sexta-feira, 24 de abril de 2015

NO TABULEIRO DA BAIANA TEM...

 

 Acarajé, Abará, Vatapá, Camarões (secos e naturais), molho de pimenta Malagueta, Bolinhos de Estudante, vulgarmente conhecidos como ‘Punheta’, doce de Tamarindo, Cocadas brancas e pretas, Amoda, e outros sonhos gastronômicos inimagináveis. Tudo originado da gastronomia africana
  

  
Além de sabedoria ancestral, no tabuleiro da baiana tem montes de bolinho de feijão fradinho frito no dendê e recheado com vatapá, camarão seco, pimenta malagueta e saladinha de tomate, cebola e coentro. O acarajé foi inscrito em 2005 no Livro dos Saberes do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como Patrimônio Imaterial Brasileiro – mais um! E não é somente a receita que é tombada. O ofício das baianas do acarajé, que preparam e vendem o quitute em tabuleiros pelas ruas, também está cravado na história.



Faz todo o sentido. A personagem soteropolitana representa tanto a formação culinária da Bahia(a venda de quitutes em tabuleiro vem dos tempos coloniais) quanto o forte sincretismo do Estado, que navega harmoniosamente entre sagrado e o profano. Elas têm figurino próprio e tradicional, que identifica o candomblé a que pertencem. São roupas brancas compostas basicamente por saias engomadas (axó), bata enfeitada de renda, ojá (turbante), contas de seus orixás e panos usados sobre os ombros.



Na começo de tudo, ser “baiana de acarajé” em Salvador era privilégio das filhas de Iansã, deusa africana dos ventos e tempestades. Hoje, milhares de vendedoras preparam o quitute mais famoso do Estado, avermelhado por fora e de interior branquinho. A graça reside não só em comer o bolinho nas barracas, mas em vê-los serem fritos ali na hora.
A receita é a própria representação do multiculturalismo da Bahia. O feijão fradinho (ou de corda), por exemplo, do qual se faz a massa, é uma das leguminosas mais importantes da cultura das regiões Norte e Nordeste. Possui grãos médios, cor branca acinzentada, com um “olho” que apresenta uma manchinha negra e facilita sua identificação. Seu sabor é delicado e faz lembrar amêndoas.

Foto: Getty Images Ampliar
Baiana fritando o acarajé no azeite de dendê é cena comum nas ruas de Salvador


Muito importante no recheio do acarajé, o vatapá mistura ingredientes brasileiros, asiáticos e mediterrâneos. Leva farinha de mandioca ou de pão, cebola, alho, coentro, camarão seco, gengibre, leite de coco, castanha de caju e amendoim moídos. O bolinho é frito em azeite de dendê -- óleo extraído do fruto do dendezeiro, tão importante na cozinha afro-baiana, originário da Costa Ocidental da África (Golfo da Guiné), e muito usado na culinária de Angola.
Os acarajés mais disputados de Salvador são os da Dinha, no bairro do Rio Vermelho, o da Regina, na Graça, e o da Cira, em Itapuã. Toda vez que vou para lá sou contagiada pelo alto astral do povo baiano, e por sua rica cultura. Adoro as festas religiosas, as rodas de capoeira, a beleza arquitetônica e até o axé. Mas, como gastronomia é a minha paixão, guio-me pelas ruas pelo aroma do dendê, que perfuma toda a cidade e me leva às barraquinhas de quitutes. Sempre ao som dos pregões típicos, que também dão a direção: “i abará, ô abará, acarajé, acarajé”.

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