Fernando Holiday também é contra cotas raciais. / DIVULGAÇÃO
Negro e morador da periferia de SP, Fernando Silva é expoente da
estratégia do grupo de buscar adesão com frases fortes em vídeos
Jornal EL PAÍS
O JORNAL GLOBAL
Fernando
Silva, 18, conhecido como Fernando Holiday, é a favor da redução da maioridade
penal (“só haverá justiça quando expurgarem do nosso meio esses
criminosos”),quer o impeachment de Dilma Rousseff (“o dólar já está mais
caro do que puta no Haiti, e a inflação maior que meu pau”), e critica o Dia da
Consciência Negra (“É o mesmo que um dia da consciência branca para homenagear
Hitler”). Morador de Carapicuíba, na periferia de São Paulo, ele se intitula “negro, pobre e honesto”,
e integra a coordenação nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos grupos
que organizam protestos contra o Governo. As frases acima foram retiradas
de vídeos dele postados na Internet e são típicas do estilo do grupo, cheios de
frases de efeito feitas sob medida para polemizar e gerar adesão.
“Eu acho
que é uma comparação cabível [entre Zumbi e Hitler]. Usei esse exemplo pra
chocar, fazer com que as pessoas reflitam: ‘Por que ele está fazendo uma
comparação dessa?’”, afirmou Holiday ao EL PAÍS. Segundo o jovem, as escolas públicas – nas quais ele mesmo estudou –
colocam Zumbi como um herói da causa negra, mas ignoram o fato de que "ele
torturava negros e tinha escravos". “Não se pode negar a importância
da figura dele para a história, mas uma importância negativa”, diz.
O jovem,
que diz ser parado pela polícia com alguma frequência mas garante nunca ter
sido agredido nas abordagens, acredita que a violência policial que assola as
periferias do país é culpa do Governo inchado. “O Estado, por ficar focado
em negociatas e administrar áreas que não deveria, deixa a saúde, a educação e
a segurança de lado”, afirma. “O resultado é uma polícia despreparada e que não
é valorizada”.
Ele diz que o MBL se opõe à desmilitarização da
Polícia Militar, “até
porque os criminosos estão armados de uma forma absurda, seria covarde colocar
a polícia para enfrentá-los dessa forma”. Os projetos de desmilitarização
da PM defendidos por especialistas não tem relação com uma eventual redução do
poder de fogo e enfrentamento da corporação, mas sim uma maior integração entre
as forças e a reestruturação da carreira. “Somos contra o desarmamento”, diz
ele. O Estatuto do Desarmamento, aprovado pelo então presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, restringiu drasticamente o porte de armas, e é uma política
pública defendida pela ONU, que, segundo pesquisas, reduziu o número de
homicídios no país. Para os liberais, trata-se de uma intromissão indevida do
Estado numa matéria que deveria ser privada.
Segundo Holiday, a crise de popularidade da
presidente Dilma Rousseff, que atingiu recordes históricos de rejeição em
pesquisas de diversos institutos, facilita a disseminação do ideário liberal
nas periferias. “A grande parte dos jovens daqui [Carapicuíba]
são levados para o caminho da esquerda em geral, até por culpa da formação que
recebem na escola. Mas, atualmente, com a crise política e econômica, fica mais
fácil dialogar sobre liberalismo com eles”, afirma.
No entanto,
ainda há uma “predisposição à presença do Estado” nas periferias. “Como os
pobres sofrem com a carga tributária e com o peso do Estado, eles pedem de
volta. E o PT oferece algo, mesmo que de qualidade ruim, por meio de bolsas e
outros programas sociais.” A solução, segundo Holiday, é fazer um trabalho de
base para “que as pessoas tenham consciência que estão onde estão devido à
burocracia estatal e aos tributos altos”.
Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL. / DIVULGAÇÃO
Holiday não é o único integrante do MBL a se envolver em polêmicas. Após
ser chamado de “analfabeto político” pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)
durante o programa Havana Connection, do UOL, Kim Kataguiri, outra jovem
liderança do grupo, reagiu, e desafiou o congressista para um debate político.
Em um vídeo postado
em uma das páginas do MBL, Kataguiri afirma que o único projeto de lei aprovado
pelo parlamentar foi “o dia nacional do teatro acessível”. “Que moral tem um deputado que diz defender
os negros e gays e idolatra Che Guevara?”, questiona o jovem, que em seguida
afirma que Wyllys seria fuzilado apenas por ser gay na Revolução Cubana.
Kataguri também
criticou o deputado por querer aprovar uma lei que institui o ensino do
islamismo nas escolas, uma religião que, segundo ele, “prega o apedrejamento de
mulheres e a morte de intelectuais”. De acordo com o site do deputado, o PL
1780/2011 “nada tem a ver com o ensino do Islamismo, ou seja, a religião
islâmica, mas com a inclusão nos conteúdos da grade curricular da literatura, a
arte, a história e outras informações a respeito desses povos”.
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