Colaboração
de Fernando Alcoforado*
A
presidente Dilma Rousseff estava se defrontando com duas grandes ameaças à sua
permanência
no poder: 1) sua relação deteriorada com o Congresso Nacional, especialmente
com lideranças do PMDB seu aliado de maior força no parlamento; e, 2) a repulsa
da grande maioria da população brasileira contra seu governo, o PT, o sistema político
existente no País e a má qualidade dos serviços públicos em geral evidenciada nas
pesquisas Data Folha e Ibope, bem como nas manifestações de rua de 15 de março
e 12 de abril.
Diante da
incapacidade do governo Dilma Rousseff de solucionar os problemas econômicos
do Brasil e de atender as crescentes demandas da sociedade brasileira que se
expressam nas amplas manifestações de rua, ela tomou a decisão de melhorar seu relacionamento
com o Congresso Nacional capitulando diante do PMDB a quem entregou a
responsabilidade pela articulação política do governo que foi assumida pelo Vice-presidente
Michel Temer.
A
capitulação de Dilma Rousseff em relação ao PMDB se adiciona à sua anterior capitulação
diante do capital financeiro nacional e internacional ao nomear Joaquim Levy como
ministro da Fazenda e ao adotar uma política econômica recessiva da qual resultará
inevitavelmente maior queda no crescimento econômico e aumento dos níveis de
desemprego no Brasil. Esta foi a fórmula encontrada por Dilma Rousseff para se manter
a todo o custo na Presidência da República mesmo com seu poder extremamente fragilizado.
Cabe
observar que Governabilidade expressa a possibilidade do governo de uma nação realizar
políticas públicas resultantes da convergência entre as várias instâncias do Estado
nacional entre si e deste com a Sociedade Civil. Dificilmente o governo Dilma Rousseff
terá êxito na construção da convergência com Estados, Municípios e a Sociedade
Civil devido à insatisfação reinante e à limitação dos recursos para atender suas
demandas.
O governo
Dilma Rousseff não terá sucesso no exercício da Governança que está relacionada
com a capacidade financeira e administrativa do governo de um Estado nacional e
a competência de seus gestores de praticar políticas públicas ou, em outras palavras,
a capacidade de o Estado nacional exercitar seu governo abarcando a capacidade
de executar políticas e a eficácia de atingir os resultados de interesse da coletividade.
Sem condições de Governabilidade é impossível uma adequada Governança
por parte do governo Dilma Rousseff.
A
Legitimidade do governo Dilma Rousseff foi obtida nas urnas, mas não é
suficiente para obter
a estabilidade política e assegurar sua permanência no poder. A Legitimidade depende
diretamente da Governança efetiva, isto é, dos resultados da ação governamental
no cumprimento de suas diferentes funções no atendimento das demandas
da sociedade que o governo Dilma Rousseff dificilmente terá condições de atender. A
Legitimidade obtida por Dilma Rousseff nas urnas está sendo perdida com a
ineficácia
do governo em atingir os resultados de interesse da coletividade.
A crise de
Governança no Brasil atual se materializa na prática com a vertiginosa queda nos
índices de confiança da população brasileira no governo. No plano federal, a desarticulação
do governo com sua base de apoio no parlamento, o seu desencontro com os
movimentos sociais e os erros da política econômica que agravaram ainda mais a crise
que se abate sobre a economia brasileira complementam esse quadro de um governo,
como o de Dilma Rousseff, que não consegue operar com competência uma ação
política e administrativa com vistas a produzir resultados satisfatórios em
benefício da grande maioria da população.
Quando há
o crescimento das demandas sociais projetadas em protestos de rua que coincidem
com a falência da capacidade dos governos de dar respostas adequadas, as crises de
governança tendem a se transformar em crise de governabilidade. Este é o caso do
Brasil dada a incapacidade do governo federal de dar resposta às demandas
sociais no curto prazo. A pressão popular por serviços públicos de qualidade,
redução dos preços das tarifas de eletricidade e dos combustíveis e a baixa
capacidade de investimento
do setor público geram uma situação difícil de oferecer respostas em curto ou
médio prazo.
Diante de
sua crescente fragilidade política, a presidente Dilma Rousseff não consegue emitir
sinais positivos que apontem para a mudança de rumos no futuro próximo para o Brasil.
Apesar de ter assumido o segundo mandato recentemente, Dilma Rousseff parece
estar no final de seu governo. Ao invés de propor um plano nacional desenvolvimentista
diametralmente oposto ao modelo neoliberal que devastou a economia
brasileira com um pífio crescimento econômico, a desindustrialização do país e
a desnacionalização da economia brasileira, Dilma Rousseff decidiu se dobrar
aos ditames do capital financeiro nacional e internacional.
Todo este
conjunto de fatores pode contribuir para que haja o crescimento do movimento
pelo impeachment de Dilma Rousseff e também de Michel Temer, seu novo articulador
político, que ligou seu futuro político ao da presidente da República. Em outras
palavras, ambos terão o mesmo destino. Resta aguardar até quando Dilma Rousseff
conseguirá sobreviver com o aprofundamento da crise econômica, às pressões da
Sociedade Civil com as manifestações de rua mesmo contando com o apoio político
do PMDB.
As
pesquisas de opinião do Data Folha e do Ibope e as manifestações de 15 de março
e a recente
de 12 de abril contra o governo Dilma Rousseff mostram que o divórcio entre o
governo Dilma Rousseff e a grande maioria da população se ampliou ainda mais tornando
cada vez mais problemático a atual presidente da República se manter no poder
mesmo com as ações que levaram à sua capitulação diante do PMDB. A tentativa de
estreitar os laços do governo com o PMDB não será suficiente para Dilma
Rousseff se manter no poder porque as manifestações de rua não cessarão
enquanto não houver o atendimento das demandas da população que, entre outras
medidas, exigem o impeachment de seu mandato ou sua renúncia.
O Brasil
está diante de um problema político-institucional de difícil solução porque quem
governa (Dilma Rousseff) não pode governar como antes e quem é governado (a maioria da
população brasileira) não aceita ser governado como antes. A piora da situação
econômica do Brasil e a incapacidade do governo Dilma Rousseff de superar a crise e
governar em sintonia com a vontade da maioria da população faz com que esta situação
seja levada a um gigantesco impasse entre o Estado e a Sociedade Civil que só será resolvida
em última instância com uma intervenção militar como propõem alguns ou com o
impeachment ou a renúncia de Dilma Rousseff.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de
Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora
Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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