Por
Consuelo
Pondé de Sena
Concluído o curso ginasial no D. Anfrísia, que não havia ainda instalado
o colegial, tive, por imposição paterna, matricular-me nas Mercês, porquanto,
meu pai não desejava, nem permitia, que eu fosse estudar no Colégio Central,
povoado de irrequietos rapazes.
Lúcia, minha irmã, não recebia qualquer tipo de censura. Era, sim, um
modelo de discrição, bom comportamento e aplicação aos estudos.
Por esse motivo, lá fui eu para um colégio de madres ursulinas, muitas
delas francesas ou de língua francesa. Confesso que não me importei com a troca
estratégica da minha família. Sabia que, longe dos rapazes, ficaria ao abrigo
de mentiras e más interpretações.
O Colégio Nossa Senhora das Mercês desfrutava, então, de grande
prestígio educacional e social.
Frequentado pelas moças da alta sociedade, era um espaço privilegiado de
acolhimento da grã-finagem da Barra, Graça, Canela e outros bairros mais
chiques, dos hoje denominados vips ou socialites.
Claro que morando do outro lado da cidade, sempre em Nazaré e, naquele
momento, na Ladeira do Arco, ficasse um pouco “constrangida” em conviver com
essas das moradoras das áreas nobres de Salvador.
Talvez, seja interessante informar que, os chiques, consideram os
demais, fora do seu circuito, verdadeiros “índios”, forma de discriminar quem
não morava por aquelas bandas. Mas, pouco me importei com esse “bulling”. Era
muito disposta, topava discussão e não me importava com o desdém das
“deslumbradas”.
Tanto isso é verdadeiro que minha fama de desabrida já me acompanhava
desde D. Anfrísia. Lembro-me que algumas meninas das Mercês vinham até a minha
sala, de primeiro ano colegial, para saber quem eu era. Parece que estou vendo
Maria David de Azevedo chegar à porta da sala em que me encontrava e indagar
quem era a “maluquinha” Consuelo Montanha Pondé, cuja fama de traquina corria
longe. Tenho absoluta certeza de que fiquei muito orgulhosa por ter sido logo
destacada, embora não fosse lá de muito estudo. Preferia criar um monte de
coisas e repassá-las para as meninas atônitas diante de tantas informações. Era
muito grande o poder da minha imaginação e até hoje “driblo” muita gente,
contando coisas inverossímeis. O pior é que muita gente acredita.
Mas entre minhas colegas daquele tempo, 1950 a 52, havia algumas
brilhantes. No Clássico, a que eu integrava, estava a “estrela maior”, Zilma
Gomes Parente, recém chegada de Niterói. Uma inteligência e um preparo raros,
que ela jamais economizou para ajudar as companheiras mais fracas. Até hoje,
comove-me a sua simplicidade genuína e seu desapego em repartir o que sabe.
Para mim, é um paradigma de mulher completa. Educada, gentil, prestimosa,
amiga.
No científico, pontuava Sônia de Coni Campos, que saiu do colégio pouco
tempo depois para casar-se, garota ainda, com Fernando Wilson Magalhães, com
quem teve seis filhos homens, todos vitoriosos. Cumprida sua missão de mãe de
família, voltou aos estudos e hoje é psicanalista de sucesso.
Fiz excelentes amigas nas Mercês. Branca Maciel Hortélio, amiga irmã,
também não primava pela aplicação. Era muito revoltada por ser aluna do
internato, não fazendo boas referências ao que sofreu das freiras. Aurora
Sarno, Maria José Peixoto (Zezé), Mona Harfush, Thereza Perazzo, Florentina
Silva Santos, Léa Sarno, Therezinha Magalhães Cordeiro, Nadja Cruz Andrade, Mab
Gomes Costa, Thereza Parga, Alzira Moreira, Maria José Freire de Carvalho,
Wanda Dias e outras tantas que não me recordo no momento, faziam parte de dois
cursos distintos, Clássico e Científico, reunidos apenas em determinadas aulas.
Bem, no momento, é o que posso recompor, só puxando pela memória para
lembrar outros nomes.
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