Publicado em musica por Clarice
Amélia
em obviusmagazine
Brasileira, mineirinha e artista (bailarina contemporânea,
musicista e atriz em tempo integral). Alimenta a fotografia e astronomia como
hobbies. Vê sociologia em tudo. Ideológica e misteriosa. Ama um bom café. Fim.
Vinicius de Moraes (1913-1980), em sua trajetória, também ficou
conhecido como “poetinha” e estabeleceu-se como “o amante exagerado” em suas
músicas e poesias. Exibiu uma estética existencialista filosófica, em que o
presente se faz intenso. O amor é consagrado, mas não de forma simples e
métrica. O abstrato se torna, então, complexo e vivenciado.
A música
popular e a literatura brasileira contaram com a admirável obra de Vinicius de
Moraes. Sua carreira artística foi dividida entre música, poesia e dramaturgia,
tendo uma mistura inevitável.
Na
literatura, Vinícius foi mestre dos sonetos, com o seu estilo romântico. Escreveu
praticamente o quadro geral do amor, sendo o que dá sentido à existência e não
figura na mortalidade dos homens. Vê-se tal sentimento descrito por ele,
portanto, como algo divino, misterioso, eterno e único.
A carreira
musical foi iniciada em meados da década de 50, quando conheceu o maestro Tom
Jobim (a grande parceria de Moraes). Viveu a “Bossa Nova” e se tornou um dos
maiores nomes deste período. Na década seguinte, outro período áureo na MPB o
marcou junto a suas parcerias.
Moraes
interpreta as mais variadas fórmulas de amar e demonstra exagero no ato,
tendo-o como base da existência. Não esconde a dor latente da saudade (para
ele, um dos complementos da alma) e a vê com um olhar mórbido: “Sem você, meu
amor/ eu não sou ninguém."
Avassalador
e hiperbólico, o amor é o maior e mais forte, capaz de atravessar as marcas
temporais e mundanas. Porém, altamente frágil e sensível, intenso: “posto que é
chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”(Soneto da Fidelidade, outubro de
1939). Toma a imortalidade de uma duração. Daí a intensidade que permanece na
eternidade de um finito.
O
compositor buscou sempre revelar a profundidade do seu íntimo. Tentou
transformar o peso grandioso de se sensibilizar sem medidas em algo mais leve,
estéreo, sabendo controlar e equilibrar o mundo das palavras com seu
sentimentalismo exagerado. Cria-se em toda a sua obra, um ciclo sobre o
"amar" e suas consequências: paixão, saudade, dor, lembrança,
chegadas e partidas, etc.
Amar ao
ponto de não saber se o que sente é certo de se sentir. Porém, continuar
sentindo cada vez mais. “E de te amar assim, muito e amiúde/ É que um dia em
teu corpo, de repente/ Hei de morrer de amar mais do que pude.” (Soneto do amor
total, 1951). Usa-se uma concepção existencialista que está nas discussões da
filosofia moral do século XX: “Quem não ama, não vive. Mas amar demais é ir de
encontro à morte. Para amar é preciso ser, mas para ser é preciso, antes de
tudo, amar.” – filósofo francês Vladimir Jankélévitch.
A essência
da vida: Para o "poetinha", Cada indivíduo é mortal e não consegue
sustentar a infinidade do ato de amar. A dramaticidade do compositor se baseia
nessa experiência: a dor do exagero, substancialmente implantada na poesia e
música com certo cuidado, tendo toda suavidade necessária.
Pode-se
entender que as expressões de Vinicius também tiveram seu lado carnal, não
recatado e que esse também era existencialista. O sentir na pele, para Moraes,
teve sua devida importância.
De todo
modo, o sentimento pulsa no corpo de suas composições, tornando o
poeta/compositor, intimista e, ao mesmo tempo, revelador das ideias
subentendidas, escondidas no mais poderoso sentimento que circunda tudo o que
se entende como concreto. Além de acreditar-se na plenitude existencialista que
contorna a alma do ser, voltando-a para sua origem e essência: o ato de,
verdadeiramente, amar.
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