureiro PC Farias, preferindo alegar que
tinha “dúvidas” quanto à origem de toda aquela dinheirama, ela mesma admite
que, sobretudo depois da deposição, Collor não poderia continuar mantendo o
padrão de vida que ostenta até hoje. Entre os bens caríssimos constantes do
patrimônio do ex-marido, ela inclui os automóveis Porsche, Ferrari e Maserati.
Lembremos que o ex-miliardário Eike Batista, dos três, só tinha o primeiro.
Outro lance: tão rico estava Collor após a presidência que, certa feita, ao
querer levar um grupo de pessoas para uma das estações de esqui que costumava
frequentar, fretou, simultaneamente, dois jatinhos, um só não bastava!
De onde vinha tanto dinheiro? Que dúvida pode haver de que a procedência
era a parceria Collor-PC Farias? Recorda Rosane que ambos eram associados em
contas bancárias na Suíça, das quais também participou Augusto, irmão de PC,
após a morte deste último, assassinado supostamente como queima de arquivo.
Durante o governo, o botim teria cabido na proporção de 70 por cento para
Collor e 30 por cento para PC Farias. Dado relevante: a própria Rosane afirma
que as empresas de comunicação da família Collor em Alagoas, uma rádio, um
jornal e uma retransmissora da Rede Globo, não poderiam sustentar as mordomias
em que tem transcorrido a vida do ex-presidente.
Meu espaço acabou, mas antecipo que voltarei ao assunto, narrando para
os leitores em próximo artigo as bruxarias de Collor, com seus bodes, macacos e
galinhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário